Voltamos a receber uma convidada nesta quinquagésima sexta edição do boletim tlim:
a Anita, uma subscritora fictícia que tem resolvido os seus problemas à
vista dos restantes leitores desta publicação. Hoje, Anita investirá
em alguns dos fundos que recomendei no artigo “Onde investir em 2024”,
da edição de janeiro passado. Siga os seus passos; poderão ajudar nos
seus investimentos futuros.
Para o segundo artigo, procurei a melhor conta
bancária para o meu condomínio. Não é uma tarefa simples, mas encontrei
uma solução que poderá reduzir os encargos do seu condomínio a zero.
— David Almas
1
Anita vai às compras. Como decidiu investir?
Por David Almas a 1 de maio de 2024
O plano da Anita era começar a investir antes de 2023 abalar. Não conseguiu: finalizou a abertura de conta na Degiro, a corretora holandesa da alemã flatexDegiro, apenas nos primeiros dias de 2024.
Não desanimou: munida da aplicação de telemóvel da Degiro e do artigo “Onde investir em 2024” do boletim tlim, Anita avançou.
O desejo da leitora é a independência financeira e a reforma
antecipada (IFRA): gostaria de trabalhar durante 23 anos, dos seus
atuais 25 anos até aos 48 anos. Posteriormente, os primeiros 20 anos da
sua aposentação — quer viajar frugalmente pelo mundo — seriam
financiados exclusivamente pela sua poupança. Aos 68 anos, quando
começar a receber uma pensão, quer se fixar num meio rural, talvez a
aldeia da família no Alentejo.
Será que consegue definir uma estratégia em que o seu plano seja realista?
Primeira tentativa
Após ler o boletim tlim, Anita encantou-se pelo Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating:
a expectativa é render anualmente 3,7% acima da inflação, segundo os
números publicados pelo David Almas; historicamente, nunca teria perdido
dinheiro em períodos de 10 anos.
Ao pesquisar pelo ISIN — o código internacional de identificação
do fundo — na plataforma da Degiro, encontrou três opções: Xetra
(“XET”), Amesterdão (“EAM”) e TradeGate (“TDG”). Percebeu que se fazem
diariamente mais negócios sobre o fundo no Xetra, o que lhe poderia
fornecer melhores preços.
Durante vários dias, Anita acompanhou os negócios sobre o
Vanguard LifeStrategy 60% Equity no segmento Xetra da bolsa de
Francoforte. Fê-lo inicialmente na aplicação móvel da Degiro, mas
depressa percebeu que a página oficial da bolsa inclui mais informação.
Em algumas sessões de bolsa, Anita imaginou a sua ordem de bolsa:
definiu um preço para a sua compra, dividiu os 500 euros que tinha na
conta por esse preço e arredondou por defeito para saber a quantidade
que tentaria comprar. Posteriormente, seguiu a cotação ao longo do dia
para saber se o seu preço teria sido atingido, isto é, se a sua ordem
teria sido executada. Ganhou confiança em avançar.
Lembrou-se, então, que nunca ponderara se a sua estratégia era
legítima: será que o Vanguard LifeStrategy 60% Equity ajudá-la-ia a
aposentar-se aos 48 anos?
Introduziu o seu plano em tlim.pt/sucesso: a taxa histórica de
sucesso da sua estratégia — investir 500 euros por mês durante 23 anos,
resgatar 1000 euros por mês nos 20 anos seguintes e 700 euros por mês
após os 68 anos (tudo a preços de hoje, ajustados pela inflação futura) —
era de 71%,
assumindo que a sua carteira teria 60% em ações e 40% em obrigações,
como o Vanguard LifeStrategy 60% Equity. A história mostrava que a
estratégia corria o risco de não ser suficiente.
Segunda tentativa, mais agressiva
Anita poderia alterar a sua estratégia de várias maneiras para
aumentar a taxa histórica de sucesso. Poderia adiar a aposentação.
Poderia tentar poupar mais. Poderia projetar gastar menos no futuro. Não
foi o que a subscritora decidiu: preferiu aumentar a exposição
acionista para 80%. Assim, a taxa histórica de sucesso saltaria para 90%.
Para alguns, uma taxa de sucesso de 90% não seria suficiente. A
nossa leitura ficou satisfeita, porque os números que introduziu no
simulador eram conservadores. Acreditava, por exemplo, que a sua
poupança mensal de 500 euros aumentaria mais do que a taxa de inflação,
como a ferramenta assumia. Ainda estava no início da sua carreira
profissional e esperava ter sucesso suficiente para progredir
paulatinamente na escada laboral. Se recebesse um salário mais generoso,
tentaria manter os seus gastos mensais de modo a incrementar a poupança
além da subida inflacionista.
Se, até à aposentação antecipada, encontrasse o seu príncipe
encantado, a sua estratégia teria de ser adaptada. Quiçá fazer as contas
a dois? Não descartava também a maternidade e todas as consequências
financeiras que essa situação poderia gerar, mas, para já, essas
possibilidades não a preocupavam.
