Boletim tlim n.º 57 ★ Junho de 2024

Olá!

Nesta quinquagésima sétima edição do boletim tlim contrario todos os especialistas de finanças pessoais: o fundo de emergência não deve ser a primeira preocupação dos aforradores; nem a última. Desaconselho a constituição de fundos de emergência, porque têm um impacto negativo no património.

Para segundo texto, estudei os fundos de ciclo de vida, aqueles que começam por estar expostos aos mercados acionistas e, quando envelhecem com os seus subscritores, acabam com instrumentos do mercado monetário. Será que são uma boa ideia?

— David Almas

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Fundo de emergência: o inesperado inimigo da sua riqueza

Por David Almas a 1 de junho de 2024

Bárbara Barroso:

“O primeiro objetivo é constituir um fundo de emergência.”

João Morais Barbosa:

“Será recomendável ter uma taxa de poupança mais elevada, para com isso constituir um primeiro fundo de emergência.”

Pedro Andersson:

“Eu divido o fundo de emergência em dois escalões: os tais mil euros porque é um valor redondo e simbólico; e os seis meses ou um ano de todas as suas despesas, para se sentir mais seguro.”

Ella Nooren:

“Sem antes ter um fundo de emergência não é sequer muito boa ideia investir.”

Não conheço nenhum especialista que não defenda que um dos primeiros passos das finanças pessoais deve ser a constituição de um fundo de emergência.

Os supervisores do sistema financeiro — o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões — alinham nesse conceito.

Todos Contam:

“Dado que o futuro é incerto, é importante considerar a constituição de uma poupança para despesas ou situações imprevistas, isto é, por precaução.”

As crianças que têm a sorte de ter aulas de Educação Financeira na escola são expostas também à ideia da reserva de emergência logo no primeiro ciclo, segundo o Referencial de Educação Financeira da Direção-Geral da Educação.

Diz o avô Moedas aos netos Clara e Tomás no Caderno de Educação Financeira 1:

“Pomos sempre de parte uma quantia destinada a despesas inesperadas, motivadas por qualquer situação imprevista (…) Resumindo: precisamos de ter dinheiro ao canto da gaveta.”

Neste artigo, defenderei o oposto do que recomendam os especialistas anteriores. A maioria das pessoas não precisa de um fundo de emergência. Há apenas um motivo para o constituir: se não conseguir dormir.

O meu fundo de emergência

Durante muitos anos, também defendi a formação de um fundo de emergência.

David Almas, em 2014:

“A primeira coisa que deve fazer com as suas poupanças é constituir um pé-de-meia contra as rasteiras. Normalmente, chamam-lhe ‘fundo de emergência’: uma poupança que está sempre acessível para socorrer a família caso seja necessário colmatar uma despesa que surge de surpresa.”

Em 2008, em plena crise financeira, quando já estava lançado na minha meta de atingir a independência financeira e a reforma antecipada, decidi que a única coisa que faltava para aperfeiçoar as minhas finanças era um fundo de emergência. Subscrevi, então, Certificados de Aforro.

Após dois anos, percebi intuitivamente que era um erro. Resgatei os Certificados de Aforro e usei o encaixe na amortização do crédito à habitação.

Quando escrevi aquelas frases para o Observador, já não tinha fundo de emergência, mas ainda não me dedicara a estruturar as ideias. Fi-lo apenas em 2019, quando escrevi um dos primeiros artigos do boletim tlim.

O que é um fundo de emergência?

Um fundo de emergência é uma aplicação financeira de baixo risco que deve estar rapidamente acessível em caso de um imprevisto que tenha consequências monetárias. O fundo de emergência deve ficar à parte da conta à ordem, porque pode haver a tendência para o gastar com as despesas correntes. Certificados de Aforro, depósitos a prazo e contas de poupança são os instrumentos tradicionalmente apontados para a constituição de um fundo de emergência.

