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Onde investir em 2024
Por David Almas a 1 de janeiro de 2024 às 00h01
Se é um dos afortunados com uma carteira de investimentos, despendeu certamente de tempo e de recursos na busca das melhores aplicações para o seu património. É provável que as recomendações listadas neste artigo não mereçam uma alteração à sua estratégia.
Embora acredite que os instrumentos financeiros que listo ao longo desta edição do boletim tlim sejam as melhores opções neste início de ano, as mudanças drásticas na carteira geram frequentemente encargos e impostos que mutilam os retornos futuros do património. Se ponderar alterações à sua estratégia de investimento após ler esta análise, calcule o impacto financeiro dessas mudanças. Confirme que os benefícios esperados no longo prazo são superiores aos custos estimados da troca.
Este extenso artigo divide-se nestas secções:
- O que é um investimento?
- O que não é um investimento?
- A melhor estratégia: ações e obrigações para o longo prazo
- O melhor veículo para a maioria dos investidores: fundos passivos
- PPR não são a melhor opção
- Investimento direto em ações e obrigações
- As melhores opções de baixo risco
- Resumo
Todos os cálculos neste artigo foram processados com os preços disponíveis a 31 de dezembro de 2023. As principais fontes de informação que usei foram a Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, a Curvo, a JustETF, a Morningstar, as sociedades gestoras de fundos de investimento e as entidades comercializadoras, bem como as investigações académicas citadas ao longo deste texto.
O que é um investimento?
Poupar é transportar o dinheiro no tempo: o que não se consome agora — a poupança — será consumido no futuro. Investir é potencialmente o melhor modo de transporte da poupança: dota o dinheiro de crescimento.
Ao contrário das aplicações especulativas, o investimento é suportado num rendimento potencial. As ações pagam dividendos, as obrigações têm cupões e o imobiliário gera rendas. Mesmo que, numa situação particular, um destes ativos não distribua rendimentos — um fundo de ações de acumulação, uma obrigação de cupão zero, um imóvel devoluto —, é possível extrapolar o rendimento potencial para calcular um preço justo a pagar pelo investimento. São os rendimentos esperados que retiram o carácter especulativo aos investimentos.
Ações
Investir numa ação de uma empresa significa que se é dono de uma parte dessa firma. Ter uma ação confere-lhe o direito a receber dividendos, quando a companhia tem margem financeira para os distribuir, e a votar nas assembleias gerais de acionistas, que decidem o rumo da sociedade.
Os académicos concordam que, historicamente, as ações, quando inseridas numa carteira diversificada, geram mais ganhos de longo prazo para os investidores. Destaco dois estudos:
Credit Suisse Global Investment Returns Yearbook 2023: Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, o trio de estudiosos que mais se dedica à análise dos retornos de longo prazo, calcularam que os mercados acionistas renderam 5% acima da inflação entre 1900 e 2022. A sua avaliação abrange 35 países, incluindo Portugal.
“The Rate of Return on Everything, 1870–2015”: Òscar Jordà, Katharina Knoll, Moritz Schularick, Dmitry Kuvshinov e Alan Taylor concluíram que as ações tiveram uma rentabilidade real de 4,66% por ano entre 1870 e 2015 nos 16 países avaliados.
É importante aferir a rentabilidade real dos instrumentos financeiros nas análises de retornos de longo prazo, isto é, a rentabilidade acima da inflação. Ao excluir-se o aumento de preços, percebe-se o incremento do poder de compra fornecido pelos investimentos. Uma rentabilidade real de 5% por ano significa que o património consegue pagar mais 5% de bens e serviços a cada ano que passa. É possível comprar o dobro das coisas após 14 anos, sensivelmente.
Muitos dizem que as ações são mais rentáveis no longo prazo, mas também são mais voláteis. Não é verdade: os retornos dos mercados acionistas são mais voláteis no curto prazo; no longo prazo, até podem ser menos voláteis do que outros instrumentos frequentemente promovidos como mais seguros.
A base de dados criada por Robert Shiller — que contribuiu para o investigador receber o Prémio Nobel da Economia em 2013 — mostra que, enquanto os retornos reais das obrigações norte-americanas estenderam-se entre -1,78% por ano e 7,96% por ano em períodos de 24 anos desde 1871, as ações renderam anualmente entre 1,86% e 12,77% nesses períodos de 24 anos. Estatisticamente, o risco das ações foi inferior ao das obrigações em aplicações de 24 anos ou mais, mostra esta base de dados. No muito longo prazo, as ações podem ser menos voláteis do que as obrigações.
Obrigações
Investir em obrigações é o equivalente a emprestar dinheiro a empresas, governos e outras entidades. Normalmente, a remuneração destes títulos de dívida é o cupão: o emitente da obrigação paga periodicamente um montante aos obrigacionistas. No vencimento, os investidores recuperam o valor nominal dos títulos.
As carteiras de obrigações tendem a ser mais estáveis do que os mercados acionistas no curto prazo. As séries de Shiller revelam que as ações norte-americanas renderam, em termos reais, entre -58,12% e 151,31% em períodos de 12 meses desde 1871. O retorno real das obrigações norte-americanas variou entre -22,86% e 41,22% em intervalos de 12 meses. (Há, todavia, segmentos obrigacionistas que podem ser muito voláteis, como os dos mercados emergentes ou dos títulos empresariais de alto risco.)
Historicamente, o retorno dos mercados obrigacionistas é muito inferior ao dos investimentos acionistas:
Credit Suisse Global Investment Returns Yearbook 2023: Dimson, Marsh e Staunton deduzem que as obrigações ofereceram um retorno real de 1,7% por ano desde 1900 até 2022.
“The Rate of Return on Everything, 1870–2015”: Jordà e os seus colegas apontam para uma rentabilidade real de 1,97% por ano.
Embora rendam tendencialmente menos do que as ações, a estabilidade das obrigações colocam-nas entre as preferências dos aforradores mais conservadores ou dos investidores que projetam necessitarem das suas poupanças no curto ou no médio prazo.
Imobiliário
Os académicos que estudam os desempenhos de longo prazo do imobiliário não conseguem chegar a acordo sobre a rentabilidade histórica deste mercado.
Em 2017, Òscar Jordà e os seus colegas revelaram no seu estudo pioneiro uma visão otimista:
“The Rate of Return on Everything, 1870–2015”: Os investigadores surpreenderam-se ao descobrirem que as casas renderam 6,62% por ano acima da inflação. “A observação de que os retornos da habitação são semelhantes aos retornos das ações, mas muito menos voláteis, é intrigante”, escreveram.
Posteriormente, vários estudiosos avisaram que esse número era exagerado, incluindo:
Credit Suisse Global Investment Returns Yearbook 2018: Dimson, Marsh e Staunton alertaram que, “globalmente, os retornos e os riscos da habitação têm ficado entre os das ações e os das obrigações”. Portanto, renderam entre cerca de 2% e 5% por ano, em termos reais.
“The Rate of Return on Real Estate: Long-Run Micro-Level Evidence”: David Chambers, Christophe Spaenjers e Eva Steiner avisaram que “o imobiliário — em particular, o residencial — é menos lucrativo no longo prazo do que o que se pensava anteriormente”. Deduziram rentabilidades anualizadas acima da inflação entre 2,3% para as casas e 4,5% para os terrenos agrícolas em Inglaterra.
“The Total Return and Risk to Residential Real Estate”: Piet Eichholtz, Matthijs Korevaar, Thies Lindenthal e Ronan Tallec calcularam rentabilidades reais anualizadas de 4% em Paris e de 4,8% em Amesterdão.
Não há estatísticas oficiais em Portugal suficientemente longas e completas para retirar conclusões de longo prazo. Os dados da avaliação bancária das habitações portuguesas, divulgados mensalmente pelo Instituto Nacional de Estatística, revelam uma apreciação mediana de 2,66% por ano acima da inflação desde 2011, mas este número não contabiliza as potenciais rendas nem os encargos dos proprietários dos imóveis, tal como nos estudos citados anteriormente.
Se pondera investir em imobiliário, saiba que:
Os retornos reais podem ser negativos. A variação da avaliação bancária não foi suficiente para colmatar o aumento dos preços em muitas zonas portuguesas desde 2011, incluindo nas regiões dos Açores, de Coimbra, do Douro, de Leiria e de Viseu.
Os preços também caem. Algumas regiões de Portugal — Alto e Baixo Alentejo, Alto Tâmega, Trás-os-Montes — registaram quedas das avaliações bancárias nos últimos 12 anos e 10 meses. Um pouco por toda a Europa, os preços das habitações desceram nos 2 últimos trimestres conhecidos.
- Os encargos são pesados. Ao contrário do investimento em ações ou em obrigações, as despesas da propriedade imobiliária são elevadas. Nos maiores fundos imobiliários portugueses, que têm profissionais a otimizarem os encargos, os principais custos — manutenção, arrendamento, administração e outros gastos fixos — pesam muito sobre as rendas.
Entre 2018 e 2022, as despesas correntes dos imóveis do CA Património Crescente, o maior fundo imobiliário português, absorveram 30% dos rendimentos recebidos. No Fundimo, que tem metade da dimensão, os encargos correntes representaram 12% das rendas.
