Fundos do mercado monetário. São melhores soluções de baixo risco?
Por David Almas a 1 de novembro de 2025
Ao contrário do que alguns leitores possam pensar, não é a recomendação de instrumentos mais agressivos, como fundos mistos e fundos de ações, que mais me preocupa em antecipação ao artigo “Onde investir em 2026”, que planeio publicar no próximo mês de janeiro. São os instrumentos mais conservadores.
Tenho pensado na situação de muitos subscritores do boletim tlim que precisam de amealhar as suas poupanças durante alguns meses ou poucos anos: alguém que planeia comprar uma casa no próximo biénio, um aforrador que quer oferecer um automóvel novo à filha quando tiver a carta nos próximos meses ou um consumidor que necessita de manter alguns milhares de euros à mão para financiar o seu quotidiano.
As contas de poupança e os depósitos a prazo são as sugestões mais frequentes. Não abdico de continuar a recomendar Certificados de Aforro. Alguns leitores do boletim tlim insistem agora nos fundos do mercado monetário. Há quem invista em planos de poupança-reforma durante a anuidade promocional.
Vejamos detalhadamente estas opções. Quais sobreviverão até ao “Onde investir em 2026”?
À caça de depósitos a prazo
Há um grave problema nos depósitos a prazo: os bancos mais generosos não o são durante muito tempo. Em 2019, quando lancei o boletim tlim, era o Banco Invest que pagava mais. Dois anos depois, era o BAI Europa que remunerava melhor numa aplicação a 12 meses. Em 2023, o BNI Europa liderava. Em janeiro passado, sugeri o Bison Bank.
É cansativo carregar com o dinheiro de banco para banco, especialmente tendo em conta que os rendimentos não são grandiosos.
Quanto teria rendido uma poupança em sucessivos depósitos a prazo nos últimos 5 anos? Cerca de 0,83% por ano, após descontar uma tributação de 28% sobre os juros. E nos últimos 10 anos? Uns magros 0,50% por ano, assumindo as estatísticas publicadas pelo Banco de Portugal até 30 de setembro de 2025.
Os números anteriores são, porém, médias; acredito que os subscritores do boletim tlim conseguem melhor. Se pensar que alcançaram o equivalente à taxa diretora do Banco Central Europeu na facilidade permanente de depósito — como o Trade Republic Bank paga agora —, a sua rentabilidade anual líquida teria sido de 1,33% por ano no último quinquénio. Na última década, somariam 0,66% por ano, assumindo que, quando as taxas de juro eram negativas, não tinham remuneração.
Os fundos do mercado monetário não são garantidos por um sistema independente, como os fundos de garantia de depósitos asseguram até 100 mil euros por depositante em cada banco da Zona Euro. São, porém, muito estáveis, porque a legislação que têm de cumprir assim os obriga.
As carteiras destes fundos são compostas normalmente por obrigações de alta qualidade que se vencem nos próximos 12 meses (bilhetes dos tesouros e papéis comerciais) e por depósitos bancários e certificados de depósito até 12 meses. Pelas regras comunitárias, os gestores dos fundos do mercado monetário não podem investir em instrumentos que se vencem além de 397 dias, o equivalente a cerca de 1 ano e 1 mês. Podem, porém, recorrer ao mercado de derivados, desde que o objetivo seja estabilizar os retornos ou procurar remunerar os subscritores com uma taxa equivalente às do mercado monetário.
O IMGA Money Market A, por exemplo, um dos fundos portugueses mais rentáveis neste segmento, tinha recentemente aplicações em papéis da Galp Energia, do UBS e do Deutsche Bank, bem como depósitos a prazo no Indosuez, uma unidade do francês Crédit Agricole, e no Banco Montepio, entre muitas outras coisas. Há pouco tempo, o Pictet Short-Term Money Market EUR R, um dos produtos estrangeiros comercializados em Portugal com mais retorno recente, detinha certificados de depósito no belga KBC Bank e vários acordos de recompra, um tipo de produto derivado.
Além da estabilidade da rentabilidade, a grande vantagem dos fundos do mercado monetário é a rapidez de resgate. Os subscritores dos fundos do mercado monetário da IMGA e da Pictet recebem o reembolso das suas unidades no dia seguinte ao pedido de resgate, desde que o façam cedo.
Os clientes do Banco Best, por exemplo, têm de fazer o pedido de resgate até às 9 horas de Portugal continental para sacarem o dinheiro do Pictet Short-Term Money Market EUR R no dia útil seguinte. Os pedidos sobre o IMGA Money Market realizados pelos clientes do ActivoBank e do Millennium bcp até às 17 horas são satisfeitos no dia útil seguinte.
O resgate pode ser feito em qualquer altura; não há perda de juros corridos, como na maioria dos depósitos a prazo. Será, todavia, que os retornos estão à altura da alternativa?
Mercado monetário fracote Estas rentabilidades assumem a tributação das mais-valias à taxa de 28%. Os retornos são os válidos a 30 de setembro de 2025. Numa escala de 1 a 7, estes fundos são classificados no intervalo de risco mais baixo.