Como ficou claro nas citações anteriores dos especialistas em finanças pessoais, o fundo de emergência deve somar o equivalente a seis meses de despesas familiares, pelo menos.

Os imprevistos normalmente elencados como geradores de resgates no fundo de emergência são desemprego, despesas médicas e reparações em casa. Há quem acrescente divórcio e morte de um dos membros do casal.

Muitos dos conceitos de finanças pessoais são importados dos Estados Unidos da América, mas alguns, como o de fundo de emergência, não devem ser transpostos.

Por que será que a referência para o fundo de emergência são seis meses de despesas? Porque historicamente absorve o tempo médio de desemprego nos EUA. (Está atualmente em 20 semanas.) Em Portugal, um terço dos desempregados está nessa situação há mais de 12 meses. Talvez a duração média seja superior a 2 anos. Ninguém recomenda, todavia, um fundo de emergência para 2 anos. Porquê? Porque temos subsídios de desemprego, algo inédito nos EUA.

O subsídio de desemprego é equivalente a 65% das remunerações de referência (grosso modo, a média dos salários recentes), mas não está sujeito à retenção por conta de IRS nem a descontos para a Segurança Social. Em 2024, o valor máximo é de 1273,15 euros.

Nas despesas médicas imprevistas, a realidade norte-americana é também muito diferente da portuguesa. Ao contrário dos EUA, que assenta em sistema privados, temos um Serviço Nacional de Saúde, que, embora criticável, presta cuidados médicos com encargos muitos baixos ou, frequentemente, gratuitos.

Adicionalmente, em Portugal, todos os edifícios em propriedade horizontal são legalmente obrigados a ter um seguro de incêndio. O habitual é, contudo, estender-se esse seguro para outras coberturas, tornando-o num seguro multirriscos que cobre variados imprevistos com a habitação, como inundações, tempestades e riscos elétricos. O fundo de emergência é também desnecessário para quem tem esses seguros.

Qual a alternativa?

Proponho que aplique a sua reserva de emergência em conjunto com a sua poupança de longo prazo, porque, por definição, os imprevistos são improváveis e não se sabem quando acontecem. Se fossem prováveis, deixariam de ser imprevistos e passariam para o reino das ocorrências, que devem ser financeiramente planeadas.

Ao juntar esse pecúlio às aplicações de longo prazo, alimenta-se-lo de retornos potenciais superiores e, por transitividade, incrementa-se o valor patrimonial.

Se seguir a minha sugestão e se enfrentar uma emergência que exija um esforço financeiro substancial, o aforrador retirará o dinheiro da carteira de longo prazo, sem restrições.

Imagine um caso muito próximo da minha história financeira: uma aforradora com um perfil agressivo — investe nos mercados acionistas mundiais para o longo prazo — que consegue amealhar 400 euros por mês desde o início de 2008.

O que aconteceria se, primeiro, constituísse um fundo de emergência com o equivalente a 12 meses de despesas, cerca de 12 mil euros? Estaria 2 anos e meio a engordar o seu fundo de emergência (12 000€ ÷ 400€ = 30 meses).

Assumindo que contrairia sucessivos depósitos a prazo à taxa média na altura, que, posteriormente, investiria bimestralmente num fundo de índice de ações mundiais e que nunca acionaria o fundo de emergência, teria registado recentemente um património financeiro de 164 900 euros: 13 700 euros em depósitos e 151 200 euros no fundo acionista.

Se ignorasse a constituição do fundo de emergência, acumularia agora 212 mil euros, uma riqueza 29% superior.

“Ah!” — oiço os leitores a exclamar — “Teria sido muito diferente se a aforradora tivesse um imprevisto durante uma grande queda da bolsa!” Não: provavelmente continuaria hoje a ser mais pobre.