A maioria das famílias já tem exposição ao imobiliário. Sete em cada dez agregados portugueses têm habitação própria. Três em cada dez famílias têm ainda outros imóveis, segundo o mais recente Inquérito à Situação Financeira das Famílias. Quem já tem imobiliário na carteira dificilmente deverá adicionar mais, especialmente se estiver alavancado com crédito à habitação.
O risco de investir num imóvel é superior ao que frequentemente se julga. Os últimos anos revelaram uma nova área de investigação académica: o risco idiossincrático que resulta da transação de imóveis. Os investigadores — como Jacob Sagi, da Universidade da Carolina do Norte, e Marco Giacoletti, da Universidade do Sul da Califórnia — mostraram que a maioria do risco do investimento imobiliário é específico ao imóvel transacionado e não depende de outras variáveis, como a inflação ou as taxas de juro. Esse risco idiossincrático está associado aparentemente à iliquidez do mercado e à qualidade de informação sobre a propriedade.
Se, após estes avisos, continuar a desejar expor a sua fortuna ao mercado imobiliário, diversifique: procure outros segmentos do mercado, outras regiões geográficas e outros tipos de arrendatário.
O que não é um investimento?
São muitos os ativos adquiridos na expectativa de encontrar posteriormente um comprador disposto a pagar mais para o deter. Não distribuem rendimentos e, logo, os seus proprietários não conseguem balizar um intervalo de preços justos para os transacionarem. Na minha definição, não são investimentos.
Bens duráveis
Qual é o preço justo de um grama de ouro? Recentemente, comprou-se e vendeu-se em Londres a 60 euros, mais 11% do que um ano antes. Está, obviamente, mais caro, mas estará caro? Não sei. Ninguém sabe, porque a única referência é o preço histórico.
Se a EDP distribuir anualmente dividendos de 19 cêntimos por ação, como os analistas que acompanham a sua atividade esperam nos próximos 12 meses, um investidor pode estar disposto a pagar 4,18 euros por ação, porque isso significaria a recuperação do seu investimento em 22 anos (4,18€ ÷ 0,19€). Uma investidora pode oferecer 210 mil euros por um apartamento, porque, se conseguir arrendá-lo por 870 euros, como prevê, recuperará o seu investimento em 20 anos (210 000€ ÷ (870€ × 12)).
Não é possível conduzir um raciocínio semelhante com o ouro e outros bens duráveis.
Quem defende a adição de ouro a uma carteira de longo prazo normalmente aponta duas vantagens: a resistência à inflação e a redução da volatilidade da carteira.
O ouro não protege contra a inflação. “Os bens duráveis dificilmente são uma boa cobertura contra a inflação”, concluiu Christophe Spaenjers quando estudou os retornos de vários bens físicos ao longo do século XX, incluindo ouro, prata e diamantes. Não é preciso recuar tanto: desde 1980, o ouro depreciou-se, em euros e escudos antes do euro, 0,42% por ano, em termos reais.
Adicionar exposição aurífera pode reduzir a volatilidade do património. O ouro é tão volátil como uma carteira diversificada de ações, mas, graças à correlação baixa entre estes ativos, a sua combinação permite baixar a volatilidade dos investimentos. Por exemplo, um património igualmente dividido entre ações mundiais e ouro teria apenas três quartos da volatilidade de uma carteira exclusivamente exposta às ações ou ao metal desde 1980. Juntar ouro às ações baixa, todavia, o retorno potencial dos investimentos: a rentabilidade real desse património desceria de 6,27% por ano para 4,74% por cento desde 1980.
Bitcoins e criptoativos
A rede de Bitcoins é um sistema de pagamentos que recorre a um ativo eletrónico, o Bitcoin, como meio de troca. É um sistema que procura ser descentralizado: não são precisos regulamentos ou leis, porque as regras estão definidas no próprio código informático, o protocolo do Bitcoin.
Não acredito que o Bitcoin alguma vez se tornará uma moeda, porque:
- Há uma tendência para a centralização da mineração e da decisão sobre o futuro do protocolo: apenas dois grupos mineiros controlam mais de metade do poder computacional da rede Bitcoin.
- A volatilidade é muito elevada.
- Registam-se muitas fraudes e muitos ataques de piratas informáticos.
- O tempo de confirmação das transações é excessivo (cerca de 10 minutos).
- Os custos de transação são elevados (superior a 1% dos montantes).
- A rede tem uma capacidade reduzida de transações.
- São poucos os comerciantes que aceitam Bitcoins.
- A supervisão sobre os intermediários é diminuta.
- A concorrência de outros criptoativos é elevada.
Se o Bitcoin não for uma moeda, então a sua utilidade é nula; o seu valor justo é zero. Este raciocínio pode ser extrapolado para todos os outros criptoativos que desejam ser moedas e nunca o serão.
Desaconselho Bitcoins aos leitores do boletim tlim desde maio de 2021, quando o seu preço estava em 45 mil euros. Agora, quando vale perto de 38 mil euros, mantenho a recomendação.
Bens emocionais
Victoria Dobrynskaya e Julia Kishilova, da Escola Superior de Economia em Moscovo, compilaram uma base de dados de preços de conjuntos de Lego para aferir se seriam um bom investimento. Concluíram que, entre 1987 e 2015, a rentabilidade real dos Legos foi de 8% por ano. “O investimento em brinquedos oferece uma atrativa relação entre risco e retorno”, escreveram.
O interesse da comunicação social foi grande quando as investigadoras russas publicaram os primeiros números, em 2019. À portuguesa Exame, Dobrynskaya explicou que “os ganhos mais altos ocorrem no final da nossa amostra, em 2015”.
O que passou ao lado de muitos jornalistas foi o alerta das académicas para os encargos de transação e de armazenamento: os retornos históricos apontados por Dobrynskaya e Kishilova não os incluíam.
“À semelhança de outros investimentos alternativos, a transação de Legos tem custos relativamente altos”, escreveram. Descobriram que a negociação destes brinquedos, maioritariamente na plataforma eBay nos Estados Unidos da América, tem custos mensais fixos e despesas variáveis na venda. Estimaram um custo da venda equivalente a 9,15% do preço. A armazenagem não é tão cara como noutros investimentos alternativos, mas basta abrir ou amachucar a embalagem para uma grande parte do seu valor dissipar-se.
Dobrynskaya e Kishilova não foram as primeiras a avisar para o pesado impacto das transações e da armazenagem na rentabilidade dos bens emocionais. Quando Christophe Spaenjers estudou o desempenho do ouro, da prata e dos diamantes, também avaliou o retorno da arte, dos selos, do vinho e dos violinos no século XX. Embora tenha indicado que possam ajudar a diversificar o património financeiro, avisou que “os colecionáveis tiveram as apreciações mais elevadas [entre os bens duráveis], mas os custos de transação são também muito altos nestes mercados”.
Os bens colecionáveis podem, todavia, trazer grandes benefícios: os dividendos emocionais, isto é, o prazer de os deter. Não é possível apreçar a beleza de uma pintura, o deleite de completar uma coleção ou a expectativa de provar um vinho. Fruto da elevada volatilidade e dos altos encargos, não recomendo bens emocionais aos leitores do boletim tlim, exceto quando fortemente associados a esses dividendos emocionais.
Divisas
Apostar em câmbios a pensar que se pode ganhar dinheiro é ridículo. O mercado cambial é um jogo de soma nula. Quando um jogador ganha, outro perde. A soma de todos os resultados dos negócios cambiais resulta obrigatoriamente num saldo de zero. Se se subtrair os encargos de transação (comissões e taxas de juro), a expectativa mais racional de resultado é um prejuízo. Os investidores não devem procurar prováveis prejuízos.
Derivados
O mercado de derivados pode ser muito útil aos investidores: permite cobrir riscos aos quais alguém não se quer expor. É possível, por exemplo, cobrir o risco cambial de um investimento fora da Zona Euro. Infelizmente, muitos “investidores” usam os derivados para especular no curto prazo, o que gera frequentemente péssimos resultados.
Veja-se o exemplo dos contratos diferenciais, conhecidos na terminologia inglesa por contracts for difference ou CFD: um “comprador” e um “vendedor” acordam trocar a diferença entre o preço atual de um determinado ativo e o preço desse mesmo ativo no final do contrato; muitas vezes, esses contratos são alavancados, o que significa que a exposição ao ativo é superior ao valor investido.
Em 2016, inundada com reclamações, a Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e Mercados emitiu um alerta aos investidores da União Europeia sobre os perigos dos contratos diferenciais. Mais tarde, avançou para uma medida mais drástica: obrigou os comercializadores desses contratos a anunciar pública e periodicamente a proporção de clientes com prejuízos nos contratos diferenciais. Descobriu-se, então, que, na maioria dos intermediários, mais de 75% dos clientes perdia dinheiro. Em todos, o número de investidores perdedores superava os ganhadores.
A proporção de perdedores não melhorou. A sucursal portuguesa da XTB, que recebeu quase metade das ordens sobre CFD em Portugal nos primeiros 11 meses de 2023, indica agora no rodapé da sua página que “78% das contas de investidores não profissionais perdem dinheiro quando negoceiam CFD com este distribuidor”.