Fundo
Rentabilidade anualizada líquida
Depositário
5 anos
10 anos
IMGA Money Market A
1,00%
0,50%
BCP
Pictet Short-Term Money Market EUR R
0,99%
0,28%
Bank Pictet
Amundi Euro Government Bond 0-6 M UCITS ETF
0,95%
0,25%
Caceis Bank
Ao contrário do IMGA Money Market A e do Pictet Short-Term Money Market EUR R, o Amundi Euro Government Bond 0-6 M UCITS ETF é cotado na bolsa. Isso significa que os aforradores incorrem normalmente em encargos de aquisição e de alienação deste produto cobrados pelo intermediário de bolsa.
O fundo da Amundi ETF é, contudo, mais económico no quotidiano: a sua taxa de encargos correntes é de 0,14% por ano; o fundo da Pictet custa 0,38% e o do IMGA 0,56%. Estes encargos são diluídos pelo património: os investidores não notam a sua cobrança e os retornos indicados no quadro anterior são líquidos dessas despesas.
A última década mostra que os melhores fundos do mercado monetário podem render mais do que a maioria dos depósitos a prazo, mas não mais do que os melhores depósitos a prazo.
Como decidir entre o melhor depósito e o melhor fundo do mercado monetário? Se souber quando necessitará do dinheiro, faça um depósito generoso que case com esse prazo, sem o ultrapassar. Se desconhecer a data exata, pondere um fundo do mercado monetário: pode sair a qualquer momento sem penalização. Não esqueça, porém, que os fundos do mercado monetário podem desvalorizar, em particular se as taxas de juro interbancárias estiveram negativas ou próximas de zero.
Certificados de Aforro para eliminar dúvidas
Os depósitos a prazo renderam entre 0,8% e 1,3% por ano no último quinquénio, enquanto os melhores fundos do mercado monetário avançaram 1% por ano. Na última década, os depósitos deram 0,5% a 0,7%, mas os fundos do mercado monetário tiveram dificuldade em chegar a 0,5%. E os Certificados de Aforro? Renderam mais.
Quem subscreveu Certificados de Aforro da série E há 5 anos ganhou 1,84% por ano. Os que investiram há 10 anos na série D receberam 1,53% por ano.
Os Certificados de Aforro são teoricamente menos arriscados do que os depósitos a prazo (são garantidos pela República Portuguesa), renderam mais do que os depósitos e os fundos do mercado monetário e podem ser movimentados à distância, sem sair de casa. Quais as desvantagens?
Primeiro, não é possível solicitar o reembolso do investimento durante os primeiros três meses. Apenas após o pagamento dos primeiros juros, que são capitalizados automaticamente, é que se pode proceder ao resgate antecipado.
Segundo, esse resgate antecipado pode demorar até uma semana.
Terceiro, a atual série em comercialização, a F, é menos interessante do que as anteriores. A taxa de juro está indexada à Euribor a 3 meses, mas não pode ultrapassar 2,50%. Os prémios de permanência, a somar à taxa-base, deslizam lentamente de 0,25% a 1,75% do segundo ano até ao décimo quinto ano, quando o produto é reembolsado aos aforristas.
Quarto, se se resgatar entre dois pagamentos, perdem-se os juros corridos desde a última distribuição. Assim, podem perder-se, no máximo, quase três meses de juros. Por exemplo, quem subscrevesse no dia 1 de novembro de 2025 não poderia movimentar esses Certificados de Aforro até ao dia 2 de fevereiro de 2026 (a véspera é domingo). Nesse dia, o valor dos Certificados de Aforro seria aumentado no montante dos juros líquidos de IRS do primeiro trimestre. A capitalização de juros seguinte seria a 1 de maio de 2026, mas, se o aforrador sacasse o dinheiro no dia anterior, não receberia os juros corridos entre 2 de fevereiro de 2026 e 30 de abril de 2026.
Os Certificados de Aforro rendem agora mais do que os depósitos a prazo e os fundos do mercado monetário? Normalmente, sim. Enquanto a remuneração que os bancos recebem por depositarem no Banco Central Europeu (a taxa da facilidade permanente de depósito) e a Euribor a 3 meses, que correm paralelamente, não ultrapassarem os 2,5%, os Certificados de Aforro tendem a render mais. Ambos rolam agora perto de 2%.
Se a Euribor a 3 meses estabilizar em % (o que não acontecerá), um subscritor que invista agora euros em Certificados de Aforro durante ano receberá euros em capital e juros. A sua rentabilidade líquida de impostos seria de % por ano, assumindo uma taxa de tributação de 28%. (Este parágrafo é interativo.)
Há, pontualmente, depósitos que rendem mais. Por exemplo, o Bison Bank paga uma taxa de juro de 2,54321% a 12 meses numa aplicação a partir de 25 mil euros. Resulta numa rentabilidade anual líquida de 1,86%.
Cuidado com as manobras
Os rendimentos dos Certificados de Aforro, dos depósitos bancários e dos fundos do mercado monetário são baixos: é uma consequência do reduzido risco destas aplicações. No último quinquénio e na última década, nem conseguiram proteger o capital da perda de poder de compra: a inflação foi superior aos retornos (3,72% por ano e 2,16% por ano, respetivamente).
Para bater a inflação teria sido necessário correr mais riscos.
Nas redes sociais, encontrará provavelmente várias manobras para ganhar mais dinheiro. Tenha cuidado e faça as contas: nem sempre o risco é baixo e, muitas vezes, a rentabilidade após encargos é reduzida.