Imaginemos que a aforradora precisou de sacar 10 mil euros quando foi declarada a pandemia do covid-19, em março de 2020. Se tivesse acumulado um fundo de emergência, teria nesse mês mais de 13 mil euros dispersos por depósitos a prazo. Sacaria o dinheiro dessas aplicações sem problemas, mas teria de o repor nos dois anos seguintes. Voltaria a investir no seu fundo de ações mundiais em abril de 2022. Após esse imprevisto, hoje teria cerca de 13 300 euros em depósitos e 138 600 euros no fundo de ações mundiais, o que somaria 151 900 euros.

Se não tivesse fundo de emergência, teria de alienar unidades do seu fundo de ações mundiais na pior altura: no mês que antecedeu a declaração de pandemia, os mercados acionistas perderam um terço do seu valor. Mesmo retirando 11 800 euros do seu fundo de ações mundiais em março de 2020 (o suficiente para pagar o evento inesperado e o imposto sobre as mais-valias), hoje teria 190 900 euros, após continuar a aplicar 800 euros bimestralmente no fundo acionista. Seria 26% mais rica.

O fundo de emergência é inimigo da sua riqueza, porque se espera que, se tudo correr bem, a poupança fique parada durante muitos anos. Adicionalmente, desperdiça-se o tempo em que se acumula esse pé-de-meia; poderia estar a ganhar mais desde mais cedo.

Como as soluções ideais para o fundo de emergência são de baixo risco, esse capital renderá quase nada no longo prazo. É possível inclusivamente que tenha uma rentabilidade inferior à inflação, o que significaria que o poder de compra do seu património teria de decrescer para se sentir em segurança.

Não é garantido

É possível que, em situações particulares, um fundo de emergência resulte num património superior. Por exemplo, alguém que o tenha constituído e usado nos primeiros anos deste milénio poderá ter acumulado mais dinheiro após um imprevisto financeiro, porque as bolsas mundiais tiveram retornos negativos na primeira década.

Acredito, porém, que normalmente isso não acontecerá, devido a uma simples realidade: as aplicações de baixo risco tendem a render menos do que as aplicações com mais risco, como as expostas diversificadamente aos mercados obrigacionistas e acionistas, independentemente do prazo. Projeto que, frequentemente, o que as aplicações com mais risco rendem a mais do que o dinheiro aparcado em fundos de emergência mais do que compensa a estabilidade dessa segunda opção.

Um fundo de emergência dá paz de espírito aos aforradores pela estabilidade dos capitais; um investimento de longo prazo tranquiliza pelos retornos potencialmente superiores.

O meu maior imprevisto financeiro

Quando 2021 terminava, registei a minha maior urgência financeira: em poucos meses, tive de reunir dinheiro suficiente para comprar à minha ex-companheira a sua metade da minha casa. Se tivesse um fundo de emergência equivalente a 12 meses de despesas, não serviria para muito: precisava do décuplo.

Socorri-me, naturalmente, do meu fundo de ações mundiais, o iShares Core MSCI World UCITS ETF, que era e continua a ser o meu maior ativo financeiro. Paralelamente, contraí um empréstimo junto de um familiar, que projeto liquidar nos próximos meses com resgates do fundo de investimento.

No futuro, se voltar a ter um imprevisto, planeio financiá-lo do seguinte modo:

  1. Cartão de crédito. É o meio que uso para pagar a maioria das minhas despesas correntes, porque tenho uma devolução de até 2% do montante gasto. Como pago mensalmente a dívida, não incorro em juros. Usá-lo-ei se tiver saldo disponível suficiente para o imprevisto.

  2. Conta à ordem. Como não tenho rendimentos periódicos (salário ou pensão), vendo pontualmente unidades do meu fundo de modo a ter um saldo à ordem para cerca de três meses. Com o cartão de crédito, poderá ser suficiente para o imprevisto.

  3. Fundo de investimento. Se o cartão de crédito e a conta à ordem não forem suficientes, vendo unidades do meu fundo. O dinheiro fica disponível em três dias úteis, no máximo.

  4. Empréstimo. No caso de uma grande catástrofe, o meu património financeiro pode não ser suficiente. Ponderarei, então, um financiamento bancário ou familiar, se for possível.