Os CFD continuam a ser os instrumentos derivados mais populares entre os investidores. Em 2022, havia 5,9 milhões de CFD na União Europeia, especialmente CFD acionistas.
Mesmo os investidores menos sofisticados são atraídos para soluções que envolvem produtos derivados. Há pouco mais de dois anos, o EuroBic colocou junto dos seus clientes um depósito estruturado que dependeria da evolução do preço das ações de cinco companhias do ramo automóvel. Quando atingiu a maturidade, em setembro passado, os aforradores ganharam exatamente nada: estiveram dois anos com o dinheiro empatado para alcançarem uma taxa de juro nula.
O EuroBic sabia à partida que o produto renderia provavelmente zero, segundo os números projetados nos vários cenários de desempenho incluídos na documentação.
A solução do EuroBic não é um caso isolado: os 36 depósitos estruturados que se venceram em 2023 renderam, em média, 0,06% por ano, segundo a lista compilada pelo Banco de Portugal.
A melhor estratégia: ações e obrigações para o longo prazo
O seu património financeiro deve ser espalhado entre exposição acionista — que oferece o maior retorno potencial — e obrigacionista — que promove a estabilidade. Como decidir essa divisão? É, talvez, a mais importante resolução das suas finanças.
| Percentagem da carteira em ações | ||||||
| 0% | 20% | 40% | 60% | 80% | 100% | |
| Rentabilidade anual esperada acima da inflação | 1,7% | 2,4% | 3,0% | 3,7% | 4,3% | 5,0% |
| Duração | Proporção de períodos negativos | |||||
| 1 ano | 17% | 12% | 17% | 21% | 24% | 26% |
| 2 anos | 9% | 5% | 13% | 16% | 18% | 19% |
| 3 anos | 6% | 4% | 9% | 15% | 17% | 20% |
| 4 anos | 5% | 3% | 4% | 12% | 17% | 19% |
| 5 anos | 5% | 5% | 12% | 20% | ||
| 6 anos | 6% | 0% | 5% | 12% | ||
| 7 anos | 5% | 2% | 6% | 9% | ||
| 8 anos | 5% | 4% | 7% | 8% | ||
| 9 anos | 4% | 4% | 6% | 9% | ||
| 10 anos | 3% | 1% | 7% | 11% | ||
| 11 anos | 1% | 4% | 11% | |||
| 12 anos | 2% | 6% | ||||
| 13 anos | 3% | |||||
A primeira linha do quadro anterior, da rentabilidade real esperada, indica a estimativa mais realista para o retorno do seu investimento. Está entre 1,7% por ano acima da inflação, se se expuser totalmente aos mercados obrigacionistas, e 5% por ano acima da inflação, se optar por uma carteira diversificada de ações.
O retorno futuro do seu património será muito provavelmente diferente, porque os mercados financeiros são incertos. Com a informação que temos hoje, aquelas estimativas estão, porém, entre as melhores que podemos usar. Os resultados passados não são garantia de resultados futuros, mas a história repete-se teimosamente no longo prazo.
Se os leitores decidissem apenas pela primeira linha do quadro anterior, optariam sempre pela última coluna — da carteira composta exclusivamente por ações —, porque rende potencialmente mais. A rentabilidade dessa estratégia é, todavia, mais incerta do que a das outras, como se percebe pela proporção de períodos com resultados negativos.
A história mostra que é mais provável perder dinheiro ao fim de uma década com um património acionista do que se introduzir um pouco de exposição obrigacionista à sua carteira. A confiar nos números do quadro anterior, a probabilidade de prejuízo decenal numa carteira diversificada de ações é de 11%, mas apenas de 1% se tiver 60% da carteira em ações e 40% em obrigações.
Cabe-lhe a si decidir qual a combinação entre ações e obrigações que mais bem satisfaz o seu perfil e o seu prazo de investimento. Se precisar do dinheiro nos próximos 5 anos, talvez não deva optar por uma carteira com 80% ou mais em ações, porque, historicamente, mais de 1 em cada 10 períodos ofereceram perdas aos investidores.
Independentemente da divisão da carteira, nunca houve um período de 14 ou mais anos em que os patrimónios diversificados de ações e de obrigações — representados nesta análise pelos fundos iShares Core MSCI World UCITS ETF e Xtrackers Global Government Bond UCITS ETF 1C EUR Hedged desde 1985 — tenham alcançado prejuízos. Isto não quer dizer que não haja desvalorizações temporárias (como as descidas drásticas de 2022 ou no mês após a declaração de pandemia em 2020), pelo contrário: as quedas bolsistas são muito frequentes. As percentagens do quadro anterior são válidas apenas no final do prazo, isto é, para quem investiu e permaneceu investido durante todo o período.
Quanto maior a exposição às ações, maior tende a ser a volatilidade da carteira no curto prazo. Não se esqueça desta afirmação quando investir, porque uma das piores coisas que pode fazer é alienar um instrumento financeiro apenas por registar uma desvalorização. A volatilidade faz parte do quotidiano dos investidores. Se não tem estômago para os altos e os baixos, salte imediatamente para a melhor solução de baixo risco.
A partir da análise do quadro anterior, concluo que:
Não adianta investir exclusivamente em obrigações. Ter uma pitada de exposição acionista aumenta o retorno potencial e baixa a probabilidade de prejuízos. A baixa correlação (e, por vezes, negativa) entre ações e obrigações oferece este almoço grátis aos investidores.
Não invista em ações nem em obrigações se o seu prazo é inferior a 3 anos. A probabilidade de perda é significativa. Procure as melhores soluções garantidas se o seu horizonte temporal é curto.
Invista maioritariamente nos mercados acionistas apenas se o seu prazo for superior a 5 anos. As estratégias ricas em ações devem ter muito tempo para diluir os riscos de curto prazo. Quanto mais tempo, melhor.
A partir das várias conversas que enceto com subscritores do boletim tlim, penso que a maioria dos leitores deveria apontar para uma carteira composta por 60% em ações e 40% em obrigações. A probabilidade de prejuízo é reduzida após 5 anos de investimento e o retorno potencial, de 3,7% acima da inflação, é bom. Essa rentabilidade duplica o poder de compra da poupança a cada 19 anos, aproximadamente.
O melhor veículo para a maioria dos investidores: fundos passivos
Os investidores podem adquirir diretamente ações, obrigações e imóveis. Não é normalmente a opção mais inteligentes: as despesas tendem a ser relativamente elevadas, exige muito trabalho de investigação e acompanhamento e pode ser fiscalmente pouco eficiente.
Os instrumentos mais indicados para investir são normalmente os fundos de investimento, porque:
São simples. Um fundo de investimento é um cabaz de ativos detido por vários investidores. Cada um tem uma porção dessa carteira.
São diversificados. A legislação obriga a que os fundos de investimento adotem estratégias diversificadas. Por exemplo, um fundo de ações ou de obrigações é obrigado a ter, no mínimo, uma dezena de títulos.
São geridos profissionalmente. A administração do fundo de investimento é da responsabilidade de uma sociedade gestora, que necessita de se registar junto de uma autoridade supervisora, como a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ou o Banco Central da Irlanda.
São baratos. Ao reunirem vários investidores, os encargos são repartidos por todos. É natural que seja mais barato optar por um fundo do que investir individualmente nos ativos.
Em metade dos fundos disponíveis para subscrição nos principais bancos portugueses, os encargos correntes — que incluem a comissão fixa de gestão, a comissão de depósito, as taxas de supervisão e as despesas de auditoria — absorvem anualmente até 1,3% do património investido pelos subscritores, segundo a base de dados da Morningstar.
Na maioria dos fundos de investimento oferecidos pela banca, os gestores responsáveis pela administração das carteiras procuram apresentar retornos acima da concorrência e dos índices de referência. É, no entanto, uma tarefa ingrata: a maioria não consegue bater os índices.
Por um lado, os índices representam todo o mercado e, em média, os gestores ganham o mesmo que o mercado, porque são o mercado. Por outro lado, os índices não têm encargos e, logo, em média, a rentabilidade líquida de encargos dos fundos ficam atrás dos avanços dos índices.
A S&P Dow Jones Indices, um dos principais construtores de índices financeiros, publica semestralmente relatórios sobre a capacidade de os fundos de ações baterem os seus índices de referência. Nas principais regiões, os índices ficam à frente de 80% a 90% dos fundos nas rentabilidades a 5 anos ou mais. Por exemplo, 93% dos fundos de ações europeias renderam menos do que as suas referências nos últimos 10 anos.
Além de serem raros os fundos com sobredesempenhos, é muito difícil detetar antecipadamente os futuros líderes, porque não há persistência nos ganhos. Os vencedores do passado não são normalmente os vencedores do futuro.
No início de 2018, não havia um fundo de ações mundiais mais rentável do que o Morgan Stanley Global Opportunity: tinha rendido 17,50% por ano no quinquénio anterior. Recomendei-o na altura para os investidores que procuravam fundos de ações de gestão ativa. Hoje, encontro mais de uma centena de fundos de ações mundiais que ganharam mais do que o fundo da Morgan Stanley nos últimos 5 anos.