Na sua atualização mensal das taxas de juro dos melhores depósitos a prazo, um dos membros mais ativos no literaciafinanceira do Reddit, um canal que conta com 128 mil seguidores, sugere aproveitar a alta taxa inicial do PPR Real Vida Capital Protegido, de 3,25%, mantendo-o durante apenas uma anuidade.
Além de um PPR ser mais arriscado do que um depósito a prazo — a garantia é de uma companhia de seguros e não de uma entidade independente, como o Fundo de Garantia de Depósitos —, o retorno não é tão interessante após a contabilização das comissões e do imposto sobre o rendimento. Na prática, a estratégia do PPR Real Vida Capital Protegido renderá 1,78%, o que é menos do que o rendimento dos melhores depósitos a prazo.
Continuarei a digerir os produtos de baixo risco até à publicação do “Onde investir em 2026”. Para já, continuo a inclinar-me para os Certificados de Aforro: após a abertura de uma conta de aforro, que tem de ser numa loja dos CTT ou no BiG, é uma das opções mais simples e permanentemente mais rentáveis. ★
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Não é por acaso que se chama “capital de risco”
Por David Almas a 1 de novembro de 2025
São poucos os neobancos que resistem à tentação de impingir tretas aos seus clientes, especialmente quando encaixam uma fortuna com as operações. Os seus administradores cedem eventualmente à exigência de lucro pelos acionistas.
O Trade Republic Bank, o banco alemão que captou vários clientes portugueses, é um deles. Recentemente, alguns leitores do boletim tlim alertaram-me para o lançamento dos “mercados privados”. Diz: “Beneficia de 12% de rentabilidade-alvo de mercado.” (Em janeiro passado, recomendei o Trade Republic exclusivamente para a constituição de um generoso depósito; desaconselho-o para tudo o resto.)
Neste capítulo, o Trade Republic não inova. Em Portugal, estes investimentos chamam-se “capital de risco”. (A associação do setor quer, porém, mudar-lhe o nome.)
O Regime da Gestão de Ativos define o capital de risco como “a aquisição de instrumentos de capital próprio e de instrumentos de capital alheio em sociedades com elevado potencial de desenvolvimento, como forma de beneficiar da respetiva valorização.”
O capital de risco envolve o investimento em empresas (ações ou quotas) ou em dívida (obrigações ou créditos, por exemplo) cujos títulos normalmente não estão cotados na bolsa. Por exemplo, a Caixa Capital, que pertence à Caixa Geral de Depósitos, investiu na Smile.up, uma rede de clínicas dentárias. O grupo norte-americano Apollo adquiriu uma dívida colateralizada do Futebol Clube do Porto. O sueco EQT comprou o negócio das estações terrestres à Eutelsat, incluindo uma subsidiária portuguesa.
Pelas suas características, o capital de risco é necessariamente uma aplicação de longo prazo. A legislação portuguesa obriga os fundos de capital de risco a promoverem junto dos investidores períodos de investimento de 12 anos ou mais.
Na União Europeia, recentes modelos de fundos de investimento, cuja legislação é transposta progressivamente pelos estados-membros, relançaram o capital de risco entre os pequenos investidores. É o caso dos fundos europeus de investimento de longo prazo (ELTIF na sigla inglesa), particularmente interessantes para as sociedades gestoras que desejam lançar fundos de capital de risco: “proporcionam financiamento de duração prolongada de vários projetos de infraestruturas, de empresas não cotadas em bolsa ou de pequenas e médias empresas (PME) cotadas que emitam instrumentos de capital próprio ou de dívida para os quais não existem compradores facilmente identificáveis”.
Não se deixe, todavia, enganar: o capital de risco existe há décadas. Em Portugal, havia 284 fundos de capital de risco em 2023, segundo a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a autoridade nacional que supervisiona esta atividade. Mais de 11 800 investidores não profissionais participavam nesses fundos, que normalmente exigem avultadas somas para entrar.
A língua inglesa fica sempre bem
Quando promovem o capital de risco, os departamentos de marketing das várias entidades neste negócio usam o efeito atraente do léxico inglês. Não se deixe encantar, porque a definição anterior de capital de risco é suficiente.
Para começar, lançam a ideia de private equity: refere-se ao capital próprio de empresas não cotadas num mercado organizado.
Os negócios do capital de risco podem ser agrupados por temas ou por especialidades. O venture capital é normalmente de empresas jovens. Podem ser recém-nascidas (seed capital), crianças (startup) ou adolescentes (early stage). As adultas estão em later state.
Os gestores do capital de risco podem apoiar financeiramente a compra de uma empresa pelos seus administradores. Chamam-lhe de management buy-out. Se o capital de risco financia uma equipa exterior na aquisição de uma empresa, é um management buy-in.
Se o dinheiro do capital de risco serve para apoiar a expansão de um negócio, é um mezzanine. Se for para reestruturar o negócio, é um turnaround.
Quando a operação não se encaixa num dos grupos anteriores, é um special situations, uma situação especial.
Aparentemente, os fundos distribuídos pelo Trade Republic — o Apollo Global Private Markets ELTIF e o EQT Nexus NXTF ELTIF — planeiam expor-se a várias estratégias e linhas de negócios no capital de risco. Não são fundos especializados como a maioria dos portugueses. O ActiveCap I, por exemplo, financia a expansão de firmas; o Buenavista Tech Seed dedica-se a pequenas empresas tecnológicas.