  5. Apartamento. Se a calamidade não afetar a minha casa, pensarei em trocá-la por uma mais pequena ou fora de Lisboa para colmatar a necessidade financeira ou saldar o empréstimo anterior.

Se me acontecesse um imprevisto do nível 4 ou 5, teria de interromper a minha aposentação antecipada e regressar ao mundo do trabalho. Um fundo de emergência com 12 meses de despesas correntes não me salvaria dessa situação.

Astros alinhados

Às vezes, um mal não vem só. É possível surgir uma catadupa de urgências financeiras. Por exemplo, numa recessão económica, poderá ficar sem emprego, os seus investimentos mobiliários ou imobiliários poderão sofrer um rombo (no valor e nos rendimentos periódicos, como rendas, dividendos e juros) e, em consequência das situações anteriores, poderá necessitar de ajuda médica psicológica. Um fundo de emergência poderia aliviar a pressão.

Os astros alinharem-se para provocarem uma sequência de necessidades monetárias é uma consequência da vida: é demasiado incerta.

Se não consegue dormir com a incerteza natural da vida, constitua ou reforce o seu fundo de emergência, como recomendam os especialistas em finanças pessoais. Talvez o seu sono seja mais tranquilo se rematar a sua existência com seguros que protejam de outros imprevistos que consiga antecipar. É melhor dormir bem do que incrementar o retorno potencial.

Não planeio mudar a minha carteira: deixarei as minhas finanças flutuar livremente sem a âncora de um fundo de emergência. Enfrentarei todos os imprevistos financeiros que a vida me lançar com o poder da minha carteira de investimentos. ★

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Invista em sincronia com os ciclos da sua vida

Por David Almas a 1 de junho de 2024

Antes de Donald Luskin e Lawrence Tint, do banco Wells Fargo, patentearem o conceito de fundo de ciclo de vida, a ideia não era completamente nova: muitos investidores seguiam o plano de reduzir a exposição aos mercados acionistas à medida que envelheciam. Luskin e Tint desenvolveram, porém, um método automático: os aforradores não tinham de trocar de fundo de investimento ao longo das suas vidas.

Hoje, os fundos de ciclo de vida são uma das opções mais populares nas carteiras dos investidores dos Estados Unidos da América. As sociedades gestoras não têm dificuldade em convencer os seus clientes: no início da carreira profissional, os aforradores podem arriscar mais para ganhar mais, porque provavelmente não precisarão do dinheiro durante décadas; quando a idade de aposentação se aproxima, a preservação de capital torna-se mais importante do que os retornos potencialmente mais elevados, justificando uma posição mais conservadora.

No lançamento, as carteiras dos fundos de ciclo de vida são expostas quase completamente aos mercados acionistas, que, historicamente, mais renderam no longo prazo. Quando falta uma década para a data prevista do fundo, as participações acionistas são reduzidas progressivamente: a cinco anos do ano-objetivo, o fundo poderá ter, por exemplo, apenas metade da carteira aplicada em ações ou em fundos de ações.

Ao reduzirem a orientação acionista, os gestores dos fundos de ciclo de vida incrementam os investimentos nos mercados obrigacionistas, tradicionalmente fontes de menos retornos e menos volatilidade. No trecho final das suas vidas, as carteiras dos fundos também são compostas por instrumentos do mercado monetário, como depósitos bancários. Quando o ano-objetivo é ultrapassado, esses instrumentos povoam quase exclusivamente o património.

Por cá

Os fundos de ciclo de vida — que não têm de ser selecionados apenas para a reforma — primam pela simplicidade para os participantes: investe-se e esquece-se até ao ano-objetivo; os gestores são os responsáveis por concretizar os ajustamentos nas carteiras.

Graças à realidade fiscal portuguesa, aparentam ser uma boa ideia: optando por um fundo de acumulação, a fiscalidade apenas seria acionada no resgate, décadas após a subscrição, por exemplo.