Há quase 6 anos, recomendei também o fundo UBS BF Euro High Yield: rendera 6,38% por ano na década anterior; o segundo melhor fundo de obrigações de alto rendimento em euros ficara muito atrás, 5,79% por ano. Hoje, os retornos dos últimos 5 ou 10 anos do UBS BF Euro High Yield são apenas ligeiramente melhores do que a média dos fundos da categoria.
À maioria dos investidores, aconselho fundos passivos: ao contrário dos fundos de gestão ativa, os administradores dos fundos de gestão passiva não procuram bater a concorrência ou os índices; seguem uma estratégia predefinida, normalmente a replicação de um índice.
Como não é preciso uma equipa à procura dos melhores investimentos, os fundos passivos, incluindo os fundos de índice, são muito mais baratos. A taxa anual de encargos correntes entre os fundos distribuídos em Portugal começa nos 0,06% do património.
Os fundos de índice também tendem a ser mais diversificados, porque as suas carteiras geralmente replicam quase exatamente a composição dos índices. Não são raros os fundos de índice com centenas ou milhares de ativos.
Há fundos passivos que podem ser subscritos junto da banca e, mais frequentemente, há outros que podem ser comprados e vendidos nas bolsas de valores, recorrendo a um intermediário financeiro. Estes últimos compõem a maioria dos fundos cotados, conhecidos por exchange-traded funds, ETF ou trackers.
Os melhores fundos mistos
A tentação natural de quem quer expor o seu património aos mercados acionistas e obrigacionistas é combinar um fundo de ações com um fundo de obrigações. Não é a melhor solução: um fundo misto — um cabaz exposto simultaneamente às ações e às obrigações — é melhor, porque:
É mais simples. Ter um instrumento financeiro em vez de dois (ou mais) é sempre mais prático.
Dá menos trabalho. Quando se tem dois fundos, se os seus retornos divergirem, os pesos na carteira podem mudar drasticamente. Por exemplo, um património dividido igualmente entre um fundo de ações e um fundo de obrigações passará a ter dois terços nos mercados acionistas e um terço nos obrigacionistas, se as ações renderem 100% e as obrigações 0%. Seria necessário alienar parte do fundo de ações e reforçar no fundo de obrigações para reequilibrar a carteira.
Com um fundo misto, são os gestores do produto que têm o trabalho de manter a carteira equilibrada entre ações e obrigações.
É tendencialmente mais económico. As operações de rebalanceamento, como exemplificado no ponto anterior, podem ter custos para os investidores.
É fiscalmente eficiente. O reequilíbrio da carteira composta por um fundo de ações e um fundo de obrigações pode gerar mais-valias, o que implica normalmente impostos a pagar. Com o fundo misto, o investidor apenas tem de alienar as suas unidades de participação quando quiser o reembolso do dinheiro investido.
Recomendo quatro fundos mistos, em função da exposição acionista e obrigacionista que se deseja:
- Vanguard LifeStrategy 20% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating
- Vanguard LifeStrategy 40% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating
- Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating
- Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating
Os Vanguard LifeStrategy são fundos passivos cotados na bolsa. Investem exclusivamente em fundos de índice geridos pela mesma sociedade gestora para alcançar a exposição desejada. A percentagem na designação dos fundos representa o peso dos mercados acionistas mundiais na carteira. A diferença para 100% é a exposição tendencial aos mercados globais de obrigações.
| Vanguard LifeStrategy 20% Equity | Vanguard LifeStrategy 40% Equity | Vanguard LifeStrategy 60% Equity | Vanguard LifeStrategy 80% Equity | |
| ISIN | IE00BMVB5K07 | IE00BMVB5M21 | IE00BMVB5P51 | IE00BMVB5R75 |
| Tipo | Fundo misto passivo cotado | |||
| Sociedade gestora | Vanguard | |||
| Custodiante | Brown Brothers Harriman | |||
| Bolsa recomendada | Milão: VNGA20 | Milão: VNGA40 | Milão: VNGA60 | Milão: VNGA80 |
| Outras bolsas | Xetra: V20A Amesterdão: V20A | Xetra: V40A Amesterdão: V40A | Xetra: V60A Amesterdão: V60A | Xetra: V80A Amesterdão: V80A |
| Taxa anual de encargos correntes | 0,25% | |||
| Rentabilidade de 1 ano | 7,09% | 9,24% | 12,49% | 14,99% |
| Rentabilidade anualizada de 3 anos | -2,72% | 0,01% | 3,17% | 6,22% |
| Indicador de risco 1 = baixo; 7 = alto | 3 | 3 | 3 | 4 |
Aconselho que compre os fundos Vanguard LifeStrategy na bolsa de Milão através de um intermediário económico, porque é onde há mais operações sobre estes títulos, o que se traduz em melhores preços para os investidores. Se o seu intermediário financeiro não lhe fornecer o acesso a Milão, opte pelo segmento Xetra da bolsa de Francoforte. A última escolha deve ser Amesterdão.
Recomendo os Vanguard LifeStrategy, porque:
São os mais baratos. O mais recente relatório de contas revela que os encargos diretos destes fundos absorveram anualmente 0,12% dos ativos administrados e que, adicionalmente, as despesas dos fundos em que investem somam 0,13% por ano. Assim, o custo anual de investir nos Vanguard LifeStrategy é de 0,25%, o que é muito reduzido. Os fundos multiativos disponíveis na banca têm taxas anuais de encargos correntes tendencialmente superiores a 1,5%.
Como são fundos cotados, os investidores têm normalmente outras despesas: as comissões de bolsa. Embora os custos de compra e de venda possam ser diluídos no tempo, é importante escolher um intermediário de bolsa barato. O seu banco do quotidiano não é provavelmente a melhor escolha.
São potencialmente mais rentáveis do que a concorrência. Ainda é cedo para avaliar o desempenho dos Vanguard LifeStrategy — celebraram recentemente o terceiro aniversário — mas, como são fundos passivos, é possível simular o seu comportamento histórico.
Simulações de retornos passados Capitalizei os retornos dos Vanguard LifeStrategy com os desempenhos dos principais fundos nas suas carteiras, incluindo desempenhos simulados fornecidos pela Curvo. Rentabilidade anualizada de 5 anos (simulada) Vanguard LifeStrategy 20% Equity 1,18% Vanguard LifeStrategy 40% Equity 3,76% Vanguard LifeStrategy 60% Equity 6,59% Vanguard LifeStrategy 80% Equity 9,34% Entre os fundos mistos defensivos no mesmo nível de risco do Vanguard LifeStrategy 20% Equity, o Invesco Pan European High Income foi o mais rentável nos últimos 5 anos ao render 2,98% por ano.
No grupo de risco do Vanguard LifeStrategy 40% Equity e do Vanguard LifeStrategy 60% Equity, o Carmignac Portfolio Patrimoine Europe foi o fundo misto moderado mais rentável no último quinquénio. Ganhou 5,69% por ano.
Nos fundos mistos agressivos, que competem com o Vanguard LifeStrategy 80% Equity, o Oddo BHF Exklusiv: Polaris Dynamic destaca-se com uma remuneração anual de 9,97% por ano desde 2018.
Acredito que, no futuro, tal como no passado, poucos fundos mistos tradicionais renderão mais do que os Vanguard LifeStrategy. Penso, todavia, que é muito difícil acertar antecipadamente nos que conseguirão; não é certo que sejam os indicados nos parágrafos anteriores. A melhor opção é, por isso, investir nos produtos passivos da Vanguard.
São extremamente diversificados. Embora invistam apenas em 9 a 14 fundos de índice, cada um desses produtos tem centenas ou milhares de ações ou obrigações. Se se somar todos esses instrumentos, a aquisição de um Vanguard LifeStrategy fornece exposição a 22 mil títulos de todo o mundo. Não conheço fundos de investimento mais diversificados.
Um Vanguard LifeStrategy é uma solução chave-na-mão: compra-se e esquece-se até se precisar do dinheiro. Por 25 cêntimos anuais por cada 100 euros investidos, os gestores da Vanguard têm todo o trabalho de investir nas principais obrigações de todo o mundo e nas ações das maiores empresas do planeta.
Os melhores fundos de ações
Se deseja expor-se completamente aos mercados acionistas, recomendo o investimento num fundo de ações dos mercados desenvolvidos. Evite fundos geográfica ou setorialmente focados: o risco é muito superior.
Se tivesse apostado no setor tecnológico, teria ganhado cerca de 50% em 2023, mas, se tivesse optado pelo setor mineiro, poderia ter perdido cerca de 10%. Se tivesse escolhido um fundo de ações dos Estados Unidos da América, teria recebido uma mais-valia de 21%, mas, se tivesse eleito a China ou a Rússia, teria um prejuízo de 21% ou superior. Menos arriscado: um fundo de ações dos mercados desenvolvidos rendeu cerca de 20% em 2023.
Muitos investidores tropeçam na armadilha do crescimento: pensam que uma expectativa de mais crescimento económico é sinónimo de maiores valorizações futuras. É falso. Por exemplo, os mercados emergentes crescem mais do que os desenvolvidos, mas não tendem a render mais. Dimson, Marsh e Staunton indicam que a rentabilidade real das ações dos mercados emergentes foi de 3,7% por ano entre 1900 e 2022, enquanto, nos mercados desenvolvidos, chegou a 5,1%.