Há também veículos supostamente de capital de risco, mas não se encaixam perfeitamente na definição anterior. É o caso do Legacy Fund da Green One Capital: recolhe agora investidores para apostar em automóveis clássicos, supercarros e hipercarros. Não sei, todavia, como o farão com 40 milhões de euros.
A minha bola de cristal é folha de papel
Há uma perceção generalizada nos mercados financeiros de que o capital de risco é muito rentável. O Trade Republic aponta para um retorno anual de 12% por ano. Como calculam esta rentabilidade? Não sei — o banco não explica —, mas é possível que, como na maioria dos temas de investimentos, venha dos Estados Unidos da América.
A Cambridge Associates, que gere carteiras para grandes fortunas, como fundações e fundos de pensões, computa trimestralmente o desempenho de milhares de fundos de capital de risco. Na mais recente edição anual do seu relatório, apontou uma rentabilidade anual de 12,10% nos EUA nos últimos 25 anos.
Esse número, todavia, não é o único que a Cambridge Associates publica para o prazo de 25 anos: indica 13,18% por ano nos mercados desenvolvidos excluindo os EUA e 9,11% nos mercados emergentes.
Estes desempenhos pecam, todavia, por apenas incluírem investimentos de capital próprio; excluem o capital de risco que envolve dívida. O Apollo Global Private Markets ELTIF e o EQT Nexus NXTF ELTIF, que o Trade Republic distribui, podem investir em instrumentos de crédito, em títulos representativos de dívida ou noutras estruturas financeiras.
Além disso, a Cambridge Associates avalia aparentemente poucos fundos de capital de risco. Os índices têm 1154 fundos nos mercados desenvolvidos fora dos EUA, mas, em Portugal, há 284 fundos? Pelo que consegui apurar, os gestores dos fundos de capital de risco têm de desejar participar nos índices da Cambridge Associates, fornecendo-lhe as suas contas trimestrais e anuais. Esta entidade exclui fundos pequenos e, curiosamente, fundos abertos a novos investidores, como o Apollo Global Private Markets ELTIF e o EQT Nexus NXTF ELTIF. Não são, portanto, uma boa referência.
Não duvido que o capital de risco que envolva capital próprio renda potencialmente mais do que as ações na bolsa ou que os projetos de dívida ganhem mais do que as obrigações cotadas. Afinal, no longo prazo, arriscar mais pode compensar quando se opta por diversificar. Acredito, porém, que os retornos dos fundos de capital de risco são imprevisíveis.
As estatísticas portuguesas mostram que o capital de risco aproxima-se do modelo de lotaria: os ganhos podem ser espantosos, mas normalmente perde-se dinheiro.
No seu mais recente relatório sobre o capital de risco, a CMVM avaliou o desempenho dos 16 fundos portugueses liquidados em 2022 e 2023. Os fundos de capital de risco são instrumentos de longo prazo, mas têm normalmente uma data de vencimento. Os fundos analisados tinham durações entre 5 anos e 25 anos.
O melhor fundo de capital de risco ganhou mais de 30% por ano em apenas 5 anos. O pior perdeu cerca de 30% por ano em quase 15 anos: significa que o prejuízo foi quase total. Em média, os investidores nestes fundos tiveram perdas.
Há uma ideia generalizada de que o capital de risco vence ao permitir investir cedo em empresas com elevado potencial de crescimento, como nas indústrias de ponta. Porém, tal como os setores mais tecnológicos não tendem a render mais na bolsa no longo prazo, o capital de risco em tecnologia aparentemente rende menos. “A evidência disponível parece indicar que entre os [fundos] de capital de risco liquidados em 2022 e 2023 registaram desempenho global positivo aqueles que privilegiaram o investimento em setores mais tradicionais”, escreveram os técnicos da CMVM.
O que cobraste tu nunca soubeste dar
Historicamente, os fundos de capital de risco são dirigidos aos investidores mais ricos. Após a sua constituição, tornam-se fundos fechados: não aceitam novos subscritores. Por isso, os seus resultados não são geralmente públicos. O relatório da CMVM é valioso, porque, embora não nomeie os fundos de capital de risco, dá pistas sobre os seus desempenhos.
A Caixa Capital, cujos dois fundos de capital de risco pertencem à Caixa Geral de Depósitos, é uma das poucas sociedades que publica periodicamente os seus relatórios e contas anuais. Cobra uma comissão de gestão de 1,5%; nos últimos 4 anos, esses encargos absorveram o equivalente a 23% dos ganhos dos fundos.
Assuma, todavia, que as comissões cobradas pelas sociedades que gerem fundos de capital de risco são mais elevadas — por vezes, muito mais elevadas.
No seu relatório de 2022, a Biz Capital indica que cobra uma comissão de gestão ao fundo Albatross de 0,5% por trimestre, o que é igualado pelo Bison Bank na comissão de depósito. Portanto, os encargos anuais fixos deste fundo de capital de risco somam cerca de 4% do património, ao que se acresce uma comissão de desempenho de até 20% do resultado líquido.
Pela pouca informação pública, deduzo que o Albatross, que investia no setor agrícola, rendeu 4,94% por ano entre 2013 e 2022. Portanto, a sociedade gestora e o banco depositário ganharam quase tanto como os investidores que arriscaram o seu dinheiro.