As experiências das sociedades gestoras nacionais com os fundos de ciclo de vida não foram, todavia, positivas. Em 1999, a AF Investimentos, que era então a sociedade gestora do Banco Comercial Português, lançou três fundos de ciclo de vida, que apontavam para 2015, 2025 e 2035. Desistiu após nove anos, quando os incorporou noutros fundos de investimento. Perderam 0,55%, 1,29% e 2,15% por ano enquanto duraram, respetivamente.

Os EuroBic PPR/OICVM Ciclo de Vida são agora os únicos representantes das estratégias de ciclo de vida entre as sociedades gestoras portuguesas. São geridos pela IMGA, que, até 2004, se chamava AF Investimentos. (Serão provavelmente incluídos na edição de setembro do boletim tlim, quando escrever sobre planos de poupança-reforma.)

Os Fidelity Target, administrados pela Fidelity International, são a opção remanescente dos investidores nacionais que procuram fundos de ciclo de vida. São comercializados pelo ActivoBank, pelo Banco Best, pelo Banco Carregosa, pelo Banco de Investimento Global e pelo EuroBic.

Ao contrário dos EUA, não há fundos cotados que sigam filosofias de ciclo de vida nas bolsas europeias.

Que ano deseja? Estes são os fundos de acumulação Fidelity Target disponíveis na banca portuguesa. Existem também fundos de distribuição, não representados neste quadro. O ISIN é o código único de identificação internacional dos produtos de investimento.
FundoExposição às ações
Abril 2024
Taxa anual de encargos correntes
Fidelity Target 2020 (Euro) A0%0,84%
Fidelity Target 2025 (Euro) A4%1,28%
Fidelity Target 2030 (Euro) A59%1,53%
Fidelity Target 2035 (Euro) A100%1,94%
Fidelity Target 2040 (Euro) A100%1,94%
Fidelity Target 2045 (Euro) A100%1,95%
Fidelity Target 2050 (Euro) A100%1,95%
Fidelity Target 2055 (Euro) A100%1,95%
Fidelity Target 2060 (Euro) A100%1,95%

À medida que o tempo passa, os gestores dos Fidelity Target não só reduzem a exposição acionista como cortam nas comissões cobradas aos subscritores.

Quando surgiram em Portugal, os Fidelity Target foram bem recebidos. Serviram inclusivamente como base para seguros de capitalização.

Aquém do esperado

Os fundos Fidelity Target são produtos de gestão ativa: além de procurarem alcançar internacionalmente os melhores retornos entre os fundos de ciclo de vida, a equipa de gestores tenta bater os índices de mercado. Não tem conseguido.

Desde que foi lançado, em 2006, o Fidelity Target 2025 (Euro) A rendeu 2,78% por ano até ao início de maio passado. É manifestamente pouco: os subscritores teriam conseguido quase o dobro aplicando exclusivamente em fundos de índice de ações e de obrigações.

Se, a partir de 2006, tivesse aplicado inicialmente a totalidade do seu património num fundo de índice de ações mundiais e, a partir de 2015, transferisse progressivamente o seu dinheiro para um fundo de obrigações mundiais com cobertura cambial de modo a não ter exposição acionista no final de 2025, um investidor teria ganhado perto de 5,45% por ano. Este cálculo assume que o fundo de ações e o fundo de obrigações têm taxas anuais de encargos correntes de 0,25% e 0,10%, respetivamente, à semelhança do Vanguard FTSE All-World UCITS ETF e do iShares Core Global Aggregate Bond EUR Hedged.

Embora os retornos mensais do Fidelity Target 2025 (Euro) A e da carteira de fundos de índice sejam muito correlacionados (96% desde 2016), os gestores não conseguiram ultrapassar os índices. Os encargos superiores do fundo da Fidelity não explicam todo o seu subdesempenho.

Os outros fundos Fidelity Target sofrem do mesmo mal. O Fidelity Target 2015 (Euro) A, o mais recente produto da coleção a ser liquidado, rendeu 2,42% por ano nos seus quase 13 anos, de 2006 a 2019.

Os 6 mais recentes produtos — aqueles que apontam para os anos entre 2035 e 2060 — cresceram, em média, 15,38% entre 2021 e 2023, apesar de serem compostos essencialmente por títulos acionistas. O Vanguard FTSE All-World UCITS ETF ganhou mais do que o dobro, 31,35%.

Não é possível antecipar se os fundos Fidelity Target continuarão a render menos do que os índices de referência. Em janeiro de 2024, após mudanças na liderança da Fidelity International, Ayesha Akbar and Julie-Ann Ashcroft tomaram o leme dos fundos de ciclo de vida da companhia. Não vejo, todavia, motivos para acreditar que conseguirão fazer melhor do que os seus antecessores.

Pontos negativos

Não são apenas os baixos retornos que arruínam o interesse nos fundos de ciclo de vida. Destaco ainda:

Faça o seu fundo de ciclo de vida

É possível definir uma estratégia de ciclo de vida composta unicamente pelos fundos que recomendei na primeira edição de 2024 do boletim tlim, sem nunca ter de trocar de instrumentos financeiros.

Analisemos o projeto do investidor de 32 anos que descrevi anteriormente. O que deseja é:

  1. Ter uma exposição acionista de 80% até aos 48 anos;
  2. Reduzir essa exposição progressivamente até aos 50% na idade de aposentação, aos 68 anos; e
  3. Posteriormente, continuar a reduzir até aos 30% aos 80 anos.

Assumindo que:

  1. Começará por investir 500 euros por mês;
  2. Esse aforro crescerá 6% por ano;
  3. Resgatará 6000 euros por mês a partir da aposentação;
  4. Esse resgate aumentará 2% por ano; e
  5. As ações renderão 7% por ano e as obrigações 4% por ano.

Então, a sua estratégia poderia ser:

  1. Investir a poupança mensal no Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF até aos 48 anos;
  2. Investir o aforro mensal no Vanguard LifeStrategy 20% Equity UCITS ETF entre os 48 anos e os 68 anos;
  3. Resgatar mensalmente do Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF entre os 68 anos e os 80 anos.

Cerca de 80% da carteira do Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF são fundos de índices de ações. No Vanguard LifeStrategy 20% Equity UCITS ETF, a exposição acionista é de 20%. A taxa anual de encargos correntes destes fundos é de 0,25%.

Obviamente, a vida é incerta: os aforradores reais nem sempre conseguem poupar e o retorno das ações e das obrigações é instável, por exemplo. O plano financeiro tem de ser periodicamente revisto. Pode ser necessário recorrer a outros fundos, como o Vanguard LifeStrategy 40% Equity UCITS ETF e o Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF para equilibrar as estatísticas do património.

Não é, todavia, impossível gerir a carteira de investimentos numa filosofia de ciclo de vida com um punhado de bons fundos de investimento. Basta querer e fazer algumas contas. ★

Respondido

“Será que, para os ETF que tenho, é necessário o preenchimento do formulário W-8 BEN? São todos de acumulação, mas em plataformas diferentes.”

O W-8 BEN é um formulário que os investidores não-estado-unidenses podem preencher e entregar aos seus intermediários financeiros para beneficiarem de uma menor taxa de retenção sobre os rendimentos obtidos nos Estados Unidos da América. Sem este documento, os dividendos pagos por empresas dos EUA aos residentes em Portugal, por exemplo, são alvo de uma retenção à taxa de 30%.

O leitor D.B., que me remeteu esta pergunta, adquiriu fundos irlandeses e luxemburgueses (como o Amundi Index FTSE EPRA NAREIT Global UCITS ETF e o iShares Core S&P 500 UCITS ETF) em intermediários europeus (como o Banco Best e a Degiro). Optou sempre por fundos de acumulação; não distribuem dividendos.

D.B. não recebe dividendos de entidades norte-americanas, por isso não precisa de preencher o W-8 BEN. São as equipas das sociedades gestoras dos seus fundos que têm o trabalho de proceder à otimização fiscal. (Nos últimos anos, a taxa efetiva de tributação dos dividendos recebidos pelo fundo iShares Core S&P 500 UCITS ETF, que investe em ações norte-americanas, foi de 14%, por exemplo.)

Os leitores que investem diretamente em títulos dos Estados Unidos da América devem ponderar o preenchimento do W-8 BEN. Pelo que consegui apurar, os intermediários portugueses encareceram substancialmente a sua comissão para processar esse formulário. Em alguns casos, o encargo está nas centenas de euros.

⋆★⋆

“Recomendaste o BiG para a conta do condomínio. É também uma boa opção para a minha empresa?”

Vários subscritores do boletim tlim controlam pequenas empresas. Outros são profissionais independentes que faturam por meio de sociedades unipessoais. Alguns perguntaram-me se as minhas conclusões sobre a melhor conta para condomínios com mais de 5000 euros, que publiquei na edição anterior, são extensíveis aos seus negócios. Talvez.

Primeiro: apenas pesquisei contas empresariais nos bancos nacionais que não tinham contas especificamente desenhadas para condomínios. Segundo: as empresas podem ter necessidades bancárias muito diferentes das dos condomínios, como cartões de crédito, linhas de crédito ou financiamento automóvel.

Penso, porém, que a Conta Global para empresas do BiG é um excelente ponto de partida para encontrar a melhor proposta para uma pequena firma. Se eu tivesse de iniciar agora uma atividade empresarial, seria por aí que começaria a minha busca.

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“A Caixa de Crédito de Leiria tem uma conta-condomínio atrativa com comissão de manutenção de 40 euros por ano, acrescida de Imposto do Selo.”

Quando procurei as melhores contas para condomínios, foquei-me propositadamente nos bancos de âmbito nacional. O subscritor R.G. alertou-me para o facto de a Caixa de Crédito de Leiria ter uma das opções mais económicas: a Conta Condomínio custa 10,40 euros por trimestre (41,60 euros por ano), o cartão de débito 17,90 euros por ano e as transferências interbancárias via Internet são gratuitas.

Acrescento a Caixa Agrícola de Mafra: a conta à ordem para pessoas coletivas (incluindo condomínios) custa 20,80 euros por semestre (41,60 euros por ano), o cartão de débito 5,20 euros por ano e as transferências interbancárias pela Internet 2,08 euros.

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“Recomendou o iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp como uma boa opção para um horizonte de 4 a 5 anos. Uma vez que uma pitada de ações aumenta o retorno e reduz a volatilidade, pode um fundo como o Vanguard LifeStrategy 20% Equity ou Vanguard LifeStrategy 40% Equity ser uma boa opção para o mesmo efeito?”

Na edição do boletim tlim de janeiro passado, recomendei o iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp UCITS ETF EUR (Acc) aos leitores que procurassem um retorno quase garantido até à data de maturidade desse fundo, em dezembro de 2028. Na altura, a sociedade gestora, a BlackRock, calculava uma rentabilidade anual estimada (antes de encargos bolsistas e impostos sobre mais-valias) de 3,03%. Agora, projeta uma rentabilidade anual de 3,46%. O capital e a rentabilidade não são garantidos pela BlackRock, mas o retorno é muito provável, graças à composição da carteira: obrigações de elevada qualidade que se vencem em 2028.

Ao contrário do que escreve o leitor B.P, recomendei o Vanguard LifeStrategy 20% Equity UCITS ETF e o Vanguard LifeStrategy 40% Equity UCITS ETF para situações diferentes. São investimentos de médio e de longo prazo (mais de 3 anos, pelo menos), sem garantia de capital nem de retorno. Historicamente, são, porém, estáveis: uma carteira com 20% ou 40% em ações e o restantes em obrigações nunca perdeu valor após 5 anos. Em média, renderam entre 2,4% e 3% por ano acima da inflação entre 1900 e 2022, mas a carteira não está estruturada para isso ser muito provável, como no iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp.

Planeio analisar a oferta de instrumentos de baixo risco na próxima edição do boletim tlim.

⋆★⋆

Seria possível partilhar a folha de cálculo que utiliza para acompanhar os seus investimentos no seu fundo: compras, vendas, rentabilidade?

Não sei se o ficheiro que preparei para o subscritor J.M. e para os restantes leitores do boletim tlim ajudará, porque sou uma ave rara: tenho apenas um instrumento financeiro na minha carteira, o que facilita substancialmente o acompanhamento dos investimentos. Está, todavia, aqui: carteira.ods.

Não é exatamente o que tenho na minha folha de cálculo, mas é próximo. As datas e os valores introduzidos são quase aleatórios, mas próximos do meu caso.

O utilizador desta folha de cálculo apenas tem de inserir o preço mais recente do fundo na célula sombreada. Será calculado automaticamente o valor atual da carteira e as rentabilidades anuais brutas e líquidas.

As operações – compras, vendas e impostos — registam-se a partir da décima linha. (A nona linha está reservada ao valor atual da carteira.) Numa nova operação, é necessário adicionar a data, o tipo, o preço e a quantidade (se for uma compra ou uma venda) e os encargos. As fórmulas das colunas dos cálculos, da F à H, são para repetir nas operações futuras.

O ficheiro está no formato OpenDocument Spreadsheet. A maioria dos programas de folhas de cálculo consegue processar este tipo de documento. Pode ainda ser importado para o Google Sheets ou para o Microsoft 365. ★

Visto

Criminosos, criadores e gestores

Vale a pena ler uma grande investigação aos criminosos que compram imóveis no Dubai.

Dito

Comissão de peritos sobre o impacto da exposição dos jovens aos ecrãs:

“Todos os enviesamentos cognitivos são utilizados para confinar as crianças aos seus ecrãs, controlá-las, reengajá-las e monetizá-las.”

Três meses após o Presidente de França, Emmanuel Macron, ter criado uma comissão para avaliar o impacto da exposição dos jovens aos ecrãs, os especialistas publicaram as suas conclusões num longo documento que não poupa nas palavras duras. A frase anterior está no preâmbulo do relatório.

O documento pormenoriza os riscos para as crianças. Por exemplo, alerta para a maneira como as mulheres são representadas, levando as raparigas a mudar o seu comportamento para coincidir com o que se espera delas.

Os especialistas — que abrangem áreas como a neurologista, epidemiologia, direito, psiquiatra e educação — reconhecem as vantagens das tecnologias junto das crianças — emancipação, acesso ao conhecimento, igualdade —, mas receiam as consequências para a sua saúde e para o seu desenvolvimento, tendo repercussões “na nossa sociedade, na nossa civilização e, talvez, na nossa humanidade”.

O grupo de trabalho ouviu muitas pessoas, incluindo representantes das redes sociais Instagram, SnapChat, TikTok e YouTube.

São várias as recomendações, mas, para os encarregados de educação, resumem-se a:

Uma rede social ética é uma que não monetiza os seus utilizadores, procurando o seu vício. Os autores do relatório não elencam essas redes, mas a maioria dos jornalistas aponta para o Mastodon e, alguns, para o Bluesky.

Após ler o relatório, pensei: os jovens não deveriam ser legalmente impedidos de aceder a redes sociais, assim como se proíbe o tabaco e o álcool aos menores? Depois, lembrei-me: já é, mas ninguém cumpre. O WhatsApp, por exemplo, é para maiores de 16 anos.

O grupo de trabalho não atribui a culpa aos pais. Dizem que também são vítimas de uma indústria poderosa. ★

Deveria fazer um donativo

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Obrigado.

— David Almas