Não recomendo fundos de ações de mercados emergentes nem fundos de ações mundiais que incluam mercados emergentes, porque:
- A valorização bolsista de longo prazo não é superior.
- O impacto da diversificação é reduzido.
- É normalmente mais caro.
- Estão parcialmente assentes em democracias falhadas e ditaduras.
Também não recomendo fundos de ações especialmente focados nos princípios das finanças sustentáveis, responsáveis ou éticas, porque:
- A valorização bolsista não é necessariamente superior.
- Não há homogeneidade nos critérios de sustentabilidade.
- É essencialmente propaganda, como expliquei na passada edição de junho do boletim tlim.
Assim, os critérios que sugiro na busca dos melhores fundos de ações é:
- Produto harmonizado pelas regras europeias.
- Replicação de um índice sobejamente conhecido.
- Carteira composta por ações dos mercados desenvolvidos.
- Replicação física do índice (em vez de através de contratos derivados).
- Dividendos reinvestidos, isto é, exclusivamente fundos de acumulação (por motivos fiscais).
- Taxa de encargos correntes baixa.
- Custo da replicação reduzido.
- Preferencialmente, cotado em euros, mas sem cobertura cambial.
- Adicionalmente, se procurar um fundo cotado:
- Disponível numa bolsa na qual o seu intermediário cobre menos nas transações.
- Grande dimensão e muito negociado para garantir mais liquidez.
O custo da replicação é a diferença entre a rentabilidade do índice e o desempenho histórico do fundo. Em teoria, o custo da replicação tende para a taxa de encargos correntes; significaria que a replicação é perfeita. Há, no entanto, fundos de índice que se desviam do seu barómetro. O ideal é encontrar fundos em que o custo da replicação é nulo ou, mesmo, negativo.
Após usar as ferramentas de pesquisa da Morningstar, da JustETF, da TrackingDifferences e de alguns intermediários financeiros, recomendo dois fundos de ações mundiais: o Fidelity MSCI World Index EUR P Acc, que aconselho desde 2019, e o iShares Core MSCI World UCITS ETF USD (Acc), que faz parte das minhas recomendações desde 2015. (Este último fundo é também o meu maior ativo financeiro há mais de 10 anos.)
| Fidelity MSCI World Index EUR P | iShares Core MSCI World UCITS ETF | |
| ISIN | IE00BYX5NX33 | IE00B4L5Y983 |
| Tipo | Fundo tradicional | Fundo cotado |
| Gestora | Fidelity International | BlackRock |
| Custodiante | Brown Brothers Harriman | State Street |
| Disponibilidade | Banco Best | Bolsas: Xetra (EUNL), Amesterdão (IWDA), entre outras. |
| Encargo de aquisição | 2,08% | Depende do intermediário. |
| Encargo de alienação | Não tem. | |
| Investimento mínimo e reforço mínimo | 1 unidade 9,1875€ | 1 unidade 81,87€ |
| Taxa anual de encargos correntes | 0,12% | 0,20% |
| Rentabilidade de 1 ano | 19,61% | 19,95% |
| Rentabilidade anualizada de 3 anos | 11,03% | 11,19% |
| Rentabilidade anualizada de 5 anos | 13,56% | 13,59% |
| Custo da replicação 5 anos anualizado | 0,04% | -0,01% |
| Indicador de risco 1 = baixo; 7 = alto | 4 | 4 |
O Fidelity MSCI World Index EUR P é a opção mais simples para ganhar exposição aos mercados acionistas mundiais: subscreve-se junto do Banco Best. O iShares Core MSCI World UCITS ETF exige alguns conhecimentos de negociação bolsista: como escolher o melhor intermediário, como transmitir uma ordem de bolsa, como decidir o montante a investir para minimizar as comissões de bolsa, por exemplo.
A única complexidade que pode surgir durante a subscrição do fundo da Fidelity prende-se com a despesa da operação, que é de 2,08% do montante investido através do Banco Best. Divida o montante que tem disponível para aplicar por 1,0208 para descobrir o valor que deve introduzir no campo da subscrição. Assim, se tiver euros, deve indicar um montante a subscrever de 1000,00 euros. A diferença, 20,80 euros, é o encargo de subscrição: 20,00 euros de comissão de subscrição e 0,80 euros de imposto sobre essa comissão. (Este parágrafo é interativo.)
Há uma alternativa ao Fidelity MSCI World Index EUR P e ao iShares Core MSCI World UCITS ETF: o Vanguard Global Stock Index Fund EUR Investor. O encargo de subscrição do Vanguard Global Stock Index Fund EUR Investor no Bankinter é de 0,5% do montante subscrito com um máximo de 150 euros. Não o recomendo, porque:
- Embora também procure espelhar o índice MSCI World, o custo dessa replicação tem sido superior (0,15% por ano nos últimos 5 anos).
- Ao contrário do Banco Best, o Bankinter cobra pela guarda de fundos, 10,46 euros por trimestre.
A taxa de encargos correntes do Vanguard Global Stock Index Fund EUR Investor é de 0,18% por ano.
O melhor fundo imobiliário
Se não estiver na lista dos milionários, dificilmente conseguirá diversificar o património imobiliário por vários tipos de arrendatários, segmentos e regiões geográficas ao investir diretamente em imóveis. Também neste campo, os fundos de investimento são a melhor opção para a maioria dos aforradores.
Há uma dezena de fundos imobiliários portugueses disponíveis para receber o dinheiro dos investidores, mas quase nenhum é uma boa escolha, porque:
São muito caros. As comissões absorvem uma grande fatia dos potenciais retornos. Um exemplo: o AF Portfolio Imobiliário, comercializado pelo Millennium bcp, tem uma comissão de subscrição de até 2% sobre o montante aplicado, uma comissão de resgate de até 5% sobre a poupança reembolsada e os encargos correntes somam 1,43% do património por ano.
São difíceis de resgatar. Na maioria dos fundos imobiliários, os resgates são processados uma ou duas vezes por ano e é preciso fazer o pedido de resgate com seis meses de antecedência. Na prática, os aforradores esperam entre seis meses e um ano e meio para serem reembolsados.
O dinheiro não está todo investido. Muitos fundos imobiliários têm uma porção significativa da carteira que não gera rendas. Mais de um terço dos imóveis do fundo VIP, distribuído pelo Abanca, pelo Banco Carregosa e pelo Banco Montepio, estava devoluto no início de outubro passado. Além disso, quase um sexto do seu património estava aparcado em depósitos bancários.
Rendem pouco. Os 9 fundos imobiliários abertos há mais de uma década ofereceram, em média, retornos reais de 1,12% por ano nesse período. O Valor Prime, disponível no Banco Montepio, rendeu menos do que a inflação em 10 anos.
O CA Património Crescente (ISIN: PTSQUBHM002) é o único fundo imobiliário que escapa a estes defeitos:
É parcialmente económico. Não tem comissão de subscrição e a comissão de resgate é nula após 3 anos de investimento. Os encargos correntes são, todavia, elevados: somam 1,71% dos ativos por ano. Tem ainda uma comissão anual de desempenho de 1%, no máximo.
O reembolso é mais fácil. Após o primeiro ano, em que o resgate não é possível, os subscritores esperam entre dois e quatro meses pelo reembolso.
É o maior. Os imóveis do CA Património Crescente somam quase um quilómetro quadrado de superfície, o dobro da área do Vaticano. Tem mais de 1800 imóveis. A sua dimensão fornece-lhe estabilidade.
Está maioritariamente arrendado. Os imóveis devolutos representam 7% da área total. A carteira está bem diversificada: investe essencialmente em centros comerciais, escritórios, armazéns e hipermercados, mas também em hotéis, hospitais e lojas. Os principais inquilinos são o Crédito Agrícola, a Sonae, a Staples, o grupo Pestana e os supermercados espanhóis Eroski e Dia. Os imóveis localizam-se em Portugal e Espanha.
Foi o mais rentável. Na última década, os subscritores receberam uma rentabilidade de 4,18% por ano. No último quinquénio, ofereceu um retorno de 4,74% por ano.
O fundo Imonegócios, comercializado pelo EuroBic, teve um desempenho superior ao do CA Património Imobiliário nos últimos 5 anos. O seu sobredesempenho foi, todavia, registado exclusivamente em outubro de 2022. Nesse mês, um terreno do Imonegócios localizado junto ao nó da A9 no Zambujal, em Loures, foi reavaliado de 800 mil euros para mais de 7 milhões de euros. É um evento isolado; não é motivo para recomendar este fundo.
A elevada diversificação e estabilidade dos retornos do CA Património Crescente tornam-no numa boa opção para os aforradores que querem diversificar as suas aplicações financeiras, mas não para todos. Este produto é recomendado para quem:
Planeie investir durante mais de 3 anos. Só após 1094 dias de investimento é que não há comissão de resgate. Durante o primeiro ano, a despesa de saída é de 2%; no segundo e no terceiro ano após a subscrição, o encargo é de 1%. É também o período mínimo de investimento que a sociedade gestora recomenda aos participantes.
Não se importe de esperar dois a quatro meses pelo resgate. Este compasso no reembolso é um grande dissuasor para muitos investidores.
Não tenha muita exposição ao imobiliário. A maioria das famílias portuguesas já está exposta ao mercado. Mais imobiliário pode desequilibrar a diversificação patrimonial.
Acredite que o mercado imobiliário é uma boa opção. Há pouca informação sobre o desempenho de longo prazo dos segmentos nos quais o fundo mais investe (comércio e escritórios).
Seja cliente do Crédito Agrícola ou tenha mais de 12 500 euros para investir. A classe B do CA Património Crescente é subscrita exclusivamente junto do Crédito Agrícola. Se já for cliente do grupo, pode subscrever a partir de 25 unidades de participação, que valem agora 526 euros. Se ainda não for cliente do Crédito Agrícola, consegue evitar pagar comissões de manutenção da conta à ordem de suporte ao investimento (15,60 euros por trimestre na conta Standard) se tiver um património superior a 12 500 euros. Posteriormente, os reforços não têm montante mínimo.
Tenho apenas um alerta sobre o CA Património Crescente: os retornos futuros poderão ser inferiores aos do passado mais recente. Nos últimos anos, os subscritores deste fundo foram habituados a ganhos anuais superiores a 4%, mas os encargos dos imóveis na carteira subiram mais depressa do que as rendas recebidas entre 2019 e 2022. Em 2022, 35% das rendas serviram para pagar as despesas correntes e as reparações dos ativos detidos pelo CA Património Crescente.
A Square Asset Management é a entidade gestora do CA Património Crescente e o depositário é a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo.
Com quem deve preocupar-se?
Ao contrário dos seguros financeiros (garantidos pelos balanços das companhias de seguros) e dos depósitos bancários (que fazem parte do passivo dos bancos), os fundos de investimento pertencem exclusivamente aos seus subscritores ou aos seus acionistas.
Mesmo que a firma que gere o seu fundo, a que guarda os ativos do fundo ou a que comercializa as unidades do fundo entre em falência, o fundo de investimento passará incólume. A sua carteira não seria afetada diretamente por essa falência.
Quando o Banco de Portugal resolveu o Banco Espírito Santo, em agosto de 2014, o fundo Espírito Santo Obrigações Europa continuou a ser gerido por Vasco Teles. Chama-se, hoje, GNB Obrigações Europa e mantém-se como um dos melhores fundos de obrigações que podem ser adquiridos em Portugal, apesar dos maus resultados em 2023. (Não faz, contudo, parte das minhas recomendações.)
Alguns subscritores de fundos geridos pela ESAF, a sociedade gestora do Banco Espírito Santo, perderam dinheiro, mas apenas porque algumas carteiras estavam excessivamente expostas a sociedades que compunham o grupo Espírito Santo.
Os fundos de investimentos têm balanços contabilísticos próprios que as sociedades gestoras são obrigadas a publicar frequentemente. Os investidores mais atentos, bem como jornalistas e analistas, perceberam atempadamente os riscos da concentração do grupo Espírito Santo.
Acredito ser agora muito improvável as entidades gestoras ou depositárias executarem fraudes ou atuarem com má-fé ou com negligência na gestão dos fundo de investimento, porque:
É um negócio de confiança. Caso haja suspeita de alguma ilegalidade, os seus clientes abandonarão os seus produtos, via pedidos de resgate e de operações de venda de unidades.
A auditoria é obrigatória. As sociedades gestoras têm de ter um departamento independente de auditoria interna. Adicionalmente, os documentos de prestação de contas são alvo de auditoria externa. O auditor externo, que tem de mudar periodicamente, normalmente não pode ser o mesmo do dono da sociedade gestora.
As operações são supervisionadas. As autoridades responsáveis supervisionam regularmente as atividades das instituições envolvidas na gestão de ativos. Além disso, os auditores externos são obrigados a comunicar aos supervisores as irregularidades que detetarem.
A legislação está mais forte. As regras são agora mais apertadas para as sociedades gestoras, em particular na exposição das carteiras aos grupos económicos.
Foi a transposição da diretiva europeia que limitou a exposição dos fundos de investimento aos títulos emitidos pelo grupo da sociedade gestora, em 2013, que marcou o início do fim do Banco Espírito Santo.
Nas situações em que uma entidade não tenha capacidade financeira para reembolsar ou restituir o dinheiro ou os instrumentos financeiros detidos por investidores, há esquemas independentes de garantia. Em Portugal, é o Sistema de Indemnização aos Investidores, que funciona junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários; protege até 25 mil euros por pessoa.
Noutras nações, os sistemas de compensação podem diferir do português. Os clientes da flatexDegiro, por exemplo, estão protegidos pelo alemão Entschädigungseinrichtung für Wertpapierhandelsunternehmen: podem recuperar até 90% dos seus títulos até 20 mil euros.
Recentemente, o Sistema de Indemnização aos Investidores foi acionado após o Banco de Portugal e o Banco Central Europeu terem revogado as autorizações de atividade à InvestQuest, em 2021, e à Orey Financial, em 2020.
Não conheço situações em que os investidores perderam o acesso a fundos de investimento.
Independentemente do tipo de fundo no qual investe, há sempre duas entidades financeiras envolvidas:
- Sociedade gestora. É quem administra o fundo de investimento.
- Vanguard LifeStrategy: Vanguard Group (Ireland) Limited, uma subsidiária irlandesa da norte-americana Vanguard.
- Fidelity MSCI World Index: FIL Investment Management (Luxembourg) S.A., uma subsidiária da norte-americana Fidelity International.
- iShares Core MSCI World UCITS ETF: BlackRock Asset Management Ireland Limited, uma subsidiária irlandesa da norte-americana BlackRock.
- CA Património Crescente: Square Asset Management.
- Banco depositário. É quem guarda os títulos que pertencem ao fundo de investimento e, indiretamente, aos subscritores.
- Vanguard LifeStrategy e Fidelity MSCI World Index: Brown Brothers Harriman Trustee Services (Ireland) Limited, uma subsidiária irlandesa da norte-americana Brown Brothers Harriman.
- iShares Core MSCI World UCITS ETF: State Street Custodial Services (Ireland) Limited, uma subsidiária irlandesa da norte-americana State Street.
- CA Património Crescente: Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo.
A listagem destas entidades está no documento de informações fundamentais disponibilizado obrigatoriamente aos investidores.
Adicionalmente, há mais uma entidade em que tem de pensar. Se for um fundo tradicional:
- Comercializador. O banco ou a sociedade financeira que distribui o fundo junto dos subscritores.
- Fidelity MSCI World Index: Banco Best.
- CA Património Crescente: Crédito Agrícola.
Se for um fundo cotado:
- Intermediário de bolsa. A entidade que facilita a compra e a venda e custodia as unidades de participação do fundo.
Na última vez que avaliei intermediários de bolsa — em encargos e em segurança —, sugeri os portugueses Banco Best (plataforma Best Trading Pro), Banco Carregosa (GoBulling Pro) e Banco Invest (Invest Online) e a germano-neerlandesa flatexDegiro, que atua a nível pan-europeu com a marca Degiro.
Banco Carregosa, Banco Best, Banco Invest, BlackRock, Brown Brothers Harriman, Crédito Agrícola, Fidelity International, flatexDegiro, Square, State Street, Vanguard: as contas destas entidades são públicas e não vejo motivos para duvidar da sua estabilidade financeira.
A Vanguard é um caso particular: a companhia é detida por fundos que gere, logo os investidores são indiretamente donos da sociedade gestora. Os interesses estão alinhados.
A minha resposta à pergunta desta secção é “ninguém”: se investir nestes fundos, não tem de se preocupar. Além de o património dos fundos estar segregado das sociedades gestoras, depositárias, comercializadoras e corretoras, estas firmas são supervisionadas por bancos centrais e autoridades dos mercados de capitais e as suas contas revelam saúde financeira.
Atribuo uma probabilidade minúscula de se registar fraude, má-fé ou negligência nestes fundos de investimento. É tão baixa que aconselho os leitores do boletim tlim a não se inquietarem.
PPR não são a melhor opção
Os planos de poupança-reforma, que, ao contrário dos fundos anteriores, têm benefícios fiscais, não são uma escolha mais inteligente do que simples fundos de investimento? Normalmente, não.
As vantagens fiscais dos PPR são duas:
Após a subscrição, os aforradores podem deduzir anualmente até 20% do montante aplicado com um limite de até 400 euros. Em 2021, a dedução fiscal média foi, todavia, de 191 euros por agregado familiar.
No resgate, a tributação sobre as mais-valias pode descer até 8% em situações específicas, como na reforma por velhice ou quando o saldo do PPR é usado no pagamento de prestações de crédito com hipoteca para aquisição de habitação própria e permanente, desde que 5 ou mais anos após a subscrição.
Infelizmente, os PPR tendem a ser caros e mal geridos e, logo, pouco rentáveis, o que anula o potencial da componente fiscal.
O BBVA Estratégia Investimento PPR, que investe maioritariamente em fundos acionistas, foi provavelmente o PPR mais rentável nos últimos 5 anos. A sua rentabilidade desde o final de 2018 foi de 5,96% por ano. (Escrevo “provavelmente” porque nem todos as sociedades gestoras publicam informação periódica sobre os seus planos.)
O Vanguard LifeStrategy 80% Equity, cuja exposição acionista mais se aproxima do BBVA Estratégia Investimento PPR, não existia há 5 anos, mas, se tivesse sido lançado nessa altura, a rentabilidade anual teria sido próxima de 9,34%, assumindo os desempenhos históricos dos principais fundos na sua carteira e dos seus índices de referência, bem como os seus encargos. O retorno potencialmente superior provavelmente mais do que compensa a tributação menos atrativa. Além disso, é bastante menos volátil do que o BBVA Estratégia Investimento PPR.
Ao aplicar euros no PPR, pode conseguir uma dedução à coleta de euros, encaixada cerca de meses após a subscrição (depois de submeter a declaração anual de IRS). Se alcançar uma rentabilidade bruta de % por ano no PPR e na dedução recebida, acumulará 3732,29 euros ao fim de anos, assumindo uma tributação a 8% sobre os ganhos do PPR e de 28% sobre as mais-valias alcançadas com o investimento da dedução.
Se, em alternativa, aplicar o mesmo montante num fundo de investimento que renda % por ano ao longo do mesmo prazo, a carteira gerará 4076,84 euros, assumindo uma tributação à taxa efetiva de 28%. É mais do que o alcançado pelo PPR.
Os parágrafos anteriores são interativos: mude os campos sublinhados para analisar a sensibilidade dos retornos às variáveis. Verificará que a vantagem fiscal dos PPR é esbatida ou anulada se incluir uma baixa dedução à coleta ou se a duração do investimento for longa.
Esta comparação é potencialmente injusta: assume a tributação mínima dos PPR (8%) e a máxima dos fundos de investimento (28%). A tributação dos fundos pode ser amenizada, nomeadamente através do englobamento das mais-valias (o que pontualmente compensa) e da eventual aplicação do coeficiente de correção monetária pela autoridade fiscal (quando o investimento dura mais de 2 anos).
Os desempenhos passados não garantem a disparidade futura entre os retornos dos PPR e dos fundos indexados. Contudo, se os PPR continuarem a ser muito mais caros, não há motivos para duvidar que os fundos ficarão à frente nos resultados.
Adicionalmente, os PPR também sofrem da não persistência dos resultados: os melhores agora não serão garantidamente os melhores no futuro. No final de 2018, o Alves Ribeiro PPR/OICVM, conhecido por AR PPR, registou o mais elevado desempenho nos 5 anos anteriores, 6,70% por ano. Agora não está entre os 5 PPR mais rentáveis dos últimos 5 anos.
Se se arrependeu de ter subscrito o seu PPR, pode fazer duas coisas:
- Aproveitar as borlas governamentais para proceder ao resgate.
- Transferir para uma escolha menos má.
As condições legais para o reembolso sem penalizações fiscais a quem beneficiou da dedução à coleta na subscrição são:
- Desemprego de longa duração.
- Incapacidade permanente para o trabalho.
- Doença grave.
- Morte.
- Quando passaram 5 anos ou mais desde a subscrição:
- Reforma por velhice.
- Após os 60 anos.
- Pagamento de prestações de crédito à habitação própria e permanente.
Até ao final de 2024, o Governo autoriza outras situações legais de reembolso. Não é preciso cumprir o mínimo de 5 anos para pagar prestações do crédito à habitação, desde que a subscrição tenha ocorrido até setembro de 2022. O saldo do PPR também pode ser usado na amortização parcial ou total desses créditos até ao limite de 12 222,24 euros. Ao abrigo da Lei n.º 19/2022, revista pela Orçamento do Estado para 2024, pode resgatar-se adicionalmente até 509,26 euros por mês.
O recém-lançado PPR Golden SGF ETF é um candidato a disruptor no mercado dos planos de reforma: tem uma estratégia passiva de investimento em fundos de índice. Porém, não o recomendo, porque:
- Ainda é muito recente. Os administradores da Golden SGF dizem que mexerão pouco na carteira, mas prefiro aguardar para confirmar que a estratégia é realmente passiva.
- Poderia ser mais barato. A taxa anual de encargos correntes deverá absorver perto de 1,4% do património do fundo, incluindo as despesas dos fundos selecionados para a carteira.
- A exposição aos mercados emergentes é elevada. A alocação prevê 18,5% dos ativos aplicados em fundos de ações e de obrigações de mercados emergentes.
- A exposição obrigacionista é agressiva. Os gestores preferem fundos de obrigações de alto risco, o que pode anular parcialmente o efeito estabilizador desse segmento de investimento.
Investimento direto em ações e obrigações
Desaconselho o investimento direto em obrigações: os encargos e os impostos reduzem drasticamente a rentabilidade potencial destes instrumentos, como mostrei detalhadamente na edição anterior do boletim tlim.
Pelos mesmos motivos, tenho também desaconselhado à maioria dos investidores a negociação de ações. Hoje, todavia, tenho dúvidas sobre essa recomendação.
O retorno do investimento direto em ações resulta dos ganhos de capitais (a variação de preço) e dos dividendos distribuídos pelas empresas, subtraídos de eventuais encargos e impostos. Há informações recentes que abalaram as minhas anteriores convicções, incluindo:
O The Wall Street Journal reportou que, em média, os investidores individuais norte-americanos conseguiram bater os índices de referência nos últimos nove anos.
As minhas próprias recomendações continuam a bater os índices. Vejam-se os retornos que apresentei na edição de março de 2023 referentes às carteiras que seguem as estratégias dos gurus de bolsa entre 2015 e 2023, que escrevi no boletim tlim e, antes, no Observador, e as Boas & Baratas da revista Carteira entre 2003 e 2009.
Estou quase convencido de que, em determinadas circunstâncias, é possível pagar menos impostos sobre os dividendos via ações do que através de fundos de investimento. Historicamente, a tributação efetiva dos dividendos recebidos pelo iShares Core MSCI World UCITS ETF e pelo Fidelity MSCI World Index foi de 12% e de 20%, respetivamente, segundo os seus relatórios anuais.
Ao abrigo do artigo 40.º-A do Código do IRS, é possível, no entanto, apenas declarar metade dos dividendos recebidos de algumas empresas europeias, o que talvez coloque a tributação efetiva desses dividendos em percentagens inferiores.
A minha experiência fiscal nos investimentos revela que a taxa de IRS de 28% sobre os investimentos não é obrigatória. Graças ao englobamento dos rendimentos, calculo que a minha taxa efetiva sobre as mais-valias que registei em 2023 seja de 4,2%. É, porém, um caso extremo, porque não tenho outros rendimentos que não sejam dos investimentos; será dificilmente replicável pelos leitores deste boletim.
As vantagens e as desvantagens do investimento direto em ações merecerá uma análise muito mais profunda numa futura edição do boletim tlim. Por isso, este “Onde investir em 2024” não inclui recomendações de ações individuais.
As melhores opções de baixo risco
As aplicações de risco reduzido devem almejar a uma única coisa: oferecer um retorno real positivo, isto é, render mais do que o que se espera que a inflação roube ao poder de compra da poupança.
Os principais organismos económicos nacionais e internacionais calculam que a inflação seja próxima de 3% em 2024. O Banco de Portugal, o mais recente a rever as suas previsões, aponta para 2,9%. Assumindo uma tributação de 28% sobre os ganhos, a sua aplicação de baixo risco deveria propor uma taxa de rendimento superior a 4% em 2024.
| Banco | Depósito | Taxa anual nominal bruta | Prazo | Montante |
| Bankinter | BK Mini | 5,00% | 12 meses | 100€ a 1000€ |
| Bankinter | Conta Broker | 5,00% | não aplicável | até 10 000€ |
| Bankinter | Conta Mais Ordenado | 1.º ano: 5,00% 2.º ano: 2,00% | não aplicável | até 10 000€ |
| Novobanco | Conta 100% Dupla Vantagem | 5,00% | não aplicável | até 1000€ |
| Novobanco | Conta 360º Dupla Vantagem | 5,00% | não aplicável | até 2500€ |
| BiG | Super Depósito | 4,25% | 3 meses | 5000€ a 50 000€ |
| Haitong Bank | Depósito a Prazo HB sem mobilização | 4,15% | 720 dias | informação não disponível |
| Banco Português de Gestão | bpg save | 4,10% | 365 dias | 5000€ a 250 000€ |
| BAI Europa | Depósito Novos Clientes | 4,00% | 180 dias | 2500€ a 100 000€ |
| Banco Best | Depósito Novos Clientes | 4,00% | 180 dias | 2500€ a 75 000€ |
| Banco Português de Gestão | bpg start | 4,00% | 92 dias | 2500€ a 100 000€ |
| Bankinter | Depósito Net Boas Vindas | 4,00% | 4 meses | a partir de 10 000€ |
| Bison Bank | Bison Rendimento Premium | 4,00% | 12 meses | 25 000€ a 100 000€ |
| BiG | Super Depósito | 4,00% | 6 meses | 2500€ a 75 000€ |
| BNI Europa | BNI Europa 183 Dias — Não Mobilizável | 4,00% | 183 dias | a partir de 2500€ |
| BNI Europa | BNI Europa 366 Dias — Não Mobilizável | 4,00% | 366 dias | a partir de 2500€ |
| Haitong Bank | Depósito a Prazo HB | 4,00% | 720 dias | informação não disponível |
A maioria dos depósitos no quadro anterior não são boas escolhas. Muitos têm exigências que são difíceis de satisfazer: o BK Mini é apenas para crianças e a Conta Broker exige que faça muitas operações de bolsa. Outros são aplicações promocionais que não se podem repetir: os Super Depósitos do BiG e os Depósitos Novos Clientes do BAI Europa e do Banco Best, por exemplo. Também é possível que os depósitos tenham encargos implícitos: as Contas 100% Dupla Vantagem e 360º Dupla Vantagem do Novobanco têm encargos mensais; para aceder aos depósitos a prazo do Banco Português de Gestão é preciso pagar mensalmente pela conta à ordem de suporte. Às vezes, as despesas são ridiculamente elevadas: o Bison Bank cobra 175 euros por trimestre.
Se ainda não beneficiou da Conta Mais Ordenado do Bankinter, recomendo-lhe que o faça se tiver até 10 mil euros para aplicar e se reunir as condições para ganhar 5% no primeiro ano e 2% no segundo ano: receber transferências de 800 euros em 2 meses por trimestre, pelo menos, concretizar 5 operações com cartão de crédito por semestre e não ter crédito à habitação associado a essa conta. Um saldo de 10 mil euros ou superior rende 366 euros no primeiro ano e 146 euros no segundo.
Em alternativa, se tiver mais de 5000 euros para aplicar durante 2024, os melhores depósitos são os do BNI Europa, porque, a partir desse montante, o banco não cobra o encargo mensal de manutenção da conta à ordem de suporte, de 2,60 euros. O depósito BNI Europa 366 Dias — Não Mobilizável renderá 292,80 euros com 10 mil euros.
Independentemente do banco que escolher para os seus depósitos, não aplique mais de 100 mil euros por titular. É esse o montante protegido pelo Fundo de Garantia de Depósitos ou pelo Fondo de Garantía de Depósitos de Entidades de Crédito, no caso de instituições espanholas, como o Bankinter.
E se quiser uma aplicação de baixo risco que vá além de 2024? Se tiver mais de 5000 euros, recomendo-lhe os depósitos do BNI Europa que permitem a mobilização antecipada: a taxa de juro é de 3,75% a 24 meses, de 3,75% a 36 meses, de 3,25% a 4 anos e de 3% a 5 anos.
Para aplicar durante aproximadamente 5 anos, há uma alternativa: o iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp UCITS ETF EUR (Acc). É um fundo de obrigações de prazo definido.
| ISIN | IE0008UEVOE0 |
| Tipo | Fundo cotado |
| Gestora | BlackRock |
| Custodiante | State Street |
| Taxa anual de encargos correntes | 0,12% |
| Rentabilidade anual até à maturidade na carteira | 3,15% |
| Tempo médio para vencimento na carteira | 4,48 anos |
| Bolsas | Milão, Paris, Xetra |
Este fundo investe exclusivamente em emissões obrigacionistas de baixo risco (rating BBB ou superior) que se vencem em 2028. Resumidamente, o processo de investimento é o seguinte:
O investidor compra o fundo.
O fundo é composto exclusivamente por obrigações de baixo risco de de empresas, em euros, que se vencem em 2028.
Nesse ano, à medida que as obrigações são reembolsadas, são substituídas por títulos de curto prazo dos tesouros alemão e francês. Nos últimos meses, o dinheiro do fundo fica disponível em caixa.
Se o investidor não vender as suas unidades até ao último dia do ano, a sociedade gestora reembolsa-o pelo valor contabilístico dos títulos e retira o fundo da bolsa no primeiro dia do ano seguinte.
Após a venda ou o reembolso, o investidor tem de declarar a mais-valia ao fisco.
A BlackRock, a sociedade gestora, publica diariamente a taxa média de rentabilidade até à maturidade das obrigações na carteira do fundo, bem como o tempo médio para o vencimento, para permitir aos investidores saberem aproximadamente quanto ganharão com o investimento. Aliás, o simulador na página oficial do iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp indica que a sua rentabilidade anual estimada é de 3,03% até ao vencimento. Esse número assume a aquisição das unidades do fundo ao valor patrimonial, os encargos do produto e a manutenção até ao final de 2028.
Aos contrário dos rendimentos dos depósitos a prazo, que são alvo de retenção na fonte, os ganhos do iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp são mais-valias: a tributação é feita após a submissão da declaração anual de IRS. Assumindo a rentabilidade anual estimada pela BlackRock, uma tributação à taxa de 28% em meados de 2029 e que o encargo bolsista na compra e na venda (ou reembolso) é de 10 euros, a rentabilidade anual líquida de investir 5000 euros no iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp será de 2,20% por ano, o que é superior à rentabilidade anual líquida do depósito a 5 anos do BNI Europa, de 2,10%.
A rentabilidade anual líquida de 2,20% é apenas uma aproximação: os detentores de unidades do iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp podem vender os seus títulos antes do vencimento, mas esse retorno aproximado é apenas válido perto da maturidade do produto.
Se considerar ser complicado abrir uma nova conta bancária para aceder aos melhores depósitos a prazo ou investir na bolsa para conseguir retornos mais elevados ou se deseja uma aplicação ainda menos arriscada, subscreva Certificados de Aforro.
Os Certificados de Aforro são títulos garantidos pela República Portuguesa cuja remuneração funciona da seguinte forma:
- A taxa de juro é equivalente à Euribor a 3 meses (média dos 10 dias úteis anteriores ao antepenúltimo dia útil do mês anterior); não pode ser negativa nem superior a 2,5%.
- Se subscrever neste mês de janeiro, receberá uma taxa anual bruta de 2,50% nos primeiros 3 meses.
- Trimestralmente, a taxa de juro é atualizada, mantendo-se a fórmula de cálculo.
- No segundo, terceiro, quarto e quinto anos, a taxa de juro recebe um prémio de 0,25 pontos percentuais.
- No sexto, sétimo, oitavo e novo anos, o prémio é de 0,5 pontos percentuais.
- No décimo e décimo primeiro anos, o prémio é de 1 ponto percentual.
- No décimo segundo e no décimo terceiro anos, o prémio é de 1,5 pontos percentuais.
- No décimo quarto e no décimo quinto anos, o prémio é de 1,75 pontos percentuais.
Se a Euribor a 3 meses estabilizar em % (o que não acontecerá), um subscritor que invista agora euros em Certificados de Aforro durante anos receberá 1101,80 euros em capital e juros. A sua rentabilidade líquida de impostos seria de 1,96% por ano, assumindo uma taxa de tributação de 28%. (Este parágrafo é interativo.)
A Euribor a 3 meses, recentemente nos 3,909%, está acima do valor que maximiza o retorno dos Certificados de Aforro, 2,50%. Se permanecer nesse nível ou acima durante uma década, a rentabilidade líquida desta aplicação será de 2,10% por ano.
Os Certificados de Aforro podem ser subscritos através do AforroNet, a plataforma da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, e em alguns balcões dos CTT e Espaços Cidadão. A aplicação mínima é de 100 euros.
O resgate dos Certificados de Aforro pode ser pedido em qualquer altura após os três primeiros meses. Recebe-se o valor investido acrescido dos juros capitalizados, mas perdem-se os juros corridos desde o último pagamento. Se não se solicitar o resgate até ao décimo quinto aniversário, é efetuado o reembolso nessa data por transferência para a conta bancária do subscritor.
Resumo
Neste artigo, recomendei os seguintes instrumentos:
- Comprar o Vanguard LifeStrategy 20% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating (preço: 23,255€).
- Comprar o Vanguard LifeStrategy 40% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating (preço: 25,415€).
- Comprar o Vanguard LifeStrategy 60% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating (preço: 27,875€).
- Comprar o Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating (preço: 30,575€).
- Subscrever o Fidelity MSCI World Index EUR P Acc (preço: 9,1875€).
- Comprar o iShares Core MSCI World UCITS ETF USD (Acc) (preço: 81,87€).
- Subscrever o CA Património Crescente — B (preço: 21,0401€).
- Constituir a Conta Mais Ordenado do Bankinter.
- Constituir depósitos a prazo no BNI Europa.
- Comprar o iShares iBonds Dec 2028 Term € Corp UCITS ETF EUR (Acc) (preço 5,26€).
- Subscrever Certificados de Aforro.
A minha principal recomendação é investir no fundo Vanguard LifeStrategy que mais se concilia com o seu conforto perante a volatilidade. Essa aplicação pode ser complementada com Certificados de Aforro na componente da sua carteira que planeia resgatar no curto ou no médio prazo.
Se não se sente confortável a negociar na bolsa, combine o Fidelity MSCI World Index EUR P — através de uma Conta Digital no Banco Best (gratuita nos principais serviços; dispense os cartões bancários) — com Certificados de Aforro. A proporção do património no fundo de investimento deve respeitar a sua capacidade de aguentar os altos e baixos da carteira.
Um fundo e, opcionalmente, Certificados de Aforro é a estratégia mais descomplicada que muitos aforradores podem adotar. A simplicidade ainda é o segredo dos investimentos. ★