Os pequenos investidores dificilmente conseguirão participar diretamente em fundos de capital de risco devido às exigências de capital. A solução é investir em fundos que investem essencialmente em fundos de capital de risco, como os que o Trade Republic propõe agora. “O NXTF ELTIF planeia investir principalmente em fundos e coinvestimentos da EQT Funds”, lê-se na documentação.
Ao investir via fundo de fundos de capital de risco, os aforradores suportam não só as comissões cobradas diretamente pela sociedade gestora mas também as comissões dos fundos de capital de risco selecionados pelos gestores. A escada de comissões tem naturalmente impacto no desempenho de longo prazo.
Em 2006, a Caixa Geral de Depósitos lançou algo semelhante ao distribuído agora pelo Trade Republic, o Caixa Private Equity. No seu primeiro ano, os gestores desse fundo selecionaram os principais fundos de capital de risco para a carteira: Apax Europe VII, GS Capital Partners VI e Carlyle Europe Partners III. Embora fossem geridos por grandes especialistas do capital de risco (Apax, Goldman Sachs e Carlyle), o Caixa Private Equity transporta pesados prejuízos na carteira: nesses 3 fundos, somam 16,5 milhões de euros de perdas, cerca de metade do valor patrimonal do fundo, segundo o último relatório da sociedade gestora.
O Caixa Private Equity tem ainda uma aplicação no Neoma Private Equity IV, um fundo de capital de risco que teve de mudar de sociedade gestora na sequência de uma acusação de fraude e subsequente colapso do grupo financeiro Abraaj, do Médio Oriente.
Desde 2006, o Caixa Private Equity rendeu 2,73% por ano. É pouco mais do que a inflação nos últimos 19 anos.
Os custos de investir no capital de risco podem estar dispersos por várias entidades. Por exemplo, o Apollo Global Private Markets ELTIF projeta uma taxa anual de encargos correntes de 2,80%, mas metade dessa despesa é dirigida para os cofres do Trade Republic; é a comissão de compensação pela distribuição do fundo.
Pense: porque deseja a Apollo oferecer um fundo de capital de risco aos pequenos investidores, se poderia investir o seu próprio dinheiro nos projetos? Em todo o mundo, a Apollo é a 26.ª companhia com mais dinheiro disponível. Provavelmente, apenas propõe fundos de capital de risco se for ganhar muito dinheiro em comissões e outras receitas, mantendo os projetos potencialmente mais lucrativos para si.
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé
Muito marketing, retornos incertos e encargos elevados. Há, todavia, uma quarta premissa nos fundos de capital de risco: dificuldade em sair.
Quem monta um fundo de capital de risco (ou um fundo de fundos de capital de risco) quer que os investidores fiquem com o dinheiro aplicado durante muitos anos, até o valor dos investimentos atingir o ápice. Podem fazê-lo impedindo ou limitando o resgate das unidades de participação ou cobrando uma elevada comissão de saída.
É compreensível: os fundos de capital de risco são investimentos de longo prazo em ativos sem preço frequente. Para avaliar a sua carteira, a Caixa Capital tem de atribuir um valor às clínicas Smile.up. Usam modelos teóricos de avaliação de empresas; não quer dizer que conseguiriam vender a sua participação nesse negócio por aquele valor contabilístico.
Para desencorajar as saídas, a Caixa Gestão de Ativos pode cobrar elevadas comissões de resgate no Caixa Private Equity, até 5% do montante reembolsado.
Aos seus clientes, o Trade Republic promete a “oportunidade de vender mensalmente” as suas unidades do Apollo Global Private Markets ELTIF e do EQT Nexus NXTF ELTIF. Não conte, contudo, com um bom preço: é provável que as melhores ofertas estejam muito afastadas das cotações mais recentes dos fundos.
Em Portugal, a legislação manda que os fundos de capital de risco tenham cotação semestral ou mais frequente.
O essencial satisfaz
Compreendo os leitores do boletim tlim que se sentem tentados a investir no capital de risco ao procurarem diversificar os seus investimentos. Se seguirem as minhas sugestões, não necessitam de mais instrumentos financeiros: já investem no negócio do capital de risco.
O primeiro investe em ações de companhias de todo o mundo. Inclui várias empresas no negócio do capital de risco, como a nova-iorquina Blackstone, a neerlandesa Prosus, a britânica 3i, a japonesa Orix e a sueca EQT. As ações das sociedades de capital de risco absorvem cerca de 1% da carteira do Vanguard FTSE All-World UCITS ETF.
Adicionalmente, os fundos de ações mundiais investem nas firmas de sucesso que nasceram no seio do capital de risco. A Nvidia tornou-se hoje na empresa mais valiosa do mundo graças a um investimento da Sequoia Capital e da Sutter Hill Ventures em 1995. É verdade que os investidores da bolsa perderam a enorme valorização da Nvidia antes de chegar ao mercado, mas também evitaram muitos desastres: “Das 70 empresas de GPU [unidades de processamento gráfico] que existiam no final da década de 90, apenas a Nvidia e a AMD sobreviveram”, relatava a Forbes em 2006.
O segundo fundo, o Vanguard Global Aggregate Bond UCITS ETF, investe em obrigações de todo o mundo. Além de incluir emissões obrigacionistas das empresas de capital de risco, como as das norte-americanas KKR e Apollo Global Management, a sua carteira tem estruturas financeiras montadas pelas firmas de capital de risco. É o caso, por exemplo, do Blackstone Private Credit Fund, uma sociedade que investe em empréstimos, obrigações e outros instrumentos de crédito emitidos em ofertas privadas ou por companhias privadas. Chamam-lhe de blind pool, um fundo cego: os investidores não têm acesso à composição exata do património.
Soa arriscado incluir um fundo cego na carteira, mas, afortunadamente, o Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF é uma das soluções mais diversificadas em que pode investir: tem exposição a mais de 24 mil títulos. O capital de risco é apenas uma parcela. ★
Respondido
“Li com atenção a tua reflexão sobre o que farias diferente se começasses hoje. Confesso que me surpreendeu a opção por uma carteira 100% em ações na reforma — tinha ficado com a ideia, de artigos anteriores, de que considerarias incluir obrigações no equilíbrio do portefólio.”
Dois leitores do boletim tlim, D.M. e P.A., colocaram-me uma dúvida semelhante, que se baseia em dois artigos recentes desta publicação:
Em março, em “3 mitos dos investimentos visualmente desmascarados”, escrevi: “Por que se dispersam os retornos anuais com os investimentos programados? Porque uma estratégia de aporte sistemático implica que muitas das aplicações não tiveram tempo para diluir o risco temporal. Após 17 anos de investimento mensal, mais de metade das aplicações não celebraram uma década.”
Em setembro, em “Viajar no tempo. O que mudaria nas minhas finanças?”, indiquei: “Se entrasse hoje no mundo profissional, traçaria um plano mais concreto. Provavelmente, apontaria a um investimento mensal de 500 euros no Fidelity MSCI World Index EUR P, um dos fundos de ações que recomendei na edição de janeiro passado do boletim tlim, durante 30 anos.”
Tenho dito, e repito, que prefiro investir em ações do que em obrigações: gosto mais de ser (indiretamente) dono de empresas do que ter uma ligação contratual para receber juros.
A exposição obrigacionista é, porém, lógica para reduzir a volatilidade da carteira e, logo, a ansiedade que essa volatilidade gera.
Disse também, em artigos anteriores, que pondero trocar uma parte do meu património no fundo de ações para um fundo de obrigações ou para um fundo misto. Esta operação teria, contudo, desvantagens financeiras: pagaria mais comissões e, especialmente, mais impostos sobre as mais-valias. Neste momento, inclino-me para nada fazer, embora acredite que as ações estejam genericamente caras.
Indico estratégias maioritariamente acionistas exclusivamente para prazos de dez anos ou mais. Em média, as unidades do meu fundo, o iShares Core MSCI World UCITS ETF (IWDA), na minha carteira ainda não celebraram uma década; estão perto.
A recomendação do prazo de dez anos ou superior é, todavia, abstrata. É a partir dessa duração que a probabilidade de se perder dinheiro nos mercados acionistas é inferior a 10%, segundo os desempenhos históricos da bolsa e dos fundos mais antigos.
Os investidores têm de avaliar progressivamente a sua situação. A minha rentabilidade anualizada é superior a 12% desde que comecei a investir no IWDA, em 2013. Se a bolsa caísse 50%, a minha rentabilidade anualizada seria superior a 7%. Provavelmente, não ficaria em pânico; certamente, não venderia mais unidades do que as necessárias para o meu quotidiano.
As minhas principais recomendações aos subscritores do boletim tlim não incluem carteiras exclusivamente acionistas, porque acredito que a maioria não aguentaria uma grande queda. Sei-o por experiência: alguns leitores venderam fundos de ações na desvalorização na sequência da pandemia da covid-19, por exemplo; eu vendi em pânico na bolha tecnológica do ano 2000, quando ainda era inexperiente.
“O gestor do Bankinter mencionou-me os ‘seguros de investimento de gestão delegada’. Fiquei especialmente curioso por causa da fiscalidade que ia decrescendo com a idade e duração do contrato. Os Vanguard LifeStrategy mantêm-se competitivos face a este tipo de investimento?”
Os seguros de investimento têm um tratamento fiscal privilegiado nas aplicações de longo prazo. A taxa de IRS é de 28%, mas, como há exclusões da tributação, as tributações efetivas baixam na generalidade dos casos:
Quando se compara seguros de investimento com fundos de investimento, é importante não esquecer que estes últimos também beneficiam de exclusões de tributação. A tributação efetiva é:
28% até 2 anos;
25,2% entre 2 anos e 5 anos;
22,4% entre 5 anos e 8 anos;
19,6% após 8 anos.
(Os fundos de investimento podem beneficiar ainda da redução da fiscalidade pela via do fator de correção monetária, mas ignoro esse efeito neste artigo.)
Tentemos comparar os desempenhos dos Top Selection Gestão de Carteiras com os Vanguard LifeStrategy, que recomendei na primeira edição do boletim tlim de 2025, desde que estes foram lançados, em dezembro de 2020.
Seguros contra fundos Calculei os números em baixo a partir das rentabilidades mensais dos produtos entre dezembro de 2020 e setembro de 2025.
Imaginemos um cliente do Bankinter que deseja uma carteira tão volátil como o Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF. Investiria no Top Selection Gestão de Carteiras 3, que registou uma oscilação semelhante desde 2020. Após 4 anos e 9 meses, teria ganhado 2,82% por ano enquanto o Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF teria rendido 5,88% por ano.
Se acreditarmos que, no longo prazo, esses retornos se manterão, a vantagem fiscal do seguro não compensa. Por exemplo, após 8 anos, a rentabilidade anual líquida do Top Selection Gestão de Carteiras 3 seria de 2,53% com uma tributação de 11,2% e do Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF 4,90% com uma tributação de 19,6%. É praticamente o dobro.
A comparação é mais difícil nos outros produtos. Para replicar a volatilidade do Vanguard LifeStrategy 40% Equity UCITS ETF, o cliente do Bankinter teria de aplicar 80% da carteira no Top Selection Gestão de Carteiras 2 e 20% no Top Selection Gestão de Carteiras 3. Assumindo os desempenhos dos 4 anos e 9 meses, a rentabilidade anual líquida do fundo da Vanguard seria de 2,42% após 8 anos e da carteira no Bankinter de 1,51%. A fiscalidade mais suave não compensaria.
O Vanguard LifeStrategy 20% Equity UCITS ETF é o único que não bateu a oferta do Bankinter. Apesar de ser mais volátil, rendeu menos do que o Top Selection Gestão de Carteiras 1.
Esta análise peca pela duração: os fundos Vanguard LifeStrategy celebrarão o quinto aniversário no próximo mês de dezembro. Cinco anos é o mínimo para ter confiança nestes cálculos. A vantagem fiscal no longo prazo dos seguros Top Selection Gestão de Carteiras não é, todavia, suficiente para os recomendar.
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“Por que razão não recorreram a ajuda de um intermediário de crédito nesta história?”
A pergunta do leitor E.M. indicia que a Anita, a heroína na edição anterior do boletim tlim, poderia ter recorrido a um intermediário de crédito para encontrar não só o banco mais económico para os seus créditos à habitação mas também para negociar as melhores condições.
Os intermediários de crédito simplificam a vida a quem não tem tempo de investigar bancos e de visitar balcões bancários. Normalmente, não cobram nada aos clientes bancários. É uma boa ideia usar os seus serviços.
Não é, porém, uma solução perfeita. Nenhum intermediário de crédito tem ligação a todas as instituições de crédito. Pode haver conflitos de interesse: se um banco oferecer um prémio mais gordo ao intermediário de crédito, ele terá motivos para não auscultar todas as instituições com quem tem contrato. (Há iniciativas legislativas para forçar os intermediários a apresentarem mais propostas aos clientes bancários.)
Um subscritor do boletim tlim tramou-me o mês de outubro: enviou-me este artigo de Robin Wigglesworth, o editor do blogue financeiro do Financial Times. Deu-me muito para pensar e muita investigação académica para ler. (Obrigado, R.M.)
Robin Wigglesworth levou Jean-Philippe Bouchaud a almoçar. Bouchaud é muitas coisas, incluindo presidente e cientista-chefe de um dos maiores e mais antigos hedge funds da Europa, o Capital Fund Management. Entre bifes de peixe-espada regados com Chablis e Borgonha, conversaram sobre a “hipótese dos mercados inelásticos”.
Essa hipótese foi lançada primeiramente por Xavier Gabaix, da Universidade de Harvard, e Ralph Koijen, da Universidade de Chicago: a entrada de capital no mercado tem um efeito multiplicador. No seu estudo de 2021, os académicos teorizaram que um investimento de 1 euro no mercado acionista aumenta o valor global da bolsa em 5 euros, permanentemente.
Até então, assumia-se que os fluxos de entrada e de saída da bolsa tinham um impacto negligenciável ou temporário. Gabaix e Koijen disseram que não.
Na sua própria investigação, Bouchaud confirmou a hipótese dos mercados inelásticos. O físico defende que a subida acentuada dos mercados acionistas desde 2008 pode ser explicada por esta teoria. “Não digo que seja o único motivo, mas é um motivo substancial”, indicou a Wigglesworth.
A hipótese dos mercados inelásticos tem repercussões nos nossos bolsos. Se for verdadeira, é possível afiançar que a bolsa continua a toada ascendente, porque há uma entrada cega de capital nos fundos de gestão passiva, aqueles que despejam todo o dinheiro dos investidores sem procurarem os melhores investimentos. (A maioria dos instrumentos que tenho recomendado aos leitores do boletim tlim são fundos de gestão passiva.)
Teoricamente, quando essas entradas se esgotarem, a carnificina bolsista será inevitável, segundo esta ideia.
A discussão académica e prática sobre a hipótese dos mercados inelásticos continua. Não muda um princípio básico dos investimentos: a bolsa — ações, obrigações, mercadorias, criptoativos — pode cair drasticamente a qualquer momento.
Primeiro, engasguei-me e duvidei: lê-se no segundo parágrafo: “A Starbucks detém quase 2 mil milhões de dólares do dinheiro dos clientes no seu programa de recompensas.” Depois, confirmei consultando o balanço da companhia: 1,9 mil milhões de dólares estão classificados como receitas deferidas. Os cartões de clientes da Starbucks têm o suficiente para comprar a Nos ou a Mota-Engil. Dariam para pagar todas as pensões públicas em Portugal durante um mês.
Este é um excelente artigo de Luke Goldstein que explica como as empresas se tornam bancos não supervisionados.
Recentemente, o presidente do Mecanismo Único de Resolução, Dominique Labourieux, pediu regras para os chamados não-bancos. “Cedo ou tarde, um destes agentes irá falir, com consequências terríveis para a estabilidade financeira.”
A SIBS, controlada pelos maiores bancos, arrastou longamente o processo de adesão do Revolut ao sistema Multibanco. Surpreendentemente, mesmo sem Multibanco, o Revolut tornou-se no terceiro banco com mais clientes portugueses, apenas atrás da Caixa Geral de Depósitos e do Millennium bcp.
Desejo-lhe sucesso nos novos projetos nacionais — migração para o IBAN português, integração do Multibanco e do MB Way, instalação de caixas automáticos, lançamento das contas de poupança e, eventualmente, do crédito à habitação —, porque os bancos locais terão de reagir para sobreviver. Leia-se: terão de se tornar mais eficientes e mais económicos para os clientes.
A Casa de Investimentos cortou uma décima nas comissões de gestão do seu plano de poupança-reforma. Em consequência, a taxa de encargos correntes da classe Founder deverá descer para 1,35% e a da classe Prime para 1,56%. Essa décima passará a ficar nos bolsos dos investidores.
Os 280 milhões de euros no PPR da Casa de Investimentos devem aborrecer muitos gestores portugueses, embora representem apenas 1% da gestão de fundos em Portugal.
A IMGA, a segunda maior sociedade gestora de fundos, lançou recentemente o IMGA Crescimento PPR/OICVM, que copia o modelo da Casa de Investimentos: é um plano de poupança-reforma que investe até 100% nos mercados acionistas; os primeiros subscritores beneficiarão de uma comissão de gestão mais baixa.
Embora a IMGA proponha uma comissão de gestão de 1% para quem investir até ao final de 2026, inferior à do Save & Grow PPR/OICVM, projeta uma taxa de encargos correntes mais elevada, de 1,75% por ano. As subscrições posteriores receberão uma taxa de encargos correntes de 2,27% por ano (quando inferiores a 250 mil euros).
Suspeito que a IMGA investe o património do IMGA Crescimento PPR/OICVM maioritariamente noutros fundos de investimento, incluindo fundos cotados. A estratégia não será, porém, passiva.
Este fundo é comercializado pelo Crédito Agrícola e pelo Millennium bcp, além da sociedade gestora.
O maior ataque à Casa de Investimentos vem, quiçá, da gestora de ativos do Novo Banco. Este novo PPR espera registar uma taxa de encargos correntes de 1,40% por ano. Fá-lo-á investindo exclusivamente em fundos cotados de ações. A sua carteira de arranque tinha apenas um instrumento: o iShares MSCI World EUR Hedged UCITS ETF.
Este PPR está disponível para subscrição na GNB Gestão de Ativos e no Banco Best. O Novo Banco não o comercializa.
Uma semana após a Casa de Investimentos, a Vanguard anunciou o corte nos encargos de vários fundos de ações distribuídos na Europa. A redução é mais pequena do que a da Casa de Investimentos, o que é natural por partirem de uma taxa mais baixa. A taxa anual de encargos correntes do Vanguard FTSE All-World UCITS ETF (USD) Accumulating, por exemplo, baixou de 0,22% para 0,19%.
Computo um efeito muito marginal nos fundos da Vanguard que recomendei na edição de janeiro passado do boletim tlim, que investem em alguns dos fundos cujos encargos foram revistos. Após um ano, a taxa de encargos correntes do Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating poderá baixar de 0,25% para 0,24%, por exemplo.
Na última vez que me debrucei longamente sobre fundos alavancados, na edição de abril de 2023 do boletim tlim, escrevi:
“Seria possível construir um fundo alavancado de índice acionista mais interessante? Sim. Se houvesse um fundo que gerasse diariamente o dobro do desempenho do MSCI World, um popular índice de ações dos mercados desenvolvidos, o binómio rentabilidade-volatilidade seria mais atrativo.”
Ei-lo: o primeiro fundo alavancado sobre o MSCI World na Europa. Não é barato: os encargos anuais absorvem 0,60% do património e os custos de financiamento, essenciais para conseguir o dobro do retorno diário do índice de referência, é agora superior a 4%.
Não recomendo o Amundi MSCI World (2x) Leveraged UCITS ETF. Se avançar, tenha extremo cuidado. ★
Dito
Arthur Brooks:
“Precisas de te aborrecer.”
Conhecia Arthur Brooks da sua coluna semanal no The Atlantic. Nunca o tinha visto a falar: é igualmente convincente.
Nestes cinco minutos, o professor de Harvard explica por que precisamos do aborrecimento para viver. Sem enfado, a vida faz menos sentido e a depressão surge mais frequentemente. O aborrecimento leva-nos a sonhar acordados e a imaginar o futuro, o que, por vezes, é desagradável ao traçarmos destinos incómodos e ao perguntarmos questões existenciais. É, contudo, perfeito para o planeamento de longo prazo.
Intuitivamente, tinha percebido a importância do aborrecimento. Muitos leitores do boletim tlim recomendam-me podcasts para ouvir, por exemplo, nas minhas longas caminhadas. Não o faço, porém; prefiro ouvir os meus próprios pensamentos. ★
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