Para alcançar a exposição acionista de 80%, Anita escolheu o fundo Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating. O seu estudo voltou ao início: no boletim tlim,
verificou que a rentabilidade real seria potencialmente de 4,3% por ano
e a probabilidade histórica de perdas após 13 anos era nula; analisou a
página da Vanguard referente ao produto (incluindo a sua baixa taxa de
encargos correntes, de 0,25% por ano); e acompanhou a página oficial
do fundo no Xetra da bolsa de Francoforte. Percebeu que, se comprasse
unidades através da Degiro, pagaria 3 euros por operação e que,
anualmente, a corretora cobraria adicionalmente 2,50 euros.
Surpreendeu-se quando calculou o diferencial entre as melhores
propostas de compra e as melhores propostas de venda: nessa página
oficial, o ask era normalmente superior ao bid em 0,1% ao
longo das várias sessões de bolsa que acompanhou. (No Vanguard
LifeStrategy 60% Equity, era frequentemente de 0,2%.) Portanto, mesmo
que se enganasse na sua ordem de bolsa de compra de unidades do Vanguard
LifeStrategy 80% Equity, “perderia”, em média, cerca de um milésimo do
seu investimento.
Estava pronta para a sua primeira ordem de bolsa.
Compra na bolsa
Após transferir os 505,50 euros para Degiro (contava gastar 500 euros
na compra, pagar uma comissão de 3 euros e reservar 2,50 euros para os
encargos anuais), Anita colocou a sua ordem de compra.
Primeira ordem de compra Colocada através da Degiro no dia 26 de janeiro de 2024.
Decidiu solicitar uma compra no Xetra ao preço mais recente, de 31,15
euros. A ordem não foi executada imediatamente — o preço primeiro subiu
e chegou a 31,205 euros —, mas, pouco tempo depois, conseguiu adquirir
as suas primeiras unidades. No final da sessão, os seus títulos, que
tinham custado 498,40 euros (16 × 31,15€), valiam 499,04 euros (16 ×
31,19€). Estava 64 cêntimos mais rica!
Radiante, consultou a aplicação da Degiro várias vezes por dia.
Às vezes, a cotação descia, mas a tendência era para enriquecer. Anita
tinha consciência que aqueles preços não eram relevantes: além do preço
de compra, apenas o preço de venda é importante. Por isso, a consulta
frequente do seu saldo de títulos era apenas um passatempo.
Não planeava vender o seu fundo nos próximos 20 anos. Era assim que pensava até receber o boletim tlim de fevereiro.
Venda na bolsa
Após ler a edição de fevereiro do boletim tlim,
Anita ficou preocupada: “Se a Degiro se enganar e ‘perder’ o registo dos
meus títulos, como resolvo o problema?” Tinha um endereço de correio
eletrónico, mas teve de procurar para encontrar o número de telefone de apoio aos clientes. “E se necessitar de contactar o supervisor? Telefono para os alemães da BaFin ou para os holandeses da DNB ou da AFM?”
O que mais assustou Anita foi a possibilidade de morrer e de os
títulos ficarem eternamente na Degiro. Tudo poderia acontecer nos
próximos 20 anos.
Não precisou de muito tempo para decidir fechar a conta na Degiro
e reiniciar o processo de investimento no Vanguard LifeStrategy 80%
Equity através da plataforma Best Trading Pro do Banco Best, a melhor e mais barata para transacionar fundos no Xetra, segundo o boletim tlim.
O Banco Best, além de ter presença física em cinco cidades portuguesas,
é supervisionado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e pelo
Banco de Portugal, que têm atendimento presencial em Lisboa.
Após a abertura de conta no Banco Best, decidiu fazer todas as
operações no mesmo dia. De manhã, vendeu as suas unidades na Degiro.
Primeira ordem de venda Colocada através da Degiro no dia 6 de fevereiro de 2024.
A sua ordem de venda, a 31,55 euros, demorou vários minutos a
encontrar comprador na bolsa. Esse compasso de espera deflagrou uma
dúvida na mente da Anita: será necessário definir um preço na ordem? Se,
a cada momento, na bolsa, a diferença percentual entre o preço proposto
mais alto para comprar unidades e o preço proposto mais baixo para
vender unidades é centesimal, não se perderá muito numa ordem ao melhor
preço (também conhecida por ordem de mercado). Além disso, poupa-se
tempo e paciência.
À tarde, quando se preparava para lançar uma ordem de compra pela
Best Trading Pro, enfrentou um problema: teria de instalar uma
aplicação no telemóvel ou no computador. Foi através da linha de apoio
do Banco Best que descobriu que não seria necessário: poderia fazê-lo
num programa de navegação na Internet, digitando o endereço www.btp.pt.
Segunda ordem de compra Colocada através da Best Trading Pro no dia 6 de fevereiro de 2024.
Enquanto não recebia o dinheiro da venda na Degiro, Anita adiantou da
sua conta à ordem 500 euros aos 500 euros que planeava investir em
fevereiro.
A sua ordem de compra de 31 unidades do Vanguard LifeStrategy 80%
Equity no Xetra ao preço de mercado foi executada em 1 segundo: pagou
31,455 euros por cada título. Ficou feliz por conseguir pagar menos do
que recebera nessa manhã na Degiro.
O Banco Best reteve-lhe 985,51 euros: 975,11 euros das unidades
(31 × 31,455€) e 10,40 euros de encargo de bolsa. Não considerou a
comissão exagerada: representava 1% do investimento.
Futuro
Para deixar o seu plano financeiro em modo de cruzeiro, tinha apenas
de dar um passo: transferir o dinheiro na Degiro para o seu banco
português e encerrar essa conta germano-holandesa.
Posteriormente, a sua estratégia para os 23 anos seguintes seria:
Poupar 500 euros ou mais todos os meses;
A cada 2 meses, comprar, ao preço de mercado, 1000 euros ou
mais em unidades do Vanguard LifeStrategy 80% Equity no Xetra através da
Best Trading Pro;
Tentar não consultar diariamente a cotação do seu fundo.
Nas semanas seguintes, Anita teve vontade de fazer mais: procurar
fundos mais interessantes, investigar o investimento direto em ações,
estudar as obrigações que a Greenvolt e a Benfica SAD promoviam. Teve de
lutar contra si para ficar quieta e manter a sua carteira simples.
Afinal, a simplicidade é o segredo do sucesso dos investidores. ★
2
Condomínio. Reduza os encargos financeiros a zero
Por David Almas a 1 de maio de 2024
Fiquei de boca aberta quando o meu vizinho me mostrou as comissões que a Caixa Geral de Depósitos cobra ao nosso condomínio.
Desde a pandemia, em 2020, fizemos apenas uma reunião de condóminos no prédio. É ridículo (e ilegal),
mas a pequena dimensão — são seis apartamentos — leva-nos a trabalhar
na base da confiança. Não estava a par do escandaloso aumento de
comissões. O encargo de manutenção da conta-condomínio da CGD é de
124,80 euros por ano. Há 5 anos, não havia essa despesa para os
condomínios com mais de 5000 euros e, simultaneamente, com serviço de
banca eletrónica.
Antes de quebrarmos o longo hiato sem reunião de condóminos,
preparei-me: mergulhei nos preçários dos bancos em busca da melhor
solução. Visitei alguns balcões para esclarecer dúvidas que os preçários
não respondiam.
O que queria era simples:
Não pagar comissão de manutenção, se possível.
Um montante mínimo de abertura de conta de 5000 euros ou inferior.
Alteração gratuita de titulares. Quando os
administradores do condomínio mudarem, não queremos pagar para atualizar
os movimentadores da conta.
Um cartão de débito muito barato (menos de 20 euros por
ano) ou transferências bancárias via Internet muito económicas (menos de
1 euro). Todas as operações financeiras do meu condomínio podem ser
liquidadas por transferência bancária ou por pagamento com referência
Multibanco.
Se possível, ter acesso a aplicações financeiras que compensem os encargos da conta.
À partida, a lista anterior não me parecia muito exigente.
Exigentes a cobrar
Estava enganado. As propostas dos bancos são caras. Em resumo, são
estas as contas para condomínios desenhadas pela banca nacional:
Abanca: Por 7,80 euros por mês (93,60 euros por ano), esta conta-condomínio
inclui gratuitamente um cartão de débito e 3 transferências
interbancárias efetuadas pelo serviço de banca eletrónica. O montante
mínimo de abertura é de 125 euros.
Atlântico Europa: O encargo de manutenção da conta-condomínio é de 26 euros por trimestre (104 euros por ano).
Banco Montepio: A conta-condomínio custa 7,80 euros por mês (93,60 euros por ano), mas envolvendo-a no pacote E.Condomínio
pode custar entre 5,20 euros por mês e 10,40 euros por mês (62,40 euros
a 124,80 euros por ano) e incluir gratuitamente cartão de débito e
transferências interbancárias. O montante mínimo de abertura é de 250
euros.
Caixa Geral de Depósitos: A conta-condomínio
tem um encargo de 10,40 euros por mês (124,80 euros por ano). Se o
condomínio tiver dívidas superiores a 7500 euros à CGD, essa despesa
baixa para 6,76 euros por mês (81,12 euros por ano).
Millennium bcp: O custo de manutenção
da conta-condomínio depende do património depositado no banco. Se for
inferior a 3000 euros, a despesa trimestral é de 18,72 euros (74,88
euros por ano); se for superior a 6000 euros, não há encargo; nos outros
casos, custa 9,36 euros por trimestre (37,44 euros por ano). O montante
mínimo de abertura é de 125 euros.
Novo Banco: A Conta Negócios Condomínio tem um encargo mensal de 9,36 euros (112,32 euros por ano).
Santander: A conta-condomínio custa 6,76 euros por mês (81,12 euros).
Nem todas as contas incluem gratuitamente cartões de débito e
transferências bancárias. Os cartões custam normalmente perto de 18
euros por ano e as transferências interbancárias normais cerca de 1
euro.
No Millennium bcp, o banco que menos cobra aos condomínio com um
património financeiro de 5000 euros, o cartão de débito tem um encargo
anual de 18,72 euros e as transferências interbancárias pela Internet
1,14 euros.
Não são a única solução
Os condomínios não são, todavia, obrigados a constituir contas
desenhadas exclusivamente para condomínios. Alguns bancos permitem a
abertura de uma conta empresarial.
Após uma busca exaustiva, concluí que a melhor opção para o meu
condomínio seria a Conta Global para empresas do Banco de Investimento
Global, que usa a marca BiG. Sumariamente, estas seriam as condições:
Mínimo de abertura: 5000 euros.
Encargo de manutenção: 5,20 euros por
mês (62,40 euros por ano). O BiG isenta os condomínios desta despesa se o
património for superior a 25 mil euros.
Cartão de débito BiG Mastercard:
No primeiro ano, custa 10,40 euros; nos seguintes, 14,56 euros. Se
houver mudança de administrador, é necessário solicitar a substituição
do cartão, o que representa uma despesa de 6,76 euros.
Transferências interbancárias via Internet: 0,52 euros por operação.
Alteração de intervenientes na conta: 7,28 euros por mudança, mas os condomínios estão isentos, segundo o preçário.
Para um condomínio com um património de 5000 euros, o encargo de
manutenção de conta do BiG (62,40 euros por ano) é superior ao do
Millennium bcp (37,44 euros por ano). Há, todavia, uma grande diferença:
o BiG é generoso nas aplicações a prazo.
Enquanto o Millennium bcp não paga agora mais do que 1,05% numa
aplicação de 5000 euros, o BiG oferece taxas de juro até 4%. Mesmo
excluindo os depósitos promocionais, o BiG é mais interessante:
aplicando 5000 euros no Depósito a Prazo Standard,
o condomínio recebe juros de 108,36 euros após 1 ano, o que mais do que
compensa todas as despesas esperadas associadas à conta bancária.
Na minha visita ao balcão do BiG, em Lisboa, alertaram-me para o
facto de não ser um banco de retalho, o que se reflete, por exemplo, na
demora na satisfação de alguns pedidos. Disseram-me que um cartão de
débito pode demorar quatro semanas a chegar ao correio do condomínio.
Surpresa: não temos tanto dinheiro
Quando quis apresentar a minha proposta ao administrador do
condomínio em antecipação à assembleia de condóminos, ele corrigiu-me:
não temos 5000 euros; após as obras no telhado, temos perto de 2000
euros. Com um montante mínimo de abertura de conta empresarial de 5000
euros, o BiG não é uma opção.
Voltei à minha folha de cálculo e encontrei outra solução, menos interessante, a Conta à Ordem Empresas do EuroBic:
Mínimo de abertura: 250 euros.
Encargo de manutenção: 15,60 euros por trimestre (62,40 euros por ano) quando o património financeiro não chega aos 5000 euros.
Cartão de débito: 18,72 euros por ano; a substituição custa 15,60 euros.
Transferências interbancárias via Internet: 1,04 euros por operação.
Alteração de intervenientes na conta: 8,61 euros por mudança, mas os condomínios estão isentos, segundo o preçário.
A minha proposta para os meus parceiros condóminos será constituir
esta conta à ordem no EuroBic sem cartão de débito e encerrar a conta na
Caixa Geral de Depósitos. O saldo disponível deverá ser aplicado num
depósito a prazo: à taxa de 1,15%, gerará 17,49 euros após um ano.
Deverá ser suficiente para pagar as transferências bancárias periódicas,
pelo menos.
Em todas as visitas aos bancos, os colaboradores bancários
avisaram-me que é muito difícil abrir conta para condomínios, porque os
seus departamentos jurídicos são exigentes. É preciso apresentar os
estatutos e os regulamentos do condomínio para provar a composição da
administração, a sua rotação, os seus poderes e as suas formas de
obrigar o condomínio. É também obrigatória a apresentação da ata da
assembleia de condóminos que delibera a abertura de conta junto do banco
selecionado, a sua forma de movimentação e autorizações para
contratação e utilização de soluções, como cartão de débito e serviço de
banca eletrónica. Adicionalmente, é necessário o cartão de contribuinte
do condomínio e os documentos dos administradores com poderes de
movimentação: documento de identificação e de contribuinte, comprovativo
de morada e comprovativo de situação profissional.
Desconfio que será difícil convencer os meus vizinhos a mudarem
da Caixa Geral de Depósitos para pouparmos algumas dezenas de euros por
ano. ★
Respondido
“O estratagema da Revolut já não funciona com o Wizink e o Bankintercard FCP. É uma coisa recente.”
“É contra a política de utilização da Revolut ser
utilizada para beneficiar dos programas dos cartões de crédito. Recebi
um aviso há pouco tempo.”
“Menciona que o Black Plus tem custos. Fui verificar os extratos e não aparece nada.”
Terminei o artigo “Cartões de crédito. Maximize os cash-backs”, que publiquei na edição anterior do boletim tlim, assim: “Não fique parado: aproveite enquanto estes cash-backs perduram.” Infelizmente, alguns duraram muito pouco tempo.
Vários leitores, incluindo D.F., D.S. e F.S.,
que me remeteram as mensagens anteriores, avisaram-me para as mudanças
mais recentes. Aparentemente, as estratégias que envolviam os cartões Wizink Rewards e FC Porto e a conta Revolut já não funcionam. A leitora A.M.
conseguiu, porém, receber um cartão-presente da Ikea oferecido pelo
Wizink no passado mês de abril efetuando um único carregamento na
Revolut.
Há, todavia, uma boa notícia: a Cetelem já não cobra comissão de processamento de prestações no Black Plus.
A maximização das devoluções dos cartões de crédito exige o
permanente acompanhamento das ofertas bancárias. Concordo com muitos
subscritores que me disseram que é muito esforço para pouco retorno. Se
conseguisse contratar cartões de crédito — ninguém mos disponibiliza,
porque não tenho rendimentos regulares —, manteria o meu Cofidis e
adicionaria apenas o Black Plus e o Deco Proteste na opção com cash-back.
⋆★⋆
“Se tivesse que voltar a investir a partir da estaca
zero, voltaria a colocar o seu dinheiro no IWDA ou preferiria explorar
os outros fundos que referiu?”
O subscritor D.C. ficou com a sensação de que, nos
artigos mais recentes, tenho privilegiado os fundos Vanguard
LifeStrategy e Fidelity MSCI World Index e que coloquei em segundo plano
o fundo que elegi para o meu património, o iShares Core MSCI World
UCITS ETF, conhecido por “IWDA”, o seu código de negociação na bolsa de
Amesterdão.
Sou um investidor acionista de longo prazo: desejo expor-me total
e permanentemente aos mercados acionistas. Não investiria num dos
Vanguard LifeStrategy, porque a exposição às ações varia entre 20% e 80%
da carteira.
Apesar do elevado encargo de subscrição, de 2,08% do montante
investido, gosto do Fidelity MSCI World Index, porque é simples:
subscreve-se no Banco Best sem complicações.
Investir no IWDA envolve encargos de bolsa — comissões de compra e
de venda, pelo menos — e exige alguma atenção e experiência na
negociação. Excluindo as despesas da equação, acredito, todavia, que o
IWDA é potencialmente mais rentável. A minha expectativa é que a
diferença seja marginal, na ordem das centésimas de pontos percentuais
por ano. Não confio, contudo, completamente nessa expectativa.
Se começasse hoje a minha carreira de investidor, optaria
provavelmente pelo Fidelity MSCI World Index: calculo que seja a opção
mais rentável no longo prazo se investisse 500 euros ou menos por mês,
após contabilizar todos os encargos. Mais importante: é a opção mais
simples.
Vejo apenas uma desvantagem nesse produto: o meu fundo de
investimento, além de ser a minha carteira de longo prazo, é
simultaneamente o meu fundo de emergência; se tivesse de resgatar o
Fidelity MSCI World Index antes de uma década de investimento, não teria
tempo para diluir a comissão de subscrição. Seria, porém, um mal menor.
⋆★⋆
“Usas táxi ou Uber?”
Nenhum. Opto normalmente por andar a pé ou, pontualmente, de
transportes públicos. Recorro ao meu idoso automóvel maioritariamente
nas férias.
Recentemente, os astros alinharam-se num evento raro e necessitei
de um transporte mais rápido: tinha um voo madrugador com os meus
filhos. (Se fosse sozinho, teria caminhado até ao aeroporto de Lisboa,
que fica a cerca de cinco quilómetros da minha casa.) Foi uma
oportunidade única para responder à dúvida de R.R..
Escrevi em edições anteriores do boletim tlim sobre o emerdamento
de ofertas comerciais: após habituarem os clientes, as empresas retiram
unilateral e remotamente qualidades aos seus produtos. Aconteceu com a
Uber e a Bolt, empresas de transporte em veículo descaracterizado a
partir de plataforma eletrónica (TVDE).
Ao contrário dos táxis, em que a convenção de preços é conhecida,
a Uber e a Bolt deixaram de publicar abertamente os seus preços de
referência. Para os conhecer, é preciso instalar as suas aplicações
eletrónicas, adicionar um meio de pagamento e simular pedidos de
transporte.
Instalei ambas as aplicações e acompanhei os seus preços em
Lisboa durante alguns dias. Concluí que, geralmente, a Bolt é mais
barata do que a Uber. O táxi é mais caro, exceto quando é ativado o
preço dinâmico nos TVDE: quando a procura é elevada, a Uber e a Bolt
cobram mais. O táxi é também mais barato quando se deseja agendar
antecipadamente uma viagem.
Fomos para o aeroporto de Bolt, aproveitando um desconto de 30%
na primeira viagem após o registo. No regresso, apaguei as minhas contas
na Bolt e na Uber e eliminei as aplicações do meu telefone: não prevejo
usá-las nos próximos 12 meses. ★
Visto
Mais fundos cotados
Os índices de fatores podem não ser tão rentáveis como aparentavam. O
maior fundo europeu sofreu um colapso repentino. Uma “guru” de fundos
cotados norte-americanos quer convencer agora os europeus.
Em janeiro passado, quando dois leitores me indagaram pelo
investimento acionista seguindo fatores (dividendos, dimensão e
qualidade, por exemplo), desaconselhei — apontei uma probabilidade não
negligenciável de não bater os índices genéricos —, mas sugeri a quem
quisesse aprofundar o seu estudo a analisar as bases de dados de Kenneth French, que a par de Eugene Fama, é um dos pais desta área de investigação.
Aparentemente, nem essa base de dados é confiável. Um grupo de
académicos estranhou mudanças pontuais nos ficheiros, que deveriam ser
imutáveis, o que influenciou os retornos históricos das estratégias de
investimento por fatores. Além disso, essa base de dados é mantida pela
Dimensional Fund Advisors, que gere fundos de investimento por fatores e
que tem Eugene Fama e Kenneth French na sua lista de colaboradores.
Fama e French reagiram às críticas: disseram que houve correções
nos registos bolsistas históricos e ajustamentos relacionados com
mudanças contabilísticas.
É, todavia, mais uma pequena razão para desconfiar do sobredesempenho do investimento por fatores.
No primeiro artigo desta edição sugeri a compra e a venda de
unidades dos fundos cotados por meio de ordens de mercado. É o que tenho
feito nas minhas vendas mais recentes: consulto as transações mais
recentes sobre o meu fundo na página da Euronext e, se estiverem normais, coloco uma ordem de venda ao melhor, que é executada quase instantaneamente.
Muito raramente, a normalidade não reside na bolsa. Foi o que
aconteceu momentaneamente após às 14h30 do passado dia 5 de abril na
bolsa de Francoforte na negociação do meu fundo, o iShares Core MSCI
World UCITS ETF. (Eu transaciono-o em Amesterdão e não houve
anormalidade.)
Theo Andrew, da ETF Stream, explica que houve um colapso
repentino na cotação do fundo após a apresentação dos números do emprego
nos Estados Unidos da América. Aparentemente, os criadores de mercado —
entidades que deveriam garantir a liquidez dos títulos — reduziram as
suas transações na altura da apresentação das estatísticas
macroeconómicas. São vários os criadores de mercado a atuar sobre as
unidades do fundo em Francoforte, incluindo o BNP Paribas, o Morgan
Stanley e a Société Générale.
No segmento Xetra, após as 14h30, o fundo registava uma queda de
6,12% face ao preço de fecho do dia anterior, ultrapassando o limite de
5% que origina a suspensão automática da negociação. Quando as
transações foram reativadas, a normalidade voltou. Terminou essa
sexta-feira a valer menos 0,7% do que na véspera, espelhando o movimento
em Amesterdão.
Sei que alguns subscritores do boletim tlim participam ou participaram nos fundos norte-americanos Ark Invest. A sociedade gestora estreou três novos fundos na Europa há poucas semanas.
Mencionei raramente os fundos Ark Invest, mas sempre para
desaconselhar os produtos liderados por Cathie Wood. Em 2022, escrevi
que a história de Wood “é um eco de outros antigos heróis da bolsa:
quando os mercados sobem, acumulam risco para apresentar bons retornos;
quando os títulos descem, é a catástrofe”. Agora que muitos investidores
norte-americanos perceberam as fraquezas dos fundos da Ark Invest, a
gestora tenta convencer os europeus com produtos que respeitam as normas
comunitárias.
O Ark Innovation ETF, listado em Nova Iorque, rendeu o sêxtuplo
do desempenho do índice S&P 500 entre 2020 e 2021, mas não conseguiu
permanecer à frente muito tempo. Desde o seu lançamento, em 2014, o Ark
Innovation ETF ganhou 9,91% por ano; o fundo SPDR S&P 500 ETF
rendeu 12,25%, em dólares norte-americanos.
A Freedom Holding é uma corretora cazaque que opera a nível europeu com a marca Freedom24. Está cotada no Nasdaq.
Nesta entrevista à Leonor Mateus Ferreira para o Jornal de Negócios (de acesso condicionado), Timur Turlov, o fundador da Freedom Holding, sugere
que pode comprar um banco português para incrementar o seu negócio
europeu. “Temos o sonho de comprar um banco europeu ou ter licença
bancária. Talvez seja um banco português e até já fizemos alguma
análise.” Reiterou esse interesse ao Luís Leitão, no Eco.
A minha recomendação para os leitores do boletim tlim:
mantenham-se longe. A minha recomendação para os jornalistas: não
aceitem uma viagem paga a Nova Iorque para entrevistar Timur Turlov.
É sempre um mau sinal quando o preçário prevê uma comissão de encerramento de conta. Na Freedom24, é de 100 euros.
Pior: nas condições gerais
da Freedom24, os clientes autorizam a corretora a registar os seus
títulos em nome de um custodiante. Nesse caso, “os ativos em custódia
podem não ser segregados ou separadamente identificáveis dos ativos da
sociedade ou de um custodiante e, em caso de incumprimento por parte da
sociedade ou do custodiante, podem não estar tão bem protegidos de
quaisquer reivindicações por parte dos credores da sociedade”. Essa
custódia não é gratuita: custa o equivalente a 0,3% do património por
ano.
Em 2023, a Forbes explicou
que todas as transações dos clientes da Freedom Holding sobre ações
norte-americanas passam por uma firma de Belize totalmente controlada
por Timur Turlov.
O artigo da Forbes confirmou algumas das acusações de um relatório que o Hindenburg Research publicou
nesse ano: detetou evasão a sanções, receitas empoladas, suspeitas de
manipulação dos títulos e agregação dos ativos da companhia com o
património de clientes. O Hindenburg Research adotou uma posição curta
nas ações do grupo.
No seu relatório anual,
a Freedom Holding assumiu prestar serviços a pessoas sujeitas a sanções
da União Europeia, dos Estados Unidos da América e do Reino Unido, mas
fora dessas regiões.
Timur Turlov diz que as alegações de ilegalidades são falsas. A Standard & Poor’s, a agência de rating, manteve a classificação atribuída à Freedom Holding no nível B−.
A Leonor Mateus Ferreira reporta que a Freedom Holding tem 10
influenciadores em Portugal e 5500 clientes nacionais. Em 2021, a firma previa somar 10 mil clientes até ao final desse ano.
Patrick McKenzie é uma das pessoas que mais sabe sobre as
complexidades do sistema bancário. Tem, além disso, um estilo de escrita
divertido.
Neste artigo, McKenzie explica os motivos para algumas entidades
emitirem cartões de crédito com benefícios financeiros, como as
devoluções. Ao contrário do que pensava, não é apenas uma estratégia de marketing.
“Os emissores de cartões de crédito cobram explícita e diretamente ao
resto da economia o trabalho envolvido no recrutamento dos clientes mais
desejáveis”, conta.
O JPMorgan Chase, o maior banco dos Estados Unidos da América,
prepara-se para destrancar a informação sobre os gastos dos seus 80
milhões de clientes para as marcas anunciarem-lhes diretamente com
publicidade direcionada.
A jornalista Raquel Oliveira, do Correio da Manhã,
consultou um estudo que a companhia de seguros Fidelidade efetuou sobre a
sua carteira automóvel. Concluiu que os carros elétricos têm uma
probabilidade de acidente 50% superior aos veículos de combustão
interna. Os híbridos têm uma probabilidade 25% superior.
Este artigo, de acesso condicionado, aponta três razões para o
maior número de acidentes dos automóveis elétricos: a aceleração tende a
ser maior, são mais pesados e mais silenciosos, o que está associado a
atropelamentos. A reparação dos elétricos é também mais dispendiosa e
demorada.
Se se confirmar, é natural que os prémios de seguros dos carros elétricos sejam mais caros.
Ao longo do passado mês de abril, vendeu-se várias vezes
eletricidade a preços negativos no mercado grossista português. Por
exemplo, na tarde do dia 15, o preço foi de −63 cêntimos por megawatt-hora. Em 2023, o preço médio durante o mês de abril foi de 75 euros.
Os consumidores com tarifas indexadas, como eu, deverão sentir os preços reduzidos na próxima fatura.
Os operadores do mercado energético ibérico esperam que os preços
continuem baixos: 29 euros em maio (75 euros em 2023) e 43,50 euros em
junho (94 euros em 2023), segundo as cotações de contratos de futuros sobre a eletricidade portuguesa.
Dica do mês: se estiver enraivecido com alguma coisa, escreva o
motivo da sua ira num papel e deite-o para o lixo. É possível que essa
cólera passe.
Yuta Kanaya e Nobuyuki Kawai, da Universidade de Nagoia, no
Japão, procuravam meios de supressão da raiva. Encontram este método que
elimina quase totalmente a ira, segundo este estudo académico.
Vários leitores não gostaram do comentário negativo que fiz na edição anterior do boletim tlim ao livro mais recente de Pedro Andersson, Ganhar Dinheiro.
Esclareço que acredito que o autor contribui para as finanças pessoais
dos portugueses, mas o saldo é negativo quando se debruça sobre
investimentos.
Exemplifico com um dos últimos artigos do seu blogue. Li-o à
procura de erros exclusivamente no campo das finanças. (Infelizmente, há
também muitos erros ortográficos e gramaticais.):
“Quer os Fundos PPR, quer os ETF têm risco e não têm capital garantido.” É uma generalização errada. Há PPR na modalidade de fundos que têm capital garantido. O PPR Golden SGF Poupança Garantida, um fundo de pensões, é um deles.
“Os ETF não têm ninguém a geri-los.”
Claro que há pessoas a gerir os fundos cotados. A replicação de um
índice pode dar menos trabalho do que gerir uma carteira ativa de
títulos, mas é preciso tomar decisões. A BlackRock, a maior gestora de
ativos no mundo, tem cerca de 20 mil colaboradores. A gestão de fundos
de índice (essencialmente com a marca iShares) é o seu principal
negócio.
“Também, após 8 anos, a fiscalidade é muito
diferente. Os PPR só pagam 8% dos lucros ao Estado, enquanto os ETF
pagam 28% sempre.” Se o PPR for resgatado fora das condições
legais, a tributação é à taxa de 8,6% após 8 anos. As mais-valias dos
fundos cotados não “pagam 28% sempre”: podem ser englobadas, ficando à
mercê de outras taxas de tributação.
“Não se trata ‘dos PPR’, porque comparo apenas
dois com uma forte carga de ações (...) com dois ETF de corretoras
específicas que podem ter ligeiras diferenças de comissões de gestão e
políticas de formação do índice, relativamente aos mesmos ETF de outras
corretoras.” Os fundos cotados não são de corretoras: os
intermediários de bolsa apenas facultam o acesso às bolsas nas quais os
fundos são negociados. Os fundos cotados são geridos por sociedades
gestoras, como a BlackRock e a State Street. (Aliás, os fundos são dos
participantes, os investidores.)
O mesmo fundo cotado tem a mesma comissão de gestão
independentemente da corretora em que seja negociado. O que pode
eventualmente ser díspar são os encargos de bolsa, como as comissões de
compra e de venda.
“ETF, também conhecido como tracker,
significa Exchange Traded Fund (fundo de índices cotados). É um produto
que segue um índice, mercadoria, obrigação ou composição de produtos.” Nem na definição mais básica acerta. Exchange-traded fund
é um fundo cotado. Nem todos os fundos cotados são fundos de índice. O
Ark Innovation ETF, por exemplo, é um fundo cotado, mas não replica
nenhum índice.
Fiquei a meio do artigo. As citações anteriores devem ser suficiente
para os leitores compreenderem que o Pedro Andersson não tem
conhecimentos para escrever credivelmente um livro de investimentos.
Na edição de dezembro de 2023, escrevi: “O portal [da Trade
Republic] revela que o saldo não investido até 50 mil euros é remunerado
à taxa de juro anual de 4%. É uma excelente remuneração para o
equivalente a uma conta à ordem. Não é, porém, uma conta à ordem.”
Descrevi que os montantes dos clientes eram agregados em contas omnibus junto de bancos europeus.
Verifico agora que, no dia em que partilhei a edição de dezembro,
a Trade Republic publicou esta ficha de informação sobre os depósitos
dos clientes, que inclui a detalhes sobre a garantia: estão protegidos
até 100 mil euros pelo sistema alemão. ★
Dito
Daniel Kahneman:
“No contexto dos investimentos, as pessoas não sabem quão bem se portaram.”
O único livro que tenho sobre a minha secretária é Pensar, Depressa e Devagar, de Daniel Kahneman. Está aqui há meses; talvez dois anos.
A par da minha preguiça, este livro é o culpado por eu parar de escrever o meu livro.
Como alguns leitores do boletim tlim sabem,
parei a meio da escrita de um longo livro sobre investimentos. É suposto
ter duas partes: uma histórica e teórica, quase terminada, e uma
prática, ainda não iniciada. Para finalizar a primeira parte, tenho de
escrever o capítulo sobre finanças comportamentais, a área em que Daniel
Kahneman e o seu amigo Amos Tvserky, também psicólogo, criaram com o
economista Richard Thaler. Duvido que lhes consiga fazer justiça.
Ainda não terminei a leitura de Pensar, Depressa e Devagar.
Sempre que o retomo, bloqueio: por um lado, quero tomar notas das
coisas importantes, mas tudo é importante; por outro lado, quero
prolongar o prazer de ler este livro. Tenho a certeza de que, quando o
finalizar, voltarei ao início.
Ao ler a recente eulogia de Jason Zweig, o meu jornalista de Finanças preferido, surpreendi-me com o facto de ele ter ajudado Kahneman na escrita de Pensar, Depressa e Devagar. (Fiz batota e saltei para o capítulo dos agradecimentos; Zweig é a primeira pessoa a quem Kahneman agradece.)
Kahneman, que recebeu o Prémio Nobel da Economia em 2002, morreu no passado mês de março, aos 90 anos.
Daniel Kahneman moldou-me a maneira de pensar. Cruzei-me várias
vezes com o seu trabalho — além das finanças comportamentais, duas das
suas áreas de investigação são o bem-estar e o hedonismo, que sempre me
interessaram —, mas foi o livro Projeto Refazer, de Michael Lewis, o melhor contador de histórias de Finanças, que me levou a estudar mais atentamente o seu trabalho. O Projeto Refazer é a história de amor entre Kahneman e Tvserky que permitiu desbravar novas áreas na Psicologia.
Kahneman e Tversky exponenciaram o meu natural agnosticismo
financeiro. São a razão para não fazer previsões. São o motivo para
testar matematicamente a estratégia Boas & Baratas. São a causa para
confiar apenas numericamente no passado, seguindo a investigação de
outros grandes contribuintes para as Finanças, como Robert Shiller.
A frase que cito atrás foi retirada da entrevista
que Morgan Housel, um dos melhores pensadores contemporâneos de
Finanças, fez a Daniel Kahneman em 2013. É essa ideia que me leva a
atualizar periodicamente uma folha de cálculo com o desempenho da minha
carteira contra várias outras soluções que ponderei em 2013, quando
comecei a investir no fundo iShares Core MSCI World UCITS ETF.
Como me portei? Desempenho entre 31 de agosto de 2013 e 31 de março de 2024.
Rentabilidade anualizada
Volatilidade mensal anualizada
A minha carteira
12,31%
12,84%
Goldman Sachs Global CORE Equity Portfolio E
11,79%
14,22%
Caixa Ações Líderes Globais
10,09%
12,82%
Gestão discricionária da Casa de Investimentos
6,21%
16,33%
Se tivesse optado pela Casa de Investimentos, teria pouco mais de
metade do que tenho. Até agora, sei que me portei bem nos investimentos.
Continuarei a avaliar se o fundo que escolhi para a minha
carteira continua a ser a melhor escolha. Atualizarei mensalmente a
minha folha de cálculo, kahneman.ods. ★
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