Boletim tlim n.º 56 ★ Maio de 2024

Olá!

Voltamos a receber uma convidada nesta quinquagésima sexta edição do boletim tlim: a Anita, uma subscritora fictícia que tem resolvido os seus problemas à vista dos restantes leitores desta publicação. Hoje, Anita investirá em alguns dos fundos que recomendei no artigo “Onde investir em 2024”, da edição de janeiro passado. Siga os seus passos; poderão ajudar nos seus investimentos futuros.

Para o segundo artigo, procurei a melhor conta bancária para o meu condomínio. Não é uma tarefa simples, mas encontrei uma solução que poderá reduzir os encargos do seu condomínio a zero.

— David Almas

1

Anita vai às compras. Como decidiu investir?

Por David Almas a 1 de maio de 2024

O plano da Anita era começar a investir antes de 2023 abalar. Não conseguiu: finalizou a abertura de conta na Degiro, a corretora holandesa da alemã flatexDegiro, apenas nos primeiros dias de 2024.

Não desanimou: munida da aplicação de telemóvel da Degiro e do artigo “Onde investir em 2024” do boletim tlim, Anita avançou.

O desejo da leitora é a independência financeira e a reforma antecipada (IFRA): gostaria de trabalhar durante 23 anos, dos seus atuais 25 anos até aos 48 anos. Posteriormente, os primeiros 20 anos da sua aposentação — quer viajar frugalmente pelo mundo — seriam financiados exclusivamente pela sua poupança. Aos 68 anos, quando começar a receber uma pensão, quer se fixar num meio rural, talvez a aldeia da família no Alentejo.

Será que consegue definir uma estratégia em que o seu plano seja realista?

Primeira tentativa

Após ler o boletim tlim, Anita encantou-se pelo Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating: a expectativa é render anualmente 3,7% acima da inflação, segundo os números publicados pelo David Almas; historicamente, nunca teria perdido dinheiro em períodos de 10 anos.

Ao pesquisar pelo ISIN — o código internacional de identificação do fundo — na plataforma da Degiro, encontrou três opções: Xetra (“XET”), Amesterdão (“EAM”) e TradeGate (“TDG”). Percebeu que se fazem diariamente mais negócios sobre o fundo no Xetra, o que lhe poderia fornecer melhores preços.

Durante vários dias, Anita acompanhou os negócios sobre o Vanguard LifeStrategy 60% Equity no segmento Xetra da bolsa de Francoforte. Fê-lo inicialmente na aplicação móvel da Degiro, mas depressa percebeu que a página oficial da bolsa inclui mais informação.

Em algumas sessões de bolsa, Anita imaginou a sua ordem de bolsa: definiu um preço para a sua compra, dividiu os 500 euros que tinha na conta por esse preço e arredondou por defeito para saber a quantidade que tentaria comprar. Posteriormente, seguiu a cotação ao longo do dia para saber se o seu preço teria sido atingido, isto é, se a sua ordem teria sido executada. Ganhou confiança em avançar.

Lembrou-se, então, que nunca ponderara se a sua estratégia era legítima: será que o Vanguard LifeStrategy 60% Equity ajudá-la-ia a aposentar-se aos 48 anos?

Introduziu o seu plano em tlim.pt/sucesso: a taxa histórica de sucesso da sua estratégia — investir 500 euros por mês durante 23 anos, resgatar 1000 euros por mês nos 20 anos seguintes e 700 euros por mês após os 68 anos (tudo a preços de hoje, ajustados pela inflação futura) — era de 71%, assumindo que a sua carteira teria 60% em ações e 40% em obrigações, como o Vanguard LifeStrategy 60% Equity. A história mostrava que a estratégia corria o risco de não ser suficiente.

Segunda tentativa, mais agressiva

Anita poderia alterar a sua estratégia de várias maneiras para aumentar a taxa histórica de sucesso. Poderia adiar a aposentação. Poderia tentar poupar mais. Poderia projetar gastar menos no futuro. Não foi o que a subscritora decidiu: preferiu aumentar a exposição acionista para 80%. Assim, a taxa histórica de sucesso saltaria para 90%.

Para alguns, uma taxa de sucesso de 90% não seria suficiente. A nossa leitura ficou satisfeita, porque os números que introduziu no simulador eram conservadores. Acreditava, por exemplo, que a sua poupança mensal de 500 euros aumentaria mais do que a taxa de inflação, como a ferramenta assumia. Ainda estava no início da sua carreira profissional e esperava ter sucesso suficiente para progredir paulatinamente na escada laboral. Se recebesse um salário mais generoso, tentaria manter os seus gastos mensais de modo a incrementar a poupança além da subida inflacionista.

Se, até à aposentação antecipada, encontrasse o seu príncipe encantado, a sua estratégia teria de ser adaptada. Quiçá fazer as contas a dois? Não descartava também a maternidade e todas as consequências financeiras que essa situação poderia gerar, mas, para já, essas possibilidades não a preocupavam.

Para alcançar a exposição acionista de 80%, Anita escolheu o fundo Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating. O seu estudo voltou ao início: no boletim tlim, verificou que a rentabilidade real seria potencialmente de 4,3% por ano e a probabilidade histórica de perdas após 13 anos era nula; analisou a página da Vanguard referente ao produto (incluindo a sua baixa taxa de encargos correntes, de 0,25% por ano); e acompanhou a página oficial do fundo no Xetra da bolsa de Francoforte. Percebeu que, se comprasse unidades através da Degiro, pagaria 3 euros por operação e que, anualmente, a corretora cobraria adicionalmente 2,50 euros.

Surpreendeu-se quando calculou o diferencial entre as melhores propostas de compra e as melhores propostas de venda: nessa página oficial, o ask era normalmente superior ao bid em 0,1% ao longo das várias sessões de bolsa que acompanhou. (No Vanguard LifeStrategy 60% Equity, era frequentemente de 0,2%.) Portanto, mesmo que se enganasse na sua ordem de bolsa de compra de unidades do Vanguard LifeStrategy 80% Equity, “perderia”, em média, cerca de um milésimo do seu investimento.

Estava pronta para a sua primeira ordem de bolsa.

Compra na bolsa

Após transferir os 505,50 euros para Degiro (contava gastar 500 euros na compra, pagar uma comissão de 3 euros e reservar 2,50 euros para os encargos anuais), Anita colocou a sua ordem de compra.

Primeira ordem de compra Colocada através da Degiro no dia 26 de janeiro de 2024.
Ordem de compra de 16 unidades do fundo Vanguard LifeStrategy 80% Equity no Xetra a 31,15 euros.

Decidiu solicitar uma compra no Xetra ao preço mais recente, de 31,15 euros. A ordem não foi executada imediatamente — o preço primeiro subiu e chegou a 31,205 euros —, mas, pouco tempo depois, conseguiu adquirir as suas primeiras unidades. No final da sessão, os seus títulos, que tinham custado 498,40 euros (16 × 31,15€), valiam 499,04 euros (16 × 31,19€). Estava 64 cêntimos mais rica!

Radiante, consultou a aplicação da Degiro várias vezes por dia. Às vezes, a cotação descia, mas a tendência era para enriquecer. Anita tinha consciência que aqueles preços não eram relevantes: além do preço de compra, apenas o preço de venda é importante. Por isso, a consulta frequente do seu saldo de títulos era apenas um passatempo.

Não planeava vender o seu fundo nos próximos 20 anos. Era assim que pensava até receber o boletim tlim de fevereiro.

Venda na bolsa

Após ler a edição de fevereiro do boletim tlim, Anita ficou preocupada: “Se a Degiro se enganar e ‘perder’ o registo dos meus títulos, como resolvo o problema?” Tinha um endereço de correio eletrónico, mas teve de procurar para encontrar o número de telefone de apoio aos clientes. “E se necessitar de contactar o supervisor? Telefono para os alemães da BaFin ou para os holandeses da DNB ou da AFM?”

O que mais assustou Anita foi a possibilidade de morrer e de os títulos ficarem eternamente na Degiro. Tudo poderia acontecer nos próximos 20 anos.

Não precisou de muito tempo para decidir fechar a conta na Degiro e reiniciar o processo de investimento no Vanguard LifeStrategy 80% Equity através da plataforma Best Trading Pro do Banco Best, a melhor e mais barata para transacionar fundos no Xetra, segundo o boletim tlim.

O Banco Best, além de ter presença física em cinco cidades portuguesas, é supervisionado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e pelo Banco de Portugal, que têm atendimento presencial em Lisboa.

Após a abertura de conta no Banco Best, decidiu fazer todas as operações no mesmo dia. De manhã, vendeu as suas unidades na Degiro.

Primeira ordem de venda Colocada através da Degiro no dia 6 de fevereiro de 2024.
Ordem de venda de 16 unidades do fundo Vanguard LifeStrategy 80% Equity no Xetra a 31,55 euros.

A sua ordem de venda, a 31,55 euros, demorou vários minutos a encontrar comprador na bolsa. Esse compasso de espera deflagrou uma dúvida na mente da Anita: será necessário definir um preço na ordem? Se, a cada momento, na bolsa, a diferença percentual entre o preço proposto mais alto para comprar unidades e o preço proposto mais baixo para vender unidades é centesimal, não se perderá muito numa ordem ao melhor preço (também conhecida por ordem de mercado). Além disso, poupa-se tempo e paciência.

À tarde, quando se preparava para lançar uma ordem de compra pela Best Trading Pro, enfrentou um problema: teria de instalar uma aplicação no telemóvel ou no computador. Foi através da linha de apoio do Banco Best que descobriu que não seria necessário: poderia fazê-lo num programa de navegação na Internet, digitando o endereço www.btp.pt.

Segunda ordem de compra Colocada através da Best Trading Pro no dia 6 de fevereiro de 2024.
Ordem de compra de 31 unidades do fundo Vanguard LifeStrategy 80% Equity no Xetra ao melhor preço de mercado.

Enquanto não recebia o dinheiro da venda na Degiro, Anita adiantou da sua conta à ordem 500 euros aos 500 euros que planeava investir em fevereiro.

A sua ordem de compra de 31 unidades do Vanguard LifeStrategy 80% Equity no Xetra ao preço de mercado foi executada em 1 segundo: pagou 31,455 euros por cada título. Ficou feliz por conseguir pagar menos do que recebera nessa manhã na Degiro.

O Banco Best reteve-lhe 985,51 euros: 975,11 euros das unidades (31 × 31,455€) e 10,40 euros de encargo de bolsa. Não considerou a comissão exagerada: representava 1% do investimento.

Futuro

Para deixar o seu plano financeiro em modo de cruzeiro, tinha apenas de dar um passo: transferir o dinheiro na Degiro para o seu banco português e encerrar essa conta germano-holandesa.

Posteriormente, a sua estratégia para os 23 anos seguintes seria:

  1. Poupar 500 euros ou mais todos os meses;
  2. A cada 2 meses, comprar, ao preço de mercado, 1000 euros ou mais em unidades do Vanguard LifeStrategy 80% Equity no Xetra através da Best Trading Pro;
  3. Tentar não consultar diariamente a cotação do seu fundo.

Nas semanas seguintes, Anita teve vontade de fazer mais: procurar fundos mais interessantes, investigar o investimento direto em ações, estudar as obrigações que a Greenvolt e a Benfica SAD promoviam. Teve de lutar contra si para ficar quieta e manter a sua carteira simples. Afinal, a simplicidade é o segredo do sucesso dos investidores. ★

2

Condomínio. Reduza os encargos financeiros a zero

Por David Almas a 1 de maio de 2024

Fiquei de boca aberta quando o meu vizinho me mostrou as comissões que a Caixa Geral de Depósitos cobra ao nosso condomínio.

Desde a pandemia, em 2020, fizemos apenas uma reunião de condóminos no prédio. É ridículo (e ilegal), mas a pequena dimensão — são seis apartamentos — leva-nos a trabalhar na base da confiança. Não estava a par do escandaloso aumento de comissões. O encargo de manutenção da conta-condomínio da CGD é de 124,80 euros por ano. Há 5 anos, não havia essa despesa para os condomínios com mais de 5000 euros e, simultaneamente, com serviço de banca eletrónica.

Antes de quebrarmos o longo hiato sem reunião de condóminos, preparei-me: mergulhei nos preçários dos bancos em busca da melhor solução. Visitei alguns balcões para esclarecer dúvidas que os preçários não respondiam.

O que queria era simples:

  1. Não pagar comissão de manutenção, se possível.

  2. Um montante mínimo de abertura de conta de 5000 euros ou inferior.

  3. Alteração gratuita de titulares. Quando os administradores do condomínio mudarem, não queremos pagar para atualizar os movimentadores da conta.

  4. Um cartão de débito muito barato (menos de 20 euros por ano) ou transferências bancárias via Internet muito económicas (menos de 1 euro). Todas as operações financeiras do meu condomínio podem ser liquidadas por transferência bancária ou por pagamento com referência Multibanco.

  5. Se possível, ter acesso a aplicações financeiras que compensem os encargos da conta.

À partida, a lista anterior não me parecia muito exigente.

Exigentes a cobrar

Estava enganado. As propostas dos bancos são caras. Em resumo, são estas as contas para condomínios desenhadas pela banca nacional:

Nem todas as contas incluem gratuitamente cartões de débito e transferências bancárias. Os cartões custam normalmente perto de 18 euros por ano e as transferências interbancárias normais cerca de 1 euro.

No Millennium bcp, o banco que menos cobra aos condomínio com um património financeiro de 5000 euros, o cartão de débito tem um encargo anual de 18,72 euros e as transferências interbancárias pela Internet 1,14 euros.

Não são a única solução

Os condomínios não são, todavia, obrigados a constituir contas desenhadas exclusivamente para condomínios. Alguns bancos permitem a abertura de uma conta empresarial.

Após uma busca exaustiva, concluí que a melhor opção para o meu condomínio seria a Conta Global para empresas do Banco de Investimento Global, que usa a marca BiG. Sumariamente, estas seriam as condições:

Para um condomínio com um património de 5000 euros, o encargo de manutenção de conta do BiG (62,40 euros por ano) é superior ao do Millennium bcp (37,44 euros por ano). Há, todavia, uma grande diferença: o BiG é generoso nas aplicações a prazo.

Enquanto o Millennium bcp não paga agora mais do que 1,05% numa aplicação de 5000 euros, o BiG oferece taxas de juro até 4%. Mesmo excluindo os depósitos promocionais, o BiG é mais interessante: aplicando 5000 euros no Depósito a Prazo Standard, o condomínio recebe juros de 108,36 euros após 1 ano, o que mais do que compensa todas as despesas esperadas associadas à conta bancária.

Na minha visita ao balcão do BiG, em Lisboa, alertaram-me para o facto de não ser um banco de retalho, o que se reflete, por exemplo, na demora na satisfação de alguns pedidos. Disseram-me que um cartão de débito pode demorar quatro semanas a chegar ao correio do condomínio.

Surpresa: não temos tanto dinheiro

Quando quis apresentar a minha proposta ao administrador do condomínio em antecipação à assembleia de condóminos, ele corrigiu-me: não temos 5000 euros; após as obras no telhado, temos perto de 2000 euros. Com um montante mínimo de abertura de conta empresarial de 5000 euros, o BiG não é uma opção.

Voltei à minha folha de cálculo e encontrei outra solução, menos interessante, a Conta à Ordem Empresas do EuroBic:

A minha proposta para os meus parceiros condóminos será constituir esta conta à ordem no EuroBic sem cartão de débito e encerrar a conta na Caixa Geral de Depósitos. O saldo disponível deverá ser aplicado num depósito a prazo: à taxa de 1,15%, gerará 17,49 euros após um ano. Deverá ser suficiente para pagar as transferências bancárias periódicas, pelo menos.

Em todas as visitas aos bancos, os colaboradores bancários avisaram-me que é muito difícil abrir conta para condomínios, porque os seus departamentos jurídicos são exigentes. É preciso apresentar os estatutos e os regulamentos do condomínio para provar a composição da administração, a sua rotação, os seus poderes e as suas formas de obrigar o condomínio. É também obrigatória a apresentação da ata da assembleia de condóminos que delibera a abertura de conta junto do banco selecionado, a sua forma de movimentação e autorizações para contratação e utilização de soluções, como cartão de débito e serviço de banca eletrónica. Adicionalmente, é necessário o cartão de contribuinte do condomínio e os documentos dos administradores com poderes de movimentação: documento de identificação e de contribuinte, comprovativo de morada e comprovativo de situação profissional.

Desconfio que será difícil convencer os meus vizinhos a mudarem da Caixa Geral de Depósitos para pouparmos algumas dezenas de euros por ano. ★

Respondido

“O estratagema da Revolut já não funciona com o Wizink e o Bankintercard FCP. É uma coisa recente.”

“É contra a política de utilização da Revolut ser utilizada para beneficiar dos programas dos cartões de crédito. Recebi um aviso há pouco tempo.”

“Menciona que o Black Plus tem custos. Fui verificar os extratos e não aparece nada.”

Terminei o artigo “Cartões de crédito. Maximize os cash-backs”, que publiquei na edição anterior do boletim tlim, assim: “Não fique parado: aproveite enquanto estes cash-backs perduram.” Infelizmente, alguns duraram muito pouco tempo.

Vários leitores, incluindo D.F., D.S. e F.S., que me remeteram as mensagens anteriores, avisaram-me para as mudanças mais recentes. Aparentemente, as estratégias que envolviam os cartões Wizink Rewards e FC Porto e a conta Revolut já não funcionam. A leitora A.M. conseguiu, porém, receber um cartão-presente da Ikea oferecido pelo Wizink no passado mês de abril efetuando um único carregamento na Revolut.

Há, todavia, uma boa notícia: a Cetelem já não cobra comissão de processamento de prestações no Black Plus.

A maximização das devoluções dos cartões de crédito exige o permanente acompanhamento das ofertas bancárias. Concordo com muitos subscritores que me disseram que é muito esforço para pouco retorno. Se conseguisse contratar cartões de crédito — ninguém mos disponibiliza, porque não tenho rendimentos regulares —, manteria o meu Cofidis e adicionaria apenas o Black Plus e o Deco Proteste na opção com cash-back.

⋆★⋆

“Se tivesse que voltar a investir a partir da estaca zero, voltaria a colocar o seu dinheiro no IWDA ou preferiria explorar os outros fundos que referiu?”

O subscritor D.C. ficou com a sensação de que, nos artigos mais recentes, tenho privilegiado os fundos Vanguard LifeStrategy e Fidelity MSCI World Index e que coloquei em segundo plano o fundo que elegi para o meu património, o iShares Core MSCI World UCITS ETF, conhecido por “IWDA”, o seu código de negociação na bolsa de Amesterdão.

Recordo que, na primeira edição de 2024, recomendei vários fundos de investimento mobiliário, incluindo todos os fundos de acumulação da família Vanguard LifeStrategy (Vanguard LifeStrategy 20% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating, Vanguard LifeStrategy 40% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating, Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating e Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating), o Fidelity MSCI World Index EUR P Acc e o iShares Core MSCI World UCITS ETF USD (Acc).

Sou um investidor acionista de longo prazo: desejo expor-me total e permanentemente aos mercados acionistas. Não investiria num dos Vanguard LifeStrategy, porque a exposição às ações varia entre 20% e 80% da carteira.

Apesar do elevado encargo de subscrição, de 2,08% do montante investido, gosto do Fidelity MSCI World Index, porque é simples: subscreve-se no Banco Best sem complicações.

Investir no IWDA envolve encargos de bolsa — comissões de compra e de venda, pelo menos — e exige alguma atenção e experiência na negociação. Excluindo as despesas da equação, acredito, todavia, que o IWDA é potencialmente mais rentável. A minha expectativa é que a diferença seja marginal, na ordem das centésimas de pontos percentuais por ano. Não confio, contudo, completamente nessa expectativa.

Se começasse hoje a minha carreira de investidor, optaria provavelmente pelo Fidelity MSCI World Index: calculo que seja a opção mais rentável no longo prazo se investisse 500 euros ou menos por mês, após contabilizar todos os encargos. Mais importante: é a opção mais simples.

Vejo apenas uma desvantagem nesse produto: o meu fundo de investimento, além de ser a minha carteira de longo prazo, é simultaneamente o meu fundo de emergência; se tivesse de resgatar o Fidelity MSCI World Index antes de uma década de investimento, não teria tempo para diluir a comissão de subscrição. Seria, porém, um mal menor.

⋆★⋆

“Usas táxi ou Uber?”

Nenhum. Opto normalmente por andar a pé ou, pontualmente, de transportes públicos. Recorro ao meu idoso automóvel maioritariamente nas férias.

Recentemente, os astros alinharam-se num evento raro e necessitei de um transporte mais rápido: tinha um voo madrugador com os meus filhos. (Se fosse sozinho, teria caminhado até ao aeroporto de Lisboa, que fica a cerca de cinco quilómetros da minha casa.) Foi uma oportunidade única para responder à dúvida de R.R..

Escrevi em edições anteriores do boletim tlim sobre o emerdamento de ofertas comerciais: após habituarem os clientes, as empresas retiram unilateral e remotamente qualidades aos seus produtos. Aconteceu com a Uber e a Bolt, empresas de transporte em veículo descaracterizado a partir de plataforma eletrónica (TVDE).

Ao contrário dos táxis, em que a convenção de preços é conhecida, a Uber e a Bolt deixaram de publicar abertamente os seus preços de referência. Para os conhecer, é preciso instalar as suas aplicações eletrónicas, adicionar um meio de pagamento e simular pedidos de transporte.

Instalei ambas as aplicações e acompanhei os seus preços em Lisboa durante alguns dias. Concluí que, geralmente, a Bolt é mais barata do que a Uber. O táxi é mais caro, exceto quando é ativado o preço dinâmico nos TVDE: quando a procura é elevada, a Uber e a Bolt cobram mais. O táxi é também mais barato quando se deseja agendar antecipadamente uma viagem.

Fomos para o aeroporto de Bolt, aproveitando um desconto de 30% na primeira viagem após o registo. No regresso, apaguei as minhas contas na Bolt e na Uber e eliminei as aplicações do meu telefone: não prevejo usá-las nos próximos 12 meses. ★

Visto

Mais fundos cotados

Os índices de fatores podem não ser tão rentáveis como aparentavam. O maior fundo europeu sofreu um colapso repentino. Uma “guru” de fundos cotados norte-americanos quer convencer agora os europeus.

Dito

Daniel Kahneman:

“No contexto dos investimentos, as pessoas não sabem quão bem se portaram.”

O único livro que tenho sobre a minha secretária é Pensar, Depressa e Devagar, de Daniel Kahneman. Está aqui há meses; talvez dois anos.

A par da minha preguiça, este livro é o culpado por eu parar de escrever o meu livro.

Como alguns leitores do boletim tlim sabem, parei a meio da escrita de um longo livro sobre investimentos. É suposto ter duas partes: uma histórica e teórica, quase terminada, e uma prática, ainda não iniciada. Para finalizar a primeira parte, tenho de escrever o capítulo sobre finanças comportamentais, a área em que Daniel Kahneman e o seu amigo Amos Tvserky, também psicólogo, criaram com o economista Richard Thaler. Duvido que lhes consiga fazer justiça.

Ainda não terminei a leitura de Pensar, Depressa e Devagar. Sempre que o retomo, bloqueio: por um lado, quero tomar notas das coisas importantes, mas tudo é importante; por outro lado, quero prolongar o prazer de ler este livro. Tenho a certeza de que, quando o finalizar, voltarei ao início.

Ao ler a recente eulogia de Jason Zweig, o meu jornalista de Finanças preferido, surpreendi-me com o facto de ele ter ajudado Kahneman na escrita de Pensar, Depressa e Devagar. (Fiz batota e saltei para o capítulo dos agradecimentos; Zweig é a primeira pessoa a quem Kahneman agradece.)

Kahneman, que recebeu o Prémio Nobel da Economia em 2002, morreu no passado mês de março, aos 90 anos.

Daniel Kahneman moldou-me a maneira de pensar. Cruzei-me várias vezes com o seu trabalho — além das finanças comportamentais, duas das suas áreas de investigação são o bem-estar e o hedonismo, que sempre me interessaram —, mas foi o livro Projeto Refazer, de Michael Lewis, o melhor contador de histórias de Finanças, que me levou a estudar mais atentamente o seu trabalho. O Projeto Refazer é a história de amor entre Kahneman e Tvserky que permitiu desbravar novas áreas na Psicologia.

Kahneman e Tversky exponenciaram o meu natural agnosticismo financeiro. São a razão para não fazer previsões. São o motivo para testar matematicamente a estratégia Boas & Baratas. São a causa para confiar apenas numericamente no passado, seguindo a investigação de outros grandes contribuintes para as Finanças, como Robert Shiller.

A frase que cito atrás foi retirada da entrevista que Morgan Housel, um dos melhores pensadores contemporâneos de Finanças, fez a Daniel Kahneman em 2013. É essa ideia que me leva a atualizar periodicamente uma folha de cálculo com o desempenho da minha carteira contra várias outras soluções que ponderei em 2013, quando comecei a investir no fundo iShares Core MSCI World UCITS ETF.

Como me portei? Desempenho entre 31 de agosto de 2013 e 31 de março de 2024.
Rentabilidade anualizadaVolatilidade mensal anualizada
A minha carteira12,31%12,84%
Goldman Sachs Global CORE Equity Portfolio E11,79%14,22%
Caixa Ações Líderes Globais10,09%12,82%
Gestão discricionária da Casa de Investimentos6,21%16,33%

Se tivesse optado pela Casa de Investimentos, teria pouco mais de metade do que tenho. Até agora, sei que me portei bem nos investimentos.

Continuarei a avaliar se o fundo que escolhi para a minha carteira continua a ser a melhor escolha. Atualizarei mensalmente a minha folha de cálculo, kahneman.ods. ★

Apoie esta publicação

O boletim tlim é gratuito, mas solicito um donativo a quem beneficiou do seu conteúdo e tem margem financeira para apoiar este projeto. O donativo sugerido é de 6 euros, mas pode ser superior ou inferior em função da utilidade da leitura e da disponibilidade do leitor.

Recebo os donativos preferencialmente por transferência bancária na seguinte conta:

Aceito, em alternativa, donativos por pagamento com cartão bancário, em tlim.pt/donativo.

Obrigado.

— David